Cabeleireiro proporciona dia especial para vítimas de violência doméstica

Com tesouras em mãos, um cabeleireiro de São Vicente preparou um dia diferente para pessoas acolhidas em abrigos da cidade na segunda-feira (1º). Entre crianças, jovens e mulheres vítimas de violência, ao todo 30 pessoas receberam um dia de beleza e de muito carinho das mãos de profissionais da área.

Trabalhando há 20 anos como cabeleireiro, Clayton Souza optou por inaugurar seu espaço com uma ação social. O profissional explica que a área visa atender a alta sociedade, mas que prefere “ir na contramão do que se espera em um salão de beleza”. Pessoas acolhidas por instituições de São Vicente receberam corte de cabelo, manicure, sobrancelha e outros serviços.

“Uma ação dessas faz a gente perceber que, mesmo após 20 anos de vivência na área, somos eternos aprendizes. Tive a chance de entender um pouco mais sobre o ser humano, sobre o outro e sobre o quanto um simples gesto [para mim] pode ser tão grande para outras pessoas. Aprendi sobre solidariedade, altruísmo, paciência e amor”, explica Souza.

O cabeleireiro afirma que a ideia era um sonho antigo, mas que não conseguiu colaborações para ajudá-lo durante a carreira. Em seu próprio espaço, conseguiu reunir pessoas que acreditavam na ação. “Tentei levar esta ideia para todos os salões em que trabalhei, e os empresários falavam que a ideia era nobre, mas ninguém queria passar um dia inteiro gastando produtos, luz, água, cachê de outros colaboradores”.

Esposo de Clayton, João Fabrício afirma que optaram por não fazer uma ação voltada para mulheres da alta sociedade, ou até mesmo para antigas clientelas. “Decidimos fazer o que o nosso coração pedia. Um grande dia de acolhimento para quem realmente precisa. Queríamos que fossem abrigos e entidades que cuidassem de pessoas ‘abandonadas’, para justamente presenteá-las”.

Aceitação

A autoestima e aceitação também estiveram presentes no 'Dia do Carinho', como ficou conhecido. O cabeleireiro, que é especializado em cabelos cacheados, ressaltou que cerca de 80% dos atendimentos eram a pessoas que se encaixavam neste perfil, e que se emocionaram com a valorização com as conversas sobre o tema.

“Falar sobre aceitação mexe muito com o coração das pessoas. O que mais fizemos, também, foi ouvir, já que muitas pessoas acabam não sendo ouvidas pela sociedade. Após os procedimentos, recebi abraços de cada uma das pessoas”, conta o profissional.

Impacto

As duas iniciativas escolhidas para a ação foram a Casa Arco-íris, responsável por acolher crianças em situação de vulnerabilidade, e a Casa de Estar, que recebe mulheres vítimas de violência e seus filhos. “Infelizmente, a oferta gratuita deste tipo de serviço ainda é incomum, mas tem grande relevância, pois faz essas crianças e adolescentes se sentirem mais participativos da sociedade”, conta o coordenador da Casa Arco-íris João Carlos dos Santos. O equipamento acolhe, atualmente, 12 crianças e adolescentes, entre 8 e 18 anos.

De acordo com a diretora da Proteção Social Especial de Alta Complexidade da Secretaria de Assistência Social (SEAS) de São Vicente, Patrícia Laranja, ações sociais do gênero quebram estereótipos criados pela sociedade já que muitas vezes eles não são “vistos”.

A assistente social esclarece que, na maioria dos casos, essas pessoas não recebem carinho de seus responsáveis ou familiares por questões afetivas ou financeiras e que esse contato também os aproxima da sociedade civil.

“O agradecimento estampado nos olhos, sorrisos e comportamento dos acolhidos fica gravado no coração e memória dos mesmos, sendo compreendido como um afago, um abraço social, pois, no dia a dia em decorrência à situação que se encontram, os torna invisíveis”, exemplifica Patrícia.