Projeto em Santos realiza inclusão de deficientes e idosos por meio do surfe

Primeira Escola Pública de Surfe do Brasil existe desde 1992 e já beneficiou cerca de 30 mil pessoas

Por: Verônica Sampaio & De A Tribuna On-line &  -  07/02/19  -  16:47

A prancha de surfe e as ondas do mar mudaram a vida de Raphael Guilherme dos Santos, de 17 anos. Raphael tem paralisia cerebral e encontrou no surfe a melhor forma de superar os obstáculos do dia a dia. Participante do projeto Sonhando sobre as Ondas, ele está há sete anos na primeira Escola Pública de Surfe do Brasil, localizada no Posto 2, na praia de Santos.


A mãe de Raphael, Fabiana dos Santos, de 35 anos, conta que o filho era cadeirante antes de começar a participar do projeto. “O que aconteceu com o meu filho foi mágico, foi de repente, nem eu esperava. Foi tudo com muito amor. Eles têm muito incentivo para dar, eles se dedicam. Os professores são bons no que fazem”, diz.


Raphael era cadeirante antes de iniciar o projeto, e hoje anda normalmente
Raphael era cadeirante antes de iniciar o projeto, e hoje anda normalmente   Foto: Arquivo pessoal/Fabiana dos Santos

Fabiana conta ainda como conheceu o projeto. “O Raphael tinha feito uma cirurgia com 9 anos, ele fazia fisioterapia. Só que meu filho ficou dois meses de gesso, e quando tirou doía muito para mexer. Ele chorava de um lado e eu chorava do outro. Até que conheci um amigo do Cisco (Araña) que estava cursando fisioterapia, ele falou que era surfista e me indicou a escola. Quando chegamos lá, o Cisco colocou a roupa de borracha nele e levou ele para o mar. Depois desse dia nós nunca mais saímos do surfe”, relata.


A mãe revela que o filho não fica mais sem o mar e que, para ele, a sensação é de liberdade. “Ninguém acreditava que meu filho ia andar. Ele estava em uma cadeira de rodas. Quando as pessoas me perguntavam se ele ia andar, eu falava “Ele vai, um dia se ele quiser ele vai andar”, afirma.


Fabiana diz que antes do projeto ela tinha um filho cadeirante, que não segurava o tronco e vivia de cabeça baixa. Depois do surfe, ele começou a se desenvolver. “Eu falo que o surfe foi o tempero que faltava no meu feijão. Foi maravilhoso na vida do meu filho, mudou a vida dele. Agora ele já faz várias coisas sozinho. Foi uma melhora que nem eu acreditava que ia acontecer na vida dele”, finaliza.


Para Maria Aparecida Mobrizi, de 60 anos, o projeto tem sido maravilhoso. Segundo ela, estar junto com sua turma da terceira idade é realizar um sonho, pois muitos sempre quiseram surfar e hoje tem essa oportunidade. “Você sente-se viva. A cada aula voltamos à infância e nos divertimos muito, graças ao Cisco que idealizou esse projeto”, diz.


Maria Aparecida está há três meses participando do projeto. Segundo ela, estar em contato com o mar é animador e dá força para continuar. “Deu um novo sentido a vida, e a cada dia conhecemos pessoas com a mesma sintonia. Procuramos sempre ajudar uns aos outros, criamos uma Ohana (família)”, revela.


A designer de moda diz que já surfava antes do projeto, mas por conta de uma depressão ficou muito tempo longe do mar. “Encontrei o Cisco e ele me convidou para uma aula e eu amei. Hoje eu levo o surfe para o meu dia a dia, vou transcendendo meus limites a cada aula, e levo essa experiência para o meu trabalho”, comenta.


Idosos usam a aula para conversar e evitar problemas como solidão e depressão
Idosos usam a aula para conversar e evitar problemas como solidão e depressão   Foto: Arquivo pessoal/Cisco Araña

Maria conta que se sente muito grata por participar do projeto. Ela diz que todos temos uma história de superação que pode ajudar aos outros. “Quando a onda vem você tem três opções: remar e ir de encontro a ela e passar por cima, ficar sentada e tomar na cabeça ou remar e deslizar sobre as ondas. Na vida também é assim, chega um dia que você tem duas opções: desligar ou reiniciar, e eu escolhi reiniciar”, finaliza.


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