Santos publica novo decreto, muda horários e manda fechar salões e clínicas de estética

A Prefeitura de Santos voltou atrás na decisão de só recorrer de uma liminar (decisão provisória) do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) que mandou que parte do comércio fosse fechada e publicou novo decreto para se adequar às regras do Governo do Estado. O documento muda horários de funcionamento, além de mandar salões, templos religiosos e clínicas de estética fecharem as portas.

No começo do dia, a administração municipal recorreu da liminar que suspendeu parte do decreto que permitiu a abertura desses estabelecimentos. Mas, no começo da noite desta quarta-feira (17), um novo decreto foi anunciado.

Enquanto isso, muitos comerciantes que tinham voltado a trabalhar dentro das normas estabelecidas há pouco menos de uma semana se desesperam sem saber quando voltarão a funcionar.

Segundo a procuradora Renata Arraes, há dois equívocos no texto da liminar. “A fundamentação parte da premissa de que o município está classificado na fase vermelha (e está na laranja). E, em outro ponto, refere-se à Grande São Paulo e não à Baixada Santista”.

Segundo o prefeito Paulo Alexandre Barbosa (PSDB), a decisão da prefeitura de abrir salões e clínicas de estética foi tomada para aumentar a segurança de profissionais e clientes. “As pessoas estão recebendo o atendimento em casa, sem o devido processo de higienização e os cuidados que um salão ofereceria”.

O novo horário do comércio da região central (Valongo, Centro, Paquetá, Vila Nova e Vila Mathias) é de segunda a sexta-feira, das 11h às 15h. Sábados, das 9h às 13h. Nos demais bairros, será de segunda a sábado, das 13h às 17h.

Já escritórios (contabilidade, advocacia), prestações de serviços (locadoras, consertos de eletrônicos), imobiliárias e concessionárias e revendedoras de veículos funcionarão de segunda a sábado, das 10h às 14h, em toda a cidade.

Comerciantes

Para o proprietário da Sala Oswaldo Pires, Oswaldinho Pires, é muito muito desagradável a falta de conexão entre os governos.

“O presidente diz que somos essenciais e ele não paga mais o auxílio emergencial para a categoria. Volta a possibilidade de trabalharmos, a gente se prepara para as pessoas irem ao estabelcimento com segurança e, nem uma semana depois, não é mais nada disso”.

Segundo ele, a situação está bastante complicada. “Investimos em máscaras, termômetro, tapete de higienização, além de capas, luvas e máscaras descartáveis para os clientes”.

O sócio-proprietário do Club Men Salon, Marcos Vicente Rosa, lida com situações diferentes em cada loja, já que as unidades estão em Santos, São Vicente e Praia Grande.

“Eu estou desesperado para cumprir a regra, porque quero reabrir. Muitos estabelecimentos fecharam, porque estamos com a corda no pescoço. Sou a favor do isolamento social e de tudo o que está sendo feito, mas remodelamos as barbearias para seguir as regras necessárias. Temos preocupação e responsabilidade muito grandes”.

Além do uso de materiais descartáveis e higienização mais rigorosa do local e dos equipamentos usados, todo o espaço de convivência foi retirado, assim como a espera para atendimento.

“Três vezes ao dia é passado um pano com água sanitária no chão. Conscientizamos os funcionários para cumprirem as normas, inclusive para preservarem suas famílias no retorno para casa. Já os meus clientes precisam se sentir seguros para voltar. Essa situação deverá durar meses”.

A sócia proprietária das unidades da Depyl Action em Santos, Nivya Maria Martins, diz que anunciaria ontem aos clientes o retorno do atendimento. Mas isso nem chegou a acontecer.

“Essas incertezas são complicadas, cheias de idas e vindas. Acabam gerando um desgaste emocional muito grande. Deixam a gente voltar, retomar tudo e depois ter de fechar de novo. É uma situação muito ruim para a gente que é empresário, porque não podemos deixar o funcionário ser afetado com essas dúvidas”,

Para ela, a sensação é de que todo o trabalho de conscientização e cuidado não fosse suficiente. “A gente faz todo um trabalho de cuidados e preparação para receber uma notícia dessa”.

Igrejas

Segundo o vice-presidente do Conselho de Pastores de Santos, Éric Vianna, as igrejas vão seguir as recomendações da Justiça e das autoridades sanitárias. “Não recebemos ainda nenhuma recomendação da prefeitura. Até a comunicação oficial, seguimos com os mais de 400 templos abertos”.

Já a Diocese de Santos informou que as igrejas estão abertas só para visitas e oração individual, das 9 às 17h. “Por ora, não haverá celebrações comunitárias em nenhuma das igrejas da Baixada Santista”, diz nota enviada à Redação.

Outras entidades

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista (SinComércioBS), Omar Abdul Assaf, diz que só vê uma nuvem negra se aproximando.

“Estão brincando de abre e fecha. É uma coisa tão absurda que estão contra a ciência, contra os números”.

Para ele, o horário de atendimento no comércio deveria ser maior para os clientes terem mais tempo de ir às compras e os funcionários serem substituídos.

“Desse jeito, vai todo mundo na mesma hora e todos trabalharão ao mesmo tempo, porque não dá para dividir as equipes. Aumenta o fluxo no trânsito, os ônibus ficam lotados. Se tiverem de fechar, então que não abram de novo. Não estão pensando em toda a estrutura e gasto para abrir um estabelecimento”, desabafa Omar.

Já o presidente da Associação Comercial de Santos, Mauro Sammarco, vê com preocupação a judicialização do processo de retomada econômica.

“Qualquer instabilidade dificulta o planejamento do empresário. Mas seguimos confiantes para a classificação da região para a fase amarela na próxima revisão do Governo”.