Produtor e cantor, Tony Bizarro relembra carreira e amizade com Tim Maia: 'Canto com a alma'

Aos 71 anos, músico foi diagnosticado com Mal de Alzheimer e vive em asilo em São Vicente

Por: Yasmin Vilar & De A Tribuna On-line &  -  30/04/19  -  16:10
  Foto: Yasmin Vilar/AT

As mãos trêmulas ainda arriscam alguns acordes em um violão antigo, companheiro de estrada nos tempos em que um ritmo musical americano tocava nas rádios brasileiras. Com 71 anos recém-completos, o cantor e produtor musical Tony Bizarro relembra os sucessos e a trajetória ao lado de artistas da música nacional, especialmente do amigo Tim Maia. “Quando canto, canto com a alma. Por isso escolhi a soul music”, diz.


Tony Bizarro se aposentou dos palcos e, hoje, descansa no Lar Vicentino, em São Vicente. Mas nem o mal de Parkinson ou o Alzheimer foram capazes de apagar de sua memória os 40 anos como artista.


A carreira de Luiz Antônio Bizarro iniciou no rock, mas foi o ritmo que nasceu do rythm and blues que o conquistou. Ele começou em 1968, ao lado do amigo Frankye Arduini, formando a dupla ‘Tony & Frankye’. "Ele era meu irmão, se eu tivesse um biológico não seria tão amigo quanto ele", comenta. Foi observando o colega de dupla que o cantor aprendeu a dar os primeiros acordes, assim foi dominando o violão, o contrabaixo e a guitarra.


Seu primeiro contato com o soul e o funk surgiu por intermédio de outro amigo, Tim Maia, que conheceu o estilo musical em suas viagens aos Estados Unidos. A partir daí, o passaporte do produtor ganhou o selo americano e uma trilha sonora diferenciada. Entre as idas para realizar gravações, Tony conheceu artistas americanos como Prince. "Foi ele quem me convenceu de que o meu som não era rock, e sim o soul", lembra.



Um dos favoritos do músico, o LP 'Nesse Inverno' foi lançado em 1977 (Foto: Reprodução/YouTube)

A doença o fez parar no tempo e falar do amigo Tim Maia como se os encontros ainda acontecessem. “O Tim é complicado e se acha melhor que todos. Até hoje, quando a gente se encontra, sai faísca. Somos amigos, mas temos desentendimentos. Com ele, meu assunto é música".


A música romântica com uma batida mais ‘envolvente’ era novidade nas décadas de 70 e 80. “Sempre gostei mais da música romântica. Vim de uma família italiana, e as músicas que costumávamos ouvir eram desse estilo”. Bizarro lembra que letras como a da canção "Nesse Inverno" faziam o cantor "sair de cada show com uma namorada diferente", brinca.


Quanto aos shows, os olhos do artista brilham ao lembrar uma apresentação realizada no Estádio Palestra Itália. O espetáculo reuniu mais de 12 mil pessoas, o que para Tony já era algo “grandioso”. Ele fala que, ao entrar no palco, sentiu a euforia do público, e que aquele "foi o melhor show de todos". Além disso, participações em programas como Chacrinha e Raul Gil faziam parte da rotina do artista.


Apesar da experiência em cima dos palcos, são os bastidores que o fazem se sentir em casa. A produção de álbuns junto a artistas como Zé Ramalho, Sidney Magal, Odair José e Diana estão entre seus trabalhos. “Sempre gostei mais de produzir, por fazer os outros cantarem, e cantar sempre foi muito arriscado. Como produtor, você cria a carreira e produz os arranjos. Ver o que você criou pronto é sensacional”.


Yara Bizarro acompanhou carreira de irmão e conta sobre diagnóstico
Yara Bizarro acompanhou carreira de irmão e conta sobre diagnóstico   Foto: Arquivo Pessoal/ Yara Bizarro

Família


A irmã de Tony, Yara Bizarro, relata que os problemas de saúde do músico apareceram há cerca de 13 anos. O produtor precisou realizar uma cirurgia no coração, que depois de dez anos teve de ser refeita. Ela lembra que acreditavam que o procedimento seria tranquilo, mas que o irmão apresentou os primeiros sintomas, como ‘confusão’, após a operação, que durou cerca de 12 horas e fez Tony quase morrer três vezes em cima da mesa de cirurgia.


Yara conta que, durante esses anos, o irmão foi diagnosticado com Alzheimer, mas que a doença não o impediu de realizar seu último show em fevereiro deste ano, quando cantou na capital paulista. Em dois meses, seu quadro agravou, e o cantor ficou mais “caidinho”, segundo ela.


“Uma coisa que sempre diz é que ele pode até não andar direito, ou estar cansado, mas que se tiver que cantar, ele canta, já que é a única coisa que ele gosta de fazer”, finaliza.


Logo A Tribuna
Newsletter