Secretário de Educação de SP diz que é possível manter escolas abertas na fase vermelha

Rossieli Soares concedeu entrevista exclusiva para A Tribuna e falou sobre retomada das aulas e vacinação dos profissionais da educação

Por: Tatiane Calixto  -  12/04/21  -  10:21
Secretário diz que impactos na alfabetização já estão sendo sentidos
Secretário diz que impactos na alfabetização já estão sendo sentidos   Foto: Divulgação/Governo de SP

Em entrevista para A Tribuna, o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, afirma que nesta semana já começa a discutir com representantes da Saúde possíveis datas para o avanço da imunização dos profissionais da Educação. Acelerar este processo, segundo ele, é importante para as aulas presenciais, porém, garante que hoje há a convicção de que é possível abrir as escolas ainda que nas fases mais restritivas. Conforme o secretário, impactos na alfabetização já estão sendo sentidos e estudos apontam que podem ser necessários até quatro anos para recuperar perdas no aprendizado. Na opinião de Rossieli, os impactos psicológicos nos alunos, por conta do afastamento das salas de aula, estão recebendo pouca atenção por parte da sociedade.


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A vacinação dos profissionais da Educação foi antecipada e prevê a aplicação de 350 mil doses em trabalhadores acima de 47 anos. Essas doses são suficientes para atender exatamente quais funcionários desta faixa etária? Esse número é suficiente para imunizar todos nas funções previstas e na ativa.
Nesse momento, por exemplo, os motoristas de transporte escolar ainda não serão convocados. Nosso foco está nas atividades dentro das escolas: professores, diretores, pessoal de limpeza. Os trabalhadores da ponta. Existem escolas em que os supervisores precisam ir de escola em escola, então, é esse público o nosso foco.

Já existe alguma data para que uma nova faixa de profissionais da Educação seja imunizada?
Nesta semana vamos conversas com os representantes da Saúde para acompanhar as entregas de vacinas e discutir a imunização de uma nova faixa etária da Educação. Mas o que não podemos é parar a vacinação geral por idade. Tem que ser um trabalho que aconteça simultaneamente. Ainda não temos uma data, mas discutiremos isso esta semana.


Como o início da vacinação dos profissionais de Educação altera o planejamento de retomada das atividades presenciais?
Voltaremos com os cuidados e fases como no ano passado. O impacto da vacinação nessa retomada não é a curto prazo. Ainda temos que esperar a segunda dose nesta faixa etária e o avanço para outras idades. Porém, o importante é que estamos falando de um processo no qual os professores seriam vacinados em setembro, agosto e, agora, falamos: “começa em abril”.

Entidades que representam professores tinham conseguido na Justiça que os docentes não fossem convocados para as aulas presenciais na fase vermelha do Plano São Paulo. Como está esta situação?
Hoje, não existe nenhum impedimento judicial e as aulas retomam na quarta (na rede estadual).


Como será essa retomada?
Nas fases vermelha e laranja, a retomada é facultativa às famílias e a prioridade é para quem mais precisa. Estamos pedindo para priorizar as crianças em processo de alfabetização e os mais vulneráveis, aqueles que têm necessidade de se alimentar na escola ou que tenham dificuldades de acesso à tecnologia ou defasagem no aprendizado.


A Educação já teve a experiência de atividades presenciais com revezamento. Qual foi o impacto e quais os dados de contaminação pelo novo coronavírus neste período?
Começamos as primeiras atividades presenciais em 8 de setembro. Um estudo da Universidade de Zurique em São Paulo mostrou que o impacto da retomada na pandemia foi zero. As escolas, com protocolos e orientações, ajudam a barrar as contaminações. Hoje, temos a plena convicção de que é possível manter escolas abertas mesmo na fase vermelha.


Estudos e entidades médicas vêm apontando que as crianças transmitem menos a covid-19 e desenvolvem quadros menos graves. Mas temos na escola o professor, a merendeira, o pessoal da limpeza.
A criança não é o vetor de transmissão. Os poucos casos que tivemos foi porque não se cumpriu o protocolo. Veja, tivemos um caso em que três professores se contaminaram em uma escola. Na investigação do caso, vimos que eles pegaram carona e, dentro do carro, tiraram as máscaras.


