'Sentimento de tristeza e esperança', diz padre Janivaldo sobre morte do vigário Nelson Caleffi

Padre, de 84 anos, faleceu neste domingo, na Casa de Saúde de Santos. Ele lutava contra um câncer de intestino que se complicou após a Covid-19

Por: Sheila Almeida  -  27/09/20  -  23:02
A Quaresma ocorre entre a Quarta-feira de Cinzas (dia 17) e a Quinta-feira Santa (1º de abril)
A Quaresma ocorre entre a Quarta-feira de Cinzas (dia 17) e a Quinta-feira Santa (1º de abril)   Foto: Matheus Tagé/AT

“Para quem crê, a vida não é tirada, mas transformada”. Com essa frase o padre Janivaldo Alves dos Santos iniciou a celebração da missa pelo falecimento do Vigário Paroquial Nelson José Caleffi, neste domingo (27), na igreja Imaculado Coração de Maria, em Santos.


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Padre Caleffi, como era conhecido, morreu às 4h30 de domingo, na Casa de Saúde de Santos, aos 84 anos. Ele tinha sido internado com Covid-19 no dia 6 de agosto, teve alta no fim do mesmo mês, porém menos de uma semana depois foi novamente hospitalizado. Lutava contra um câncer de intestino que se complicou após a Covid-19.


O padre Cláudio Scherer, de 50 anos, também da paróquia Coração de Maria, continua internado na Santa Casa de Santos com covid-19. Ele segue estável em UTI, sedado e intubado. Tem apresentado boa resposta aos tratamentos.


Nascido em 10 de outubro de 1935 em Veranóplis, no Rio Grande do Sul, Caleffi entrou com dez anos para o Seminário Claretiano de Esteio (RS). Tornou-se diácono em 1953 e padre em 1961, em Bento Gonçalves (RS), onde moram seus familiares até hoje.


Por conta da pandemia, não haverá velório aberto ao público. O desejo de Caleffi, que desde 14 de março de 2006 era vigário paroquial da Paróquia Imaculado Coração de Maria, era ser cremado. De acordo com o padre Janivaldo Santos, também claretiano que morou com Caleffi por alguns anos e segue presidindo as celebrações na igreja Coração de Maria, depois da cremação os restos mortais do então vigário serão enviados para o túmulo da família, no Sul.


“Para nós, claretianos, é um sentimento de tristeza e esperança. Nós acreditamos na ressurreição. Do ponto de vista de fé, temos essa esperança. Ele não morreu. É um começo de uma nova vida. Ele estava sofrendo muito”, contou Janivaldo Santos, que decidiu não cancelar as missas.


“Pelo contrário. Já que não podemos fazer velório, a melhor coisa para a gente honrá-lo é estar na igreja”, afirmou, lembrando que durante toda a semana, sempre às 19h, haverá Missa de Sufrágio à Pascoa do Padre Caleffi, com possível transmissão pelo Facebook, já que dentro do protocolo de prevenção só 80 pessoas podem participar presencialmente na igreja.


Questionado por A Tribuna sobre a eventual necessidade de cuidados adicionais nas igrejas por causa da covid-19, o bispo respondeu que, “por enquanto não há nenhuma iniciativa para se rever. Tudo indica que as infecções aconteceram no hospital, e os procedimentos que adotamos são seguros e seguem as orientações das autoridades sanitárias. Os padres em situação de risco não são obrigados a celebrar em com presença de fiéis”.


Por nota, o bispo Diocesano Dom Tarcísio Scaramussa, falou do padre.


“Como característica pessoal, destaco a sua personalidade marcante, misto de firmeza, às vezes dura no proceder e exigir, e ternura emotiva e acolhedora. Era compreendido pela sua sinceridade e dedicação, e amado pelos paroquianos. Como religioso consagrado ao Senhor, deixa em Santos a marca do carisma missionario claretiano, e da devoção ao Imaculado Coração de Maria”.


  Foto: Reprodução/Redes Sociais

Paroquianos sentem partida


Bruna Rossifini, jornalista e fotógrafa de 31 anos teve Caleffi em seu noivado, casamento e gestação de sua filha Cecília. Contou sobre a saudade.


“Ele tinha um coração muito bom, amava as crianças e elas o amavam também. Se alguém perguntasse o que ele queria, ele sempre pedia chocolate. Não comia, mas era para elas”, contou a paroquiana, lembrando do padre com carinho.


“Ele acompanhou o crescimento da minha barriga até o nascimento. Minha filha nasceu e 15 dias depois começou a pandemia. Ele não pôde a conhecer pessoalmente, mas a viu por chamada de vídeo do WhatsApp em vários momentos. Mesmo com idade, aprendeu a usar o WhatsApp e fazer as chamadas, pois queria estar perto. Agora intercederá Deus por nós!"


Ana Regina, responsável pela catequese da Coração de Maria, diz que o padre era o grande motivador da comunidade.


“Era aquele que chamava nossa atenção, com certeza, mas que estava sempre presente. Com as crianças ele era amável e doce. A imagem que vou guardar dele é a de todos os sábados e domingos, quando as crianças chegavam na igreja e eram recebidas com um beijo, um abraço dele. É esse carinho que a gente vai guardar sempre, e as crianças também. Tenho certeza que o padre está feliz por se encntrar com Deus e Nossa Senhora, a mãe que ele sempre amou”.


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