Restaurante Jamblam fecha as portas e expõe 'vazio' no Centro de Santos

Após 48 anos na Praça Mauá, estabelecimento encerra as atividades; e não é o único

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  28/06/19  -  21:44
Motivos familiares, crise econômica e do próprio bairro levaram família a optar pelo fechamento
Motivos familiares, crise econômica e do próprio bairro levaram família a optar pelo fechamento   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

Após 48 anos, esta sexta-feira (28) é o último dia de funcionamento do restaurante Jamblam, no Centro de Santos. Motivos familiares, crise econômica e de desenvolvimento do bairro têm influenciado não só para o fim deste negócio, mas também de outros nos arredores, segundo empresários.


O Restaurante Allegra Café e o Café da Praça fecharam as portas na mesma Praça Mauá que o Jamblam. Alguns metros depois, na Rua D. Pedro II, a loja de roupas Mamô também saiu de cena.


Dez funcionários serão dispensados do Jamblam. Entre eles, Edivaldo Bento de Jesus, de 55 anos que há 25 é o cozinheiro lá. A filha dele, Simone Santos, é sua ajudante. “Falta um ano para eu me aposentar mas vou trabalhar com meu filho na lanchonete dele, em São Vicente”, conta.


A funcionária mais antiga de lá, Maria Lúcia Leite Silva, de 68 anos, vai se aposentar e está no Jamblam há 36. “É sensação de dever cumprido” conta a caixa.


A história


Ao morrer no ano passado, o fundador Adriano Soares deixou como responsável o único herdeiro, de 57 anos, que está doente. As filhas dele atualmente moram em Portugal e têm família e carreira constituídas lá.


Em solo santista, quem cuida de tudo é Sérgio Maia, sócio-gestor. Ele atribui o fechamento às crises do país e do Centro. Reclama da falta de funcionários para informação turística e da partida do bonde turístico retirado da Praça Mauá. “Nesses últimos dois anos, houve um esvaziamento no Centro. As empresas estão indo para outros bairros”.


Entre os motivos mais preocupantes apontados por Maia, estão a falta de expectativa de melhora, após tantos anos de espera.


“Não vimos nada melhorar. Desde que entrei aqui, há dez anos, era o Alegra Centro. Depois, a promessa [de revitalização] dos armazéns do Porto e piorou com a crise e os escritórios migrando para a Avenida Ana Costa e Ponta da Praia”.


Várias situações


Geonísio Pereira Aguiar, o vereador Boquinha, que era dono do restaurante Allegra, concorda. Mas se diz um entusiasta da área. “São algumas situações: as empresas saindo do Centro, os aluguéis que ficaram caros com a promessa do pré-sal, a infraestrutura de prédios geminados que não possibilitam muitas mudanças, além da sensação de insegurança quando as lojas fecham – mesmo com um índice de violência pequeno”.


Segundo ele, é preciso mostrar que o Centro é viável. “Principalmente com o envolvimento maior das secretarias, incentivando ações da Prefeitura lá”, diz.


Para Wagner de Carvalho Pedrozo, proprietário da A Musical, que herdou o negócio de 1954, de seu pai, há esperança. “É triste ver tanta coisa acabar, mas é um misto de crise com muitos anos de abandono. Sem moradia, o lugar não tem vida própria. Mas acredito em mudança em médio prazo”.


Disputa


Também fechou hoje a Ótica Modelar, na Rua Dom Pedro II, 57, no Centro. Segundo os proprietários, o motivo é a concorrência de camelôs e negócios menores.


União e fé, receita para salvar a área


É preciso mais união e fé de comerciantes para salvar o Centro de Santos. Essa é a opinião de alguns gestores e da prefeitura sobre o futuro do bairro, já que várias ações estão em andamento.


Uma delas é a flexibilização do uso de imóveis próximos dos que têm algum grau de proteção ou tombamento. Segundo Rivaldo Santos, ouvidor municipal e coordenador do Grupo Técnico de Trabalho (GTC) do Centro, que reúne comerciantes da área, um projeto de lei deve ser enviado à Câmara em agosto.


No último dia 5, Santos entregou também o projeto de lei que cria o Programa de Incentivos Fiscais Santos Criativa. Se aprovado pela Câmara, determinados comércios terão isenção total de alguns impostos em troca de publicidade de ações no bairro e contratações via Centro Público de Emprego e Trabalho.


O presidente da Câmara, o vereador Rui De Rosis (MDB), vê a estratégia com esperança. “A recuperação das finalidades residencial e comercial dos bairros centrais da cidade é urgente, por isso Câmara está analisando o Projeto com responsabilidade e a rapidez que a questão exige”.


Adesão


Osmaine Silva da Costa, gerente da Pernambucanas e diretor da Câmara de Dirigentes Lojistas de Santos (CDL-Santos), lembra que muitas ideias boas estão em andamento, mas é preciso adesão.


“Falta união do comércio. Por exemplo quando definimos abrir em dias de evento, praticamente só as lojas de rede aderem. Na reunião do Conselho de Segurança dois participam”.


Sobre as reclamações dos lojistas, Rivaldo Santos conta que as bancas de jornal viraram referência em informação. Sobre insegurança, o Centro tem um dos menores índices de furtos e roubos da Cidade. E que a implantação do VLT e os projetos de lei em andamento vão ajudar muito.


Bonde


Sobre o bonde, a prefeitura ressalta que a Praça Mauá ainda é ponto de parada. Só não se vende lá ingresso – o que foi transferido ao Valongo e, segundo pesquisa da Secretaria de Turismo, 85% dos usuários da linha aprovaram.


Logo A Tribuna
Newsletter