Mas não há como dizer que todos casos e os óbitos não foram consequência das atividades presenciais. Os profissionais alegam que para chegar à escola, por exemplo, precisam pegar o transporte público cheio, falam das condições...
Não há como dizer, assim como não há como dizer que os jornalistas pegaram por conta do jornal. É preciso ter e seguir os protocolos. Hoje temos protocolos, escalonamento de serviços até para diminuir o fluxo no transporte coletivo. É interessante observar que nas cidades que estouraram de casos, nenhuma estava com escolas abertas. O ABC não teve atividade presencial nas escolas e eles tiveram dias dificílimos.

Em outra oportunidade em que conversamos, o senhor havia falado dos impactos causados pela interrupção de aulas na época da H1N1. O período de impacto da covid-19 foi bem maior. A secretaria já tem algum estudo que mostre o impacto deste período na educação e também na questão da saúde mental dos alunos?
Temos alguns estudos e estamos concluindo uma avaliação de aprendizagem. O que já percebemos é que costumávamos ter a alfabetização de 53% das crianças no final do 1º ano e, hoje, isso caiu para 21%. As desigualdades vão aumentar, principalmente, para os estudantes com menos acesso à tecnologia e aqueles com maior dificuldade no aprendizado. É um drama para a Educação. Estudos falam em perdas pedagógicas de quatro anos.


Paralelamente aos atendimentos imediatos que a pandemia exige, o que está sendo feito e planejado para minimizar essas perdas?
É um trabalho diário. Estamos discutindo isso e pensando em um processo de recuperação que deve durar 2 anos. Fora isso, um processo de acolhimento desde o projeto Psicólogos da Educação até outras ações. Materiais: todos repensados já para esse e o próximo ano. Ainda assim, teremos desafios brutais.
Como a tecnologia, utilizada e desenvolvida agora, vai ajudar a Educação no pós-pandemia?
Fora tudo de ruim que essa pandemia trouxe, e foi muito, o uso da tecnologia foi algo positivo. No início, houve um medo da tecnologia substituir o professor. E claro que isso não aconteceu. A tecnologia deu suporte ao professor. Havia medo de perder emprego. A verdade é que nós tivemos, inclusive, que contratar profissionais só para apoiar professores e alunos em formação e uso da tecnologia. Além disso, os professores se reinventaram e passaram por um processo de aprendizagem muito importante.


Mesmo com a vacinação, é bem provável que o ensino híbrido e a adoção de protocolos sanitários durem por mais tempo, exigindo, inclusive, estrutura física das escolas. Nesse período de ensino remoto, houve melhoria e adaptações na estrutura das unidades? Por exemplo: garantir ventilação nas salas? Quanto foi investido nisso?
Antes da pandemia, já percebemos essa necessidade. Quando eu assumi, as escolas tinham lousa de giz. Hoje, há quadro branco em quase todas. Parece pouco, mas para o dia a dia das aulas, não é. Compramos TV e computador para as salas e temos financiado a compra de equipamentos para os docentes.


Mas em relação à estrutura física das escolas, até por conta da covid, como a estrutura dos banheiros e ventilação que é uma reclamação da comunidade escolar?
A orientação é para que todas as escolas façam essas adaptações. Estamos investindo muito mais nisso por meio do PDDE (Programa Dinheiro Direto na Escola), cujo primeiro repasse foi feito ainda em 2019. E são melhorias neste sentido mesmo de ventilação e até repasses específicos para melhoria contra a covid. Tenho escola que tinha o fechamento de janelas com solda. Aí, não é possível abrir e fechar. Então, orientamos que as escolas fizessem melhorias e os repasses aumentaram neste sentido.


Como o senhor imagina os próximos meses para a Educação?
Estamos dando um passo de cada vez, mas estamos olhando pouco para os casos de suicídio, crianças sofrendo violência nesse período de ensino remoto. Isso porque a escola é um local de proteção. Temos que acelerar a imunização dos nossos colaboradores para acelerar uma volta constante e ajudar, inclusive, nesse sentido. Mas iniciamos a vacinação e estou muito esperançoso.


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