'Resgate' de pallet: nada se perde, tudo se cria

A rigor, após cumprir a sua função, um pallet perde o uso; mas se for resgatado nas ruas por alguém como André Laface, vira até móveis

Por: Júnior Batista & Da Redação &  -  25/01/21  -  21:08
Pedro, o amigo e coordenador da área de confecção, e André: na pandemia, sapateiras estão em foco
Pedro, o amigo e coordenador da área de confecção, e André: na pandemia, sapateiras estão em foco   Foto: Vanessa Rodrigues

De repente, surgiu a necessidade de evitar que o coronavírus entrasse em casa, já na porta da rua. Isso foi o estopim para que o empresário André Laface, de 37 anos, criasse uma linha exclusiva com diversos tipos de sapateiras, a partir de pallets recolhidos pelas ruas de Santos.


O dono da Garage do Pallet – Mercado do Pallet Santista tem não só uma visão empreendedora para reutilizar essas madeiras que são descartadas, evitando o corte de árvores. Ele tem ainda como missão de vida contribuir para uma economia circular. “Noventa e oito por cento do material usado aqui é recolhido da rua. E os outros 2% já estou tratando de descartar de uma forma sustentável”, afirma.


“O que eu trabalho aqui é o conceito de móveis feitos a partir de uma marcenaria ecológica”, explica o fundador, que tem como coordenador da área de confecção dos móveis o amigo Pedro Catapau, de 51 anos.


O espaço funciona no Paquetá e destoa do visual industrial da região. Logo na porta, há placas mostrando o que é a loja e também um porta vasos de parede feito dos pallets.


No local, estão disponíveis, ainda, cadeiras, mesas, estantes, balcões. “Vendemos muito as sapateiras, porque percebemos a necessidade dos calçados ficarem fora. As pessoas pediram. E a cada demanda, fomos adaptando”, diz.


Há modelos verticais, horizontais, com ou sem banco em cima – estes últimos com uma almofada.


História


Pedro, o amigo e coordenador da área de confecção, e André: na pandemia, sapateiras estão em foco (Foto: Vanessa Rodrigues)


A família mineira já tem um histórico de ajuda aos mais necessitados. Pais e tias já procuravam fazer algum tipo de arrecadação e doar a quem precisa.


Esse estilo de vida foi o que fez Laface, formado em Gestão Ambiental com especialização em Recursos Hídricos, começar, há pouco mais de 4 anos, uma espécie de brechó com móveis usados, chamado Garagem Social.


Até hoje, o Garage mantém o foco em apoiar atividades culturais, sociais, LGBTI+, musicais, como prioridade, em Santos, com estruturas de pallets. Eles estiveram presentes, por exemplo, no Curta Santos e no Festival Geek.


“Basicamente, tudo que a gente faz é reuso, com exceção das cadeiras de bar. E não temos como fugir de parafusos, cola e as tábuas de 30 centímetros, que não são fáceis de encontrar”.


Essas últimas são necessárias para fazer os balcões, que até a pandemia, eram seus principais produtos. Desmontáveis e adaptáveis, eles ganharam espaço, sendo vendidos tanto para pessoas físicas como para lojas.


No ano passado, as sapateiras foram também o que tornou a loja conhecida. O investimento foi dando certo e na crise Laface tomou a decisão de crescer, juntando-se ao Pedro, dono da Oficina Catatau.
“Ele já trabalhou com oficinas infantis e queria desmontar o seu espaço. Estamos ainda com bastante dificuldade financeira por adaptação do espaço, funcionários, mas integramos a garagem do Pallet com a oficina do Pedro”, conta.


Está dando certo. Ano passado, eles venderam maios de 1,5 mil sapateiras.


Agora, querem mais. Estão prestes a fechar uma parceria com um primeiro terminal para recolher, gratuitamente, madeiras que são conhecidas como pallets fora de padrão. Hoje, os terminais pagam para triturar essas madeiras.


“Eles irão destinar isso de graça, para que a gente consiga fazer o máximo de móveis e até mesmo vender essa madeira”, conclui.


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