Abandonada, Escola de Surfe do Itararé vira ‘casa’ de moradores em situação de rua

Residentes e comerciantes do entorno reclamam de acumulo de entulho e falam em intimidação dos ocupantes do espaço público; após contato da reportagem, o local foi limpo

Por: Eduardo Brandão  -  01/10/20  -  18:56

“Tenho medo de passar perto. Prefiro fazer minha caminhada em outra direção (da Divisa à Ilha Porchat). E não é apenas pelo acúmulo de lixo ou cheiro, mas pela atitude de intimidação dos ocupantes”. A afirmação de uma vicentina, em condição de anonimato, dá dimensão ao que se transformou a Escola de Surfe do Itararé, em São Vicente. Sem aulas desde março, o local se tornou depósito de lixo e ‘lar’ a moradores em situação de rua.


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Roupas, pertences e entulho ocupam o imóvel público no calçadão da praia do Itararé, gerando sensação de insegurança aos frequentadores daquela localidade. Situação que se agrava com o final da tarde, quando reduz a movimentação popular naquele entorno. “Depois das 18h, nem me atrevo passar sozinha por ali”, continua a moradora do bairro. 


Neste final de semana, a reportagem esteve em quatro momentos distintos no local. Nas ocasiões, encontrou os ocupantes do espaço fazendo uso do chuveiro público para lavar roupas ou espalhando os pertencer nas imediações da escola de surfe vicentino. Até mesmo um varal foi improvisado para que as peças pudessem secar ao sol.  


“É um absurdo. Esse grupo (são três ocupantes) se apropriou do quiosque (que abriga a escolinha náutica). Se a gente passa perto, ouvimos ofensas, comentários pejorativos”, continua outra moradora do entorno, também sem querer se identificar. Nos momentos que a reportagem esteve no local, neste final de semana, nenhum agente da Guarda Civil Municipal foi visto. 


Segundo os moradores, o trio faz uso do local há cerca de dois meses. Eles permanecem o dia todo no entorno, vivendo de donativos ou recolhimento de material recicável. O problema não se limita à sensação de segurança de caminhantes ou esportistas amadores, já afetando o comércio ao entorno.


Situação afeta atividades comerciais no entorno e gera apreensão de caminhantes
Situação afeta atividades comerciais no entorno e gera apreensão de caminhantes   Foto: Eduardo Brandão/AT

Temendo represália dos atuais ocupantes do imóvel público em frente à praia, comerciantes e ambulantes daquele trecho relatam medo de ser interpelados por eles. Também em condição de anonimado, eles relatam queda nas vendas e dificuldade para atrair clientes.


Em nota, a Prefeitura de São Vicente informa que a unidade não está desativada, mas “com atividades suspensas desde 17 de março, quando tiveram início os procedimentos de isolamento social devido ao novo coronavírus”. A administração afirma que o local é vistoriado diariamente por técnicos da Secretaria Municipal de Esportes (Sespor), “sem que se tenha verificado quaisquer sinais de abandono”.  


A assessoria de Imprensa da prefeitura encaminhou fotos, desta segunda-feira (28), que mostram o local limpo. As imagens do órgão público contrastam com as feitas por ATribuna.com.br nos dias anteriores.  


Foto da prefeitura de São Vicente, desta manhã, mostra que o local foi limpo
Foto da prefeitura de São Vicente, desta manhã, mostra que o local foi limpo

Ainda conforme a administração vicentina, antes da pandemia, a unidade atendia a 200 alunos. “Tão logo seja possível o retorno às atividades mantendo-se a segurança para evitar a Covid-19, o equipamento será higienizado, reaberto e receberá novas matrículas”, continua. 


A administração informa ainda ter adotadas medidas preventivas junto às pessoas em situação de rua. Cita a abertura de duas novas unidades de acolhimento emergencial, aumentando de 60 para 220 vagas. “Ampliou-se, também, a equipe de Abordagem Social, responsável pelo primeiro contato com as pessoas em situação de rua, percorrendo inclusive a orla do Itararé, e passou-se a distribuir kit de higiene pessoal nas ruas para aqueles que não aceitam ir para um acolhimento”, destaca, em nota 


O poder público aconselha ao munícipe acionar a Guarda Municipal (pelo 153), e a Polícia Militar (190) em atos de intimidação ou vandalismo. 


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