'Percebi que as pessoas não conseguem ver os políticos no cotidiano da Cidade', analisa Kayo Amado

Prefeito eleito de São Vicente, Kayo Amado conta como trabalhará pelo futuro da cidade

Por: Sandro Thadeu  -  31/12/20  -  22:00
Prefeito eleito de São Vicente, Kayo Amado conta como trabalhará pelo futuro da cidade
Prefeito eleito de São Vicente, Kayo Amado conta como trabalhará pelo futuro da cidade   Foto: Matheus Tagé/AT

O mais jovem prefeito eleito na Baixada Santista, nestas eleições, avalia esse perfil como uma oportunidade à Cidade de abertura a novas visões de mundo. Nesse aspecto, tem a intenção de modernizar a gestão de São Vicente, começando por otimizar a organização interna entre secretarias e departamentos. A partir daí, tem planos para desenvolver o Turismo, aproveitando o lastro histórico da Cidade, e desenvolver o comércio, oferecendo a infraestrutura necessária. E afirma que deseja resgatar o orgulho do vicentino, por sua cidade. 


Você tem 29 anos. Na sua avaliação, é um fator complicador ou a juventude vai ajudar a gerir a Cidade?
Vejo como uma oportunidade para a Cidade, de ter uma abertura para novas visões de mundo, à nova geração que busca participar da política. Apesar de jovem, tenho mais de 10 anos me preparando. Frequentei muitos espaços de administração e gestão. Tive contato com lideranças que hoje estão em posições chave de governo. Isso acaba sendo um aprendizado para que a gente possa reformular, inclusive, a forma como a política em São Vicente funciona. 


O fato de você não ser ligado a um grupo político que esteja aí há muitos anos pode criar algum tipo de resistência entre os servidores? 
Os servidores enxergaram a oportunidade de eleger dois servidores. Porque eu sou servidor público e a minha vice, Sandra Conti, também. Sempre recebo apoio dos servidores, que enxergavam a gente como querendo trazer mais conceitos de gestão e inclusive envolver os servidores na tomada de decisão. Claro que a burocracia e o universo de uma cidade de médio para grande porte, como São Vicente, têm visões diferentes. Nosso desafio é conseguir cativar todo mundo. 


Um fator complicador é o gasto com o pessoal: no 2° quadrimestre, São Vicente ultrapassou o limite prudencial. Como você pretende trabalhar isso?
O último quadrimestre a que tivemos acesso estava em 51,7% (a despesa sobre a receita). É um sinal de alerta. A gente quer fazer um trabalho de modernização, de ajuste na máquina. Por exemplo, com comissionários. No entanto, a única saída que São Vicente tem para parar de ficar no vermelho, é melhorando e qualificando a receita. Se não, estaremos sempre no aperto e com limite legal batendo a casa do 51%, 54%, chegando a 60%. Então, a gente tem um plano de desenvolvimento para a Cidade. Seja com um olhar ao Turismo, melhorando seu eixo comercial, expandindo o comércio para a Área Continental, como também criando um plano de negócio para atrair mais empresas e indústrias.


Você pretende criar e/ou extinguir secretarias, enfim, reformular o primeiro escalão?
O principal é criar governança entre elas. Olhar para a secretaria como um espaço de gestão e não politicagem. A gente já está fazendo um trabalho de organização de departamentos, que respondem a uma secretaria e na verdade deveriam responder a outra. Para o futuro, por exemplo, imagino uma Secretaria de Inovação Urbana. 


Tem algum exemplo prático dessa questão dos departamentos em mais de uma secretaria?
Vi, por exemplo, um departamento de métodos institucionais na Secretaria de Governo. Bati o olho e falei “isso é departamento para Secretaria de Planejamento, para administração”. Assim, alguns departamentos condizem mais com planejamento de governo, gestão. 


Na campanha, você falou em reestabelecer a comunicação entre Poder Público e população. Quando você acha que isso deve estar plenamente reconhecido?
As pessoas não conseguem ver o político presente no cotidiano delas. Com as redes sociais, a gente pode estar mais presente e visível. Isso é fundamental quando se necessita recuperar a credibilidade de um governo. Hoje, o vicentino não acredita que quando ele chegar no posto de saúde, será bem atendido, por exemplo. Também sou um grande entusiasta dos conselhos municipais, são espaços que a gente precisa cultivar, porque dali podem sair boas sugestões, bons questionamentos para corrigir a rota quando necessário.


