Santos decreta três dias de luto pela morte de Rubens Ewald Filho

Amigos e artistas comentam a perda; corpo do jornalista e crítico de cinema foi enterrado ontem na Capital

Por: Da Redação  -  21/06/19  -  18:11
  Foto: Renato S. Cerqueira/ Estadão Conteúdo

A morte do jornalista e crítico de cinema Rubens Ewald Filho abalou a comunidade santista. Artistas, políticos, amigos, todos prestaram belas homenagens nas últimas horas. Em Santos, o prefeito Paulo Alexandre Barbosa decretou três dias de luto.


“É com muita tristeza que recebemos a notícia da perda do jornalista e mais respeitado crítico de cinema do Brasil, Rubens Ewald Filho, nascido em Santos, e que deixa também um grande legado na área da dramaturgia brasileira. Na Cidade, marcou presença nas atividades relacionadas à sétima arte e foi homenageado em vida dando nome à sala do Cine Arte Posto 4. Acompanhar os filmes indicados ao Oscar, sem a sua presença e seus comentários, não será a mesma coisa. Em razão da perda, decreto luto oficial de três dias”.


A pesquisadora teatral Neyde Veneziano era considerada por Rubens Ewald Filho sua madrinha no teatro. Na adolescência, ele fez parte do Tefi, grupo teatral da Faculdade de Filosofia da atual Universidade Católica de Santos (UniSantos), que também reunia atores como Jandira Martini, Ney Latorraca e Eliana Rocha.


“Era meu amigo desde 14, 15 anos. A gente vivia muito juntos. O Rubinho colecionava um caderno onde anotava todos os filmes, era um fanático por cinema. Com 17 anos, fomos aos Estados Unidos ver Cleópatra, com Elizabeth Taylor, antes do lançamento no Brasil”, disse Neyde para A Tribuna, durante o velório, para mostrar como um influenciou o outro em sua arte preferida.


Ainda que a crítica cinematográfica fosse o meio de vida de Ewald, Neyde comentou que a arte dramática prendia o jornalista. “O teatro tinha a arte do ator, o que ele admirava muito. Mas (assistir a espetáculos) não era uma válvula (de escape), em que você senta, relaxa... O olhar dele era sempre crítico”.


Silvio de Abreu, autor e supervisor de novelas da TV Globo, relembrou a importância do jornalista ao introduzir uma nova maneira de escrever críticas sobre o cinema.


"Rubens Ewald Filho, ou simplesmente Rubinho, como era conhecido pelos seus amigos, admiradores e seguidores, foi quem introduziu no Brasil a maneira de escrever uma critica séria, competente, que ao mesmo tempo conseguia ser informativa e descontraída. Costumava colocar informações banais entre a sua análise aguçada do filme e com isso se aproximava não só dos teóricos, mas de fãs de cinema, como ele. Trabalhamos juntos em vários roteiros, escrevemos juntos uma novela, Éramos Seis, de enorme sucesso, que está prestas a ter o seu terceiro remake, e ele sempre foi para mim, além de um amigo, uma fonte inesgotável de informações e ideias. Perco um grande amigo e o Brasil perde um dos seus melhores e mais competentes críticos da arte para a qual ele dedicou toda a sua vida", disse Abreu.


A jornalista Ivani Cardoso recordou os anos de amizade com Rubens Ewald Filho, e um momento peculiar ao organizara festa 100 Anos – A Magia do Cinema.


"Conheci o Rubinho quando foi meu professor na Faculdade de Comunicação de Santos. Muitas entrevistas depois e um contato maior quando eu fui editora de Cultura de A Tribuna. Ele mandava diariamente os filmes da TV e as críticas que todo mundo lia gostando ou não da opinião dele. Além do amor pelos musicais que compartilhávamos, a maior prova de amizade dele veio quando organizei a festa 100 Anos – A Magia do Cinema, por A Tribuna. Pedi que ele viesse vestido de Oscar e ele veio, lindo, todo chique de smoking. E ainda me disse? 'Quando amigo pede eu coloco azeitona na empadinha dos amigos'. É isso Rubinho, hora de encontrar seus ídolos em outras paragens", comentou Ivani.


Mundial, mas local


Secretária adjunta de Cultura de Santos, a professora de Cinema Raquel Pellegrini lamentou a morte de “um ícone da crítica cinematográfica no Brasil”, que “buscou outras mídias” para desempenhar sua atividade – Rubens Ewald Filho trabalhou em veículos impressos e também em televisão e internet.


Raquel afirmou acreditar que Ewald tenha inspirado a formação de outros críticos de cinema. “Ele era um profundo conhecedor de todos os segmentos, todas as vertentes. Quando se fala em críticos, as pessoas dizem: ‘temos o Ewald, aquele cara que fala no Oscar’.”


Ela lembrou que, apesar da experiência internacional que teve por causa de seu trabalho, Ewald “nunca abandonou as raízes”. “Conversamos pela última vez no ano passado. Ele percorreu a Cidade e disse: ‘Fazia tempo que eu não me sentia um santista”.


O ator santista Luciano Quirino, que homenageou Ewald, ano passado, no Santos Film Fest, do jornalista André Azenha, afirma que o crítico teve uma importância muito grande na carreira dele. “A gente sempre esperava pela crítica dele, queríamos saber o que ele tinha achado do filme. É um ícone, deixou um legado muito grande. Existe o cinema antes e depois do Rubens”.


Outra estrela santista que brilha com inúmeras novelas, peças e filmes na carreira, Alexandre Borges também lembrou com carinho do crítico. “O Rubens faz parte do imaginário popular. Ele transmitia o conhecimento dele de forma popular para o público. Era uma figura muito querida, charmosa, com um carisma imenso. As transmissões do Oscar sempre foram diferenciadas com ele”.


O corpo de Rubens Ewald Filho foi velado na manhã e início da tarde desta quinta-feira (20), na Cinemateca Brasileira, em São Paulo. O enterro foi às 16h, no Cemitério dos Protestantes, na Capital.


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