Ponte dos Barreiros: Discurso metropolitano empaca

Problemas como o de São Vicente mostram que ainda há muita dificuldade para se buscar soluções conjuntas

Por: Rafael Motta & Da Redação &  -  30/12/19  -  16:19
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

As idas e vindas até o Governo Federal confirmar o custeio da reforma da Ponte dos Barreiros, em São Vicente, puseram à prova o chamado discurso metropolitano na Baixada Santista: aquele segundo o qual um problema de uma cidade tem — ou pode ter — impacto em municípios vizinhos e requer saídas conjuntas.


O resultado prático da questão da ponte desmentiu a teoria. Ganhou destaque a ideia do prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB), de que os municípios abdicassem de sua parte no Fundo de Desenvolvimento Metropolitano, um banco para projetos regionais. Exceto pela administração vicentina, nenhuma aceitou ou prometeu abrir mão de sua cota.


Agora que está chegando mais um ano eleitoral, prefeitos que não poderão tentar outro mandato afirmam que os futuros candidatos deverão considerar a metropolização uma realidade e, se eleitos, pensar de forma coletiva. O problema, como parte deles próprios admite, é que esse pensamento ainda não ecoa nem dá votos: o cidadão quer saber de seu quintal.


Mourão mesmo, que caminha para o fim de seu quinto mandato não consecutivo, considera que a “falta de conhecimento da coisa pública pela sociedade” explica essa postura popular mais bairrista. “Fica difícil fazer só esse discurso [regionalizado], mas acho que, mostrando exemplos de ações necessárias de fazer em conjunto na região, ela vai entender”, pensa.


Problemas comuns


"No mundo ideal, seria isso mesmo. Até porque os problemas da região, cada vez mais, têm sido metropolizados. A população mais pobre tem migrado para as periferias: Área Continental de São Vicente, Vicente de Carvalho [em Guarujá]”, exemplifica o cientista político Rafael Moreira. Tráfego entre cidades, transporte coletivo e poluição, diz, deveriam ser avaliados.


O discurso metropolitano é “sempre uma ideia simpática, mas, do ponto de vista do eleitorado, talvez não haja muita preocupação com isso. Com crise econômica, desemprego, baixa qualidade de serviços em algumas cidades, acho que os prefeitos e candidatos, muito provavelmente, estarão mais focados nessas questões”, observa a cientista política Clara Versiani.


Votando em si


Também cientista político, Marcelo Di Giuseppe é direto: “O eleitor vota nele: em quem vai resolver o problema dele, da rua dele, da escola do filho dele, da saúde dele. Como o eleitor é egoísta, isso reflete na campanha política. Fazer campanha falando em metropolização pode, até, ser contra ele. [O aspecto regional] Não fica em segundo plano, mas em último. [O candidato] Vai se preocupar com o quintal dele”.


“Nós temos que ser realistas”, analisa o cientista político Alcindo Gonçalves, coordenador do Instituto de Pesquisas A Tribuna (IPAT).


“Embora eu considere que é importante os candidatos todos assumirem esse compromisso, não me parece que o discurso metropolitano vá causar algum diferencial significativo no eleitorado. Mesmo assim, acho que a questão metropolitana é importante e deve ser tratada por todos”, complementa.


União?


Faz 60 anos que se começoua falar na metropolização da Baixada Santista. A ideia partiude Sílvio Fernandes Lopes, então prefeito de Santos. Era outra realidade: as cidades de Mongaguáe Peruíbe, antes pertencentes a Itanhaém, haviam se emancipado naquele ano. Praia Grandese desmembraria de São Vicenteem 1967 e Bertioga deixaria de fazer parte de Santos em 1991.Mas já se considerava a integração necessária.


O assunto seria retomado nas décadas seguintes, sem consenso. Apenas em1996 o governo estadual criaria, oficialmente, a Região Metropolitana da Baixada Santista, cujas discussões ocorreriamno Condesb. O estado sempre prevaleceu no órgão, pois tem direito a 50% do poder de decisão.


A outra metade cabe às nove cidades, historicamente alinhadas, mas não de forma unânime, ao Palácio dos Bandeirantes. Em 2018, na reprodução doembate que ocorreria entre oentão governador MárcioFrança (PSB) e o pré-candidatodo PSDB ao cargo, João Doria, elegeu-se o prefeito vicentino, Pedro Gouvêa (MDB, cunhado do governador), à presidência do Condesb.


Doria, porém, ganhouo pleito, e o atual presidente,Luiz Maurício (PSDB, prefeito de Peruíbe), está à frente do órgão.Na última reunião de 2019 no Condesb, no dia 19, Maurício e Alberto Mourão — de Praia Grande, que no ano anterior coordenou a campanha de Doria na região — eram os únicos prefeitos presentes.


Prefeitos afirmam que regionalização é fato


Os três prefeitos da região que estão completando seu segundo mandato já presidiram o Conselho de Desenvolvimento da Baixada Santista (Condesb). Paulo Alexandre Barbosa (PSDB) administra Santos, maior cidade local, e julga que “metropolização não é uma escolha, é uma realidade”. Sobretudo, na Saúde.


Barbosa destaca o trabalho no Complexo Hospitalar dos Estivadores para dizer que, dos 6,6 mil partos realizados ali, metade foi de pacientes de fora da Cidade. “O mesmo acontece nas unidades de Pronto Atendimento, as UPAs”, e também há procura externa por Educação e Assistência Social, diz o tucano.


Marco Aurélio Gomes, prefeito de Itanhaém e também do PSDB, lembra que outro assunto regional é o destino do lixo. Seis das nove cidades da região o depositam no Aterro Sanitário Sítio das Neves, na Área Continental santista. Os resíduos itanhaenses, porém, viajam mais de 100 quilômetros, até Mauá (SP).


“Entre coleta, transporte, transbordo e destinação final, quase 40% do que tenho de despesa é para levar (lixo) para fora”, calcula. “Hoje, todo mundo (na região) paga uma fortuna e não temos uma solução adequada. A gente, talvez por questões políticas, teve um pouquinho de problema, mas é o caminho”.


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