Santista, Café Floresta completa 80 anos voltado à China

Empresa enfrenta barreiras que ainda dificultam a entrada do produto final no país asiático, como a negociação mais fácil dos chineses com países vizinhos e também a burocracia com pagamentos

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  20/12/20  -  19:53
Auro Sato e Paulo Fernandes comandam a tradicional marca de café, instalada no Valongo, em Santos
Auro Sato e Paulo Fernandes comandam a tradicional marca de café, instalada no Valongo, em Santos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Na contramão da tradição do mercado cafeeiro brasileiro no comércio exterior, o santista Café Floresta completa seus 80 anos voltado à China. O torrefador segue o mesmo caminho de gigantes europeus, com uma mercadoria industrializada pronta para o consumo e não o grão verde.


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Esse é o plano da empresa desde que os sócios Paulo Fernandes e Auro Sato retornaram da China International Import Expo (CIIE), feira com empreendedores do mundo todo realizada em Xangai entre 2 e 11 de novembro de 2018.


A feira reuniu expositores de mais de 120 países que buscam fechar negócios com o país comunista liderado por Xi Jinping. A “missão China” foi a primeira etapa de um processo que ainda está se desenrolando, mas com bons frutos, segundo os proprietários.


“Houve muito interesse por parte do governo chinês, especialmente nos cafés de origem e aromatizados. Foi a primeira feira de importação que a China realizou”, enfatiza Fernandes.


Dentre as barreiras que ainda dificultam a entrada do produto final no país asiático estão a negociação mais fácil dos chineses com países vizinhos e também a burocracia com pagamentos: o Ministério do Comércio chinês exige que os empresários tenham conta no País para realizar pagamentos maiores em moeda local.


Fernandes diz que o café com aroma deixou os chineses animados. Segundo ele, o consumidor da China paga muito caro por café importado em grandes redes, como a Starbucks. “E a maior parte do café é solúvel. Há pouco industrializado em grão ou moído”.


É um passo importante para a marca brasileira, que sobrevive em meio a três grandes grupos de café industrializado – o brasileiro-israelense Três Corações, o holandês JDE e o alemão Melitta.


O Brasil é o maior exportador mundial de café - de janeiro a novembro enviou ao exterior 39,8 milhões de sacas, uma alta de 5,7% em relação a igual período do ano passado, segundo relatório do mês passado do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafe).


A China não está entre os maiores compradores, que são, nessa ordem, Alemanha, Bélgica, Itália, Japão, Turquia, Rússia, México, Espanha e Canadá. 


A Alemanha costuma ser apresentada como exemplo de importadora de café verde que é industrializado e exportado com maior valor agregado. Aliás, o país também exporta o produto verde por ter entreposto em Hamburgo, de onde é vendido para outros países.


“É um mercado a ser explorado. As cafeterias estão começando a ir para lá (China). Há dois anos foi inaugurada a maior Starbucks do mundo”, afirma Fernandes.


Na pandemia, on-line garante reação 


Floresta enfrentou queda de 40% nas vendas, com impacto da crise nas cafeterias, mas supermercados e e-commerce foram a solução


Para enfrentar as perdas da pandemia, o Café Floresta investiu em vendas e na plataforma de e-commerce. Até novembro, as quedas na comercialização foram de 40% em relação ao ano passado.


Dentre os locais para os quais os produtos são vendidos, somente os supermercados seguraram a queda: as vendas aumentaram 20%. No entanto, padarias, cafeterias e empórios chegaram a ter suas operações zeradas durante os três meses mais duros da quarentena, entre março e junho.


As vendas dos produtos solúveis nas redes varejistas representam metade do faturamento do Café Floresta. Em volume, 75% são representados pelos cafés convencionais. “É uma luta para sobreviver. Somos frequentemente assediados porque das marcas de expressão mais antigas, só restamos nós”, diz ele, citando a Menezes e o Dias.


Fernandes diz que o consumo nas cafeterias é inelástico e que derrubou os preços na Black Friday.


Apesar do cenário, contratou mais dois vendedores, um supervisor e alugou mais dois carros para fazer entregas. “Temos uma vantagem em relação aos grandes que é a capacidade maior de mobilidade. Isso nos dá agilidade”, conta ele, que aposta cada vez mais nas vendas pela internet.


Durante os períodos mais duros da pandemia, conseguiu segurar seus funcionários e não fez demissões, mas segue preocupado com o próximo ano.


Expectativa com vacina


“Os auxílios para pagamento dos funcionários seguraram muito. O ano que vem deve ser difícil, mas estamos apostando na retomada, vacina e reabertura para seguir”, conclui Paulo Fernandes. (JB)


Café Floresta expande com novos formatos 


O Café Floresta nasceu em 1940, numa realidade bem diferente no País. Segundo estudo de Alexandre Fontana Beltrão publicado no Centro de Pesquisas e Documentação da Fundação Getúlio Vargas, entre 1920 e 1930 o café era responsável por mais de 70% das exportações do País.


Nos anos 1970, Paulo Fernandes se torna sócio do Floresta junto a outros três empresários. Na antiga Casa do Café de Santos, ele começa o processo para implementar sua cafeteria. “A Casa do Cafezinho, no Gonzaga, foi a primeira do Brasil, em 1973. Depois dela, lançamos uma no Edifício Copan, na Capital, além de Santo André e São Vicente”.


Os atuais sócios Auro Sato e Fernandes contam que das nove torrefações na região restaram três. “As novidades da Casa do Café eram muito controladas por conta da ditadura”, recorda. Na época, cinco empresas controlavam as operações no espaço, mas o Floresta tinha participação majoritária.


O modelo o estimulou a adotar outros produtos. Foi assim que ele implementou o café expresso na Casa do Cafezinho no fim dos anos 1980, bem como os cafés em sachês, mais ecológicos. Hoje, o Floresta fornece café em grãos para mais de 150 cafeterias, a maior parte em Santos e na região, além da Capital, Santo André, Jundiaí e Tóquio, no Japão.


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