Programa Maré de Ciência faz com que crianças descubram outro mundo

Projeto no Dique da Vila Gilda muda olhares

Por: Tatiane Calixto & Da Redação &  -  15/06/19  -  23:28
Projeto foi desenvolvido por professores e alunos da Unifesp, para tirar a ciência da academia
Projeto foi desenvolvido por professores e alunos da Unifesp, para tirar a ciência da academia   Foto: Irandy Ribas/AT

Kauê Bonfim Matos da Silva aposta no tripé reduzir, reutilizar e reciclar para resolver um problema que vem preocupando a humanidade e desafiando cientistas no mundo: a poluição de rios e mares. Ele tem uma meta ambiciosa. Nada mais, nada menos que salvar o mundo. “Com o meu conhecimento, eu quero salvar o mundo da poluição”, diz, firme, o garoto de 10 anos.


O pequeno super-herói é cria do Dique da Vila Gilda, em Santos, considerada a maior favela sobre palafitas do País. “Se não fosse a poluição, a gente conseguiria estar nadando nessa maré”, diz, visionário, referindo-se ao Rio dos Bugres que margeia o Dique.


Se em toda história de super-heróis eles precisam de ajuda para desenvolver seus poderes, Kauê e cerca de 20 crianças do Dique da Vila Gilda contam com um empurrãozinho do programa Maré de Ciência.


Desenvolvido por professores e estudantes do Departamento de Ciências do Mar (DCMar), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o programa leva a ciência para fora do meio acadêmico.


Traduzindo termos técnicos e compartilhando conhecimento, o Maré – que tem outros braços além das ações no Dique – faz com que a comunidade entenda que a ciência está no dia a dia e isso tem impacto em vários sentidos.


"A ideia é que a gente ajude-os a perceber melhor o ambiente onde vivem e, a partir disso, também vamos propondo mudanças e hábitos mais saudáveis”, explica professora Bárbara Lage, do DCMar da Unifesp e uma das coordenadores do projeto que acontece na sede do projeto Arte no Dique.


Contexto


No Programa Maré de Ciência é trabalhada a construção de sabercolaborativo e ativo em prol da conservação do ambiente marinho e costeiro. São desenvolvidos modelo de ciência cidadã e de engajamento dos diferentes setores para a conservação dos oceanos alinhado com o Programa Ocean Literacy da Unesco. Para este momento, o programa Maré de Ciência conta com os projetos: Maré de Ciência com a Comunidade, Ciência Cidadã. Na Escola e Mulheres e Meninas. São parceiros do programa a Unifesp, British Council, Instituto Arte no Dique e Prefeitura de Santos.


Horizonte mais amplo
Por outro lado, falar de Ciência, pesquisa e universidade para as crianças é também ampliar horizontes. “É despertar o sonho da universidade que muitas vezes eles e a família não têm. Por isso, fizemos uma oficina de sonhos, para que eles pensassem na profissão que poderiam exercer no futuro, mas fizemos questão de questionar como, independente da profissão, poderiam utilizar o que aprendem aqui”.


Gabriel Marques Leão, de 10 anos, enumera o que já aprendeu nas atividades do Maré de Ciência: pepino-do-mar não é um alimento, mas um animal; e o ouriço-do-mar tem espinhos para se proteger. Ele ainda não tem ideia de que profissão quer exercer no futuro, mas garante que quer fazer uma faculdade. “Eu não pensava nisso antes. Comecei a querer fazer depois que entrei aqui”.


Para Brenno Azevedo Curcio, de 9 anos, as tarefas do colégio ficaram mais fáceis com o conhecimento que adquire no projeto e, além disso, a família ganhou quase um professor particular. “Algumas coisas eu ensino em casa. Lá, ninguém sabia que a água não se mistura com óleo. Aí, eu mostrei”, conta, orgulhoso.


E não são apenas os alunos mais novos que ganham. Os universitários que utilizam o projeto como atividade de extensão garantem que é extremamente positivo. “Na faculdade, tudo é muito técnico. Aqui, a gente tem que traduzir, simplificar. Isso pode até parecer fácil, mas é extremamente difícil”, diz Alexsