Alagamentos fazem estudantes perderem segundo dia do ENEM, em São Vicente: 'muito triste'

Congestionamento, alagamentos e distâncias de até 13 km para chegar ao local da prova, contribuíram para que jovens chegassem após o fechamento dos portões

Por: Yasmin Vilar & De A Tribuna On-line &  -  10/11/19  -  20:03
Atualizado em 10/11/19 - 20:04
Avenidas principais da cidade ficaram alagadas neste domingo
Avenidas principais da cidade ficaram alagadas neste domingo   Foto: A Tribuna On-line

O mau tempo registrado em toda a Baixada Santista neste domingo (10) foi o responsável por interromper o sonho de jovens de ingressar no ensino superior. Por causa dos alagamentos, estudantes de São Vicente não conseguiram chegar a tempo e encontraram o portão fechado, impossibilitando a participação no segundo dia de provas do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).


O auxiliar de logística Luiz Antonio Origuela Campos, de 22 anos, iria realizar o exame pela segunda vez, mas a forte chuva o impediu de realizar a prova em uma escola na Avenida Presidente Wilson, no bairro Boa Vista, em São Vicente.


Ele conta que o trajeto a pé entre a casa de sua avó e a escola onde realizaria a prova, tem duração de dez minutos. Às 11h50, o jovem decidiu sair de casa, mas foi surpreendido pelo mal tempo, precisando acionar um motorista de aplicativo para chegar até o local.


Devido aos alagamentos, vários motoristas cancelaram a corrida. Luiz explica que após um homem aceitar a corrida, ele precisou pegar uma rota alternativa de 15 minutos para chegar até onde o jovem estava.


"Chegando em um viaduto próximo à rua do colégio, estava um trânsito infernal. Ruas alagadas, carros na contramão, uma situação bem caótica. O motorista fez uma manobra e conseguimos sair. Cheguei na escola às 13h07 e portão já estava fechado”, desabafa.


O jovem conta que na frente da escola estavam uma série de alunos que também perderam o horário da prova. Ao notarem os portões fechados, muitos retornavam aos seus carros ou iam embora a pé, com os sapatos em mãos, sendo obrigados a deixar para trás a oportunidade de concorrer a uma vaga.


"Tinha só um funcionário. Eu gritei para tentar falar e ele fez um gesto que não. O motorista que estava comigo também desceu do carro e disse que deveriam entender a situação da cidade, já que a principal avenida estava alagada. Mas não funcionou", relata.


Ele conta que a última vez que realizou a prova foi em 2014. Naquela ocasião, conseguiu passar em Engenharia de Aquicultura, na Universidade Federal da Fronteira do Sul, no Paraná. Devido a condição financeira e por ser menor de idade quando aprovado, o rapaz foi obrigado a desistir da vaga e ingressou no Instituto Federal de São Paulo, Campus Cubatão.


"Cursei dois semestres. Mas aí comecei a trabalhar e tive que escolher entre o trabalho ou os estudos. Hoje eu consigo conciliar meu trabalho com o estudo e resolvi tentar uma vaga, mas agora vou ter que esperar até o ano que vem", lamenta.


Moradora da Área Continental, Mariana precisaria fazer trajeto de 13 km até o local onde seria aplicado o exame
Moradora da Área Continental, Mariana precisaria fazer trajeto de 13 km até o local onde seria aplicado o exame   Foto: Arquivo pessoal

Distância 


Participando do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) pela primeira vez, Mariana Bezerra Ribeiro Tadeu de Moraes, de 18 anos, teria que atravessar o município de São Vicente para participar do ENEM.


A jovem é moradora do bairro Vila Matias, na Área Continental do município. Seu local de prova, escolhido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), fica a 13 Km de sua casa, localizada na Avenida Presidente Wilson, no bairro do Itararé. Mariana conta que devido à distância, decidiu sair de casa às 11h, duas horas antes do fechamento dos portões em todo o País.


"Eu sabia que indo de transporte público não iria dar tempo. A região onde moro estava toda alagada. Ao chegar na Avenida do Quarentenário, o carro de um amigo já tinha quebrado devido ao alagamento. Eram 12h40 e eu ainda estava na Área Continental, foi aí que vi que não tinha como chegar", relata a estudante.


Aluna de escola pública desde o Ensino Fundamental e cursando o último ano do Ensino Médio, Mariana sonha com uma vaga para cursar pedagogia. "Faculdades públicas são sempre melhores, mas eu queria muito conseguir um desconto bom ou uma bolsa em qualquer universidade", comenta. Ela ainda conta que mora apenas com a mãe, que é recepcionista.


Se fosse aprovada no vestibular, seria uma das primeiras integrantes da família a ingressar no ensino superior. Quanto a ter que esperar até o próximo ano, a jovem faz seu desabafo: "fiquei triste porque não tinha mais o que fazer. Infelizmente tive que voltar para casa e desistir".


Ruas da Área Continental de São Vicente estavam alagadas próximo ao horário de fechamento dos portões
Ruas da Área Continental de São Vicente estavam alagadas próximo ao horário de fechamento dos portões   Foto: Arquivo pessoal

Segunda chance


Alunos que tiveram problemas logísticos para chegar ao local da segunda prova do ENEM poderão solicitar a reaplicação do teste. Segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), candidatos que se sentirem prejudicados poderão pedir uma nova aplicação do teste a partir desta segunda-feira (11), pela Página do Participante. As reclamações devem ser registradas até cinco dias úteis e serão julgadas individualmente, pela Comissão de Demandas do instituto.Segunda chance


A Tribuna On-line questionou o INEP sobre a possível reaplicação da prova para os candidatos de São Vicente, mas não obteve retorno até a publicação da reportagem.


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