Como você imagina melhorar o comércio, que já é forte na Cidade? E avançar no Turismo?
São Vicente tem um diferencial incrível que é ser a primeira vila do País. Por outro lado, a gente observa que os equipamentos históricos e culturais e a infraestrutura em torno deles – iluminação, segurança, acessibilidade… – tudo isso não está bem feito ao ponto de tornar a Cidade atrativa. Trago o exemplo de um circuito histórico que a gente tem. A gente sai do Porto das Naus a pé, que hoje está abandonado (as pessoas não sabem, é um porto que remete a 1532; tem um sítio arqueológico ali). Você sai de lá a pé, tem a Ponte (Pênsil), o deck de pescadores, uma orla linda, o conjunto de praças, a da Biquinha, a 22 de Janeiro, a Tom Jobim, Casa Martim Afonso, Mercado Municipal, Igreja Matriz... você faz esse trajeto a pé, muito bem feito, em uma hora; com um guia, em duas. A partir do momento que você cria uma rota dessas, empurra o comércio ao entorno. Para além disso, há outras possibilidades. Veja as cachoeiras da Área Continental. A Cidade tem uma vocação também ao ecoturismo, um turismo de aventura, de natureza. 


Falando da Área Continental, o que você projeta para aquela região?
Existe a possibilidade de ampliar o eixo comercial que está se desenvolvendo e fortalecer o comércio dos outros bairros. O eixo comercial é o Jardim Rio Branco. Está crescendo sozinho. Se a gente organizar, se melhora a iluminação, cria uma base da GCM, compartilhada com a PM, está qualificando um novo centro comercial na Cidade, para um público consumidor de 150 mil pessoas. Para além disso, a gente precisa enfrentar a questão da regularização fundiária, acertar questões ambientais para conseguir, sim, atrair outras empresas. 


Uma situação crítica em São Vicente é a falta de leitos hospitalares. Como é possível avançar nisso? 
Entendo que é necessário ter pontos estratégicos para ter um hospital municipal perto de rodovias. Por exemplo, na Área Continental. Quero também melhorar a gestão. São Vicente é uma cidade que investe muito em saúde… você pega a emenda constitucional 29 que diz que você tem que investir 15%, pelo menos, e nos últimos 10 anos a Cidade investiu a média de 30%. Investe, mas a população não consegue ver o retorno. Tem algum problema aí. 


Como você pretende resolver a questão da falta de vagas em creches? 
Existe uma gigantesca falta de vagas. Até 2024 a gente precisa ter uma grande ampliação. A gente vai trabalhar muito para que se consiga abrir cada vez mais vagas. 


E a rede de ensino, no geral? Algumas escolas carecem de estrutura melhor. Como dá pra avançar nessa parte da educação? 
Com a pandemia, o primeiro passo é ter muito diálogo, muita escuta. Envolver a comunidade escolar, inclusive na decisão do calendário letivo. A valorização do profissional é mais que necessária – e claro que a valorização salarial é sempre importante. Mas valorizar o profissional é dar boa estrutura para trabalho, na escola. É não deixar faltar material, faltar o papel higiênico. Fazer a merenda ser de boa qualidade. É fazer com que não chova dentro da escola. 


Como você acha que é possível avançar na questão da drenagem?
Em um futuro próximo, pensamos em ter uma Secretaria de Saneamento. Seria uma forma, inclusive, de se adequar a uma política do Governo Federal, de acesso ao saneamento básico. Saneamento vai tratar de drenagem, de resíduo, de esgoto. Vamos buscar resolver o problema de forma racional, cuidando das obras necessárias, porque é um investimento em infraestrutura necessário. Mas é um investimento em conscientização ambiental também. Muitas vezes tem sofá, lixo, plástico, um monte de sujeira que impede o passar das águas. É um problema regional. Quando Santos faz obras de drenagem e São Vicente não se envolve nessas áreas… as cidades são irmãs, são ligadas diretamente. É uma cidade empurrando água para a outra. A gente tem que resolver esses problemas em conjunto. 


Você acha que é possível negociar o contrato da Sabesp para que a empresa assuma algum serviço de drenagem?
Queremos dialogar com a Sabesp sobre esse contrato, rever alguns termos e construir uma relação melhor. A própria visão de ter um departamento específico de drenagem urbana é uma forma de construir um diálogo, uma coordenação melhor com a política da Sabesp. 


No plano de governo também se fala em sustentabilidade. O que se planeja nesse sentido?
Os ecopontos são uma iniciativa muito boa e a gente tem que ampliar. O que eu mais quero é criar o pensar na educação ambiental. O enfrentamento às enchentes depende da relação com o meio ambiente. Depende da forma como a gente enxerga o lixo. Depende da forma como entende o descarte. 


O que os vicentinos podem esperar nos próximos quatro anos?
Um prefeito parceiro, pé no chão, interessado em fazer uma gestão profissional e de qualidade. Que os serviços tenham foco no cidadão. Que meu governo possa simbolizar pros vicentinos uma recuperação do orgulho de falar “eu moro em São Vicente, tenho orgulho dessa cidade”.
 


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