'Síndrome de Down nunca foi limite', diz irmã de Guti, figura conhecida em São Vicente

Deficiente é conhecido por ‘trabalhar’ em comércio vicentino, localizado no Centro da cidade

Por: Yasmin Vilar & De A Tribuna On-line &  -  24/03/19  -  21:05
  Foto: Arquivo Pessoal/ Regina Iguinato

A rotina começa todas as manhãs com o anúncio a família de que está indo trabalhar. O carrinho de supermercado é o companheiro para sair do bairro Catiapoã, onde mora, até o Centro de São Vicente, atravessando sozinho ruas e avenidas. Com Síndrome de Down, Edilson Severino Silvestre, o Guti, de 48 anos, é “figurinha carimbada” na cidade.


As visitas frequentes aos comércios da região iniciaram após sua saída da APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), onde estudava até cerca dos 30 anos. “De férias”, Guti achou uma nova distração e as amizades que fez com os lojistas serviram de motivação para sair de casa todos os dias. “Andar no Centro com ele é uma loucura. Em todos os cantos somos parados e ele cumprimenta todas as pessoas. Quando é mulher, faz questão de dar beijo no rosto”, conta a irmã e tutora de Guti, Regina Iguinato, de 59 anos. Além disso, Guti tem um bordão por dizer “fala boy” a todos que cruzam seu caminho.


No Centro, ele ajuda em alguns comércios, trabalhando voluntariamente e ajudando em algumas tarefas. Considerado como o “mascote” de sete irmãos, Regina explica que Guti “só se tornou quem é porque foi criado livre”. Brincadeiras na rua, futebol e demais atividades sempre fizeram parte da rotina do menino. Já a sua marca, o carrinho de supermercado, é um hábito da infância, pois sempre gostou de andar empurrando o item.


A autonomia para andar sozinho também é válida durante os fins de semana. Antes, Guti ia “religiosamente” a igreja aos finais de semana, mas a atividade foi trocada pela música. Com o pandeiro em mãos e o carrinho de supermercado, ele vai andando até os quiosques próximos a Ilha Porchat para participar de rodas de pagode todos os domingos, já que detesta andar de ônibus.


“O Guti sempre foi tratado como uma pessoa normal e foi uma criança abençoada. Teve uma infância como todos os outros homens da família e essa liberdade foi fundamental para que crescesse. Ficamos orgulhosos quando ele vai trabalhar e volta cansado, mas feliz. É a alegria da família”, comenta Regina. 


A tutora conta que a família não sente medo dessa autonomia dele sair sozinho para todos os cantos, mas que já passaram por alguns sustos. Com catarata em um dos olhos, ele possui uma visão debilitada, assim seu carrinho de supermercado serve como se fosse uma bengala para deficientes visuais. “Uma vez nos ligaram do supermercado para avisar que o Guti estava parado na linha do VLT. O trem parou bem em cima e um acidente quase aconteceu”, relata Regina. De acordo com a irmã, impedir suas saídas seria como “tirar sua vida”.


Guti ficou conhecido por frequentar diariamente centro comercial após saída da APAE
Guti ficou conhecido por frequentar diariamente centro comercial após saída da APAE   Foto: Arquivo Pessoal/ Regina Iguinato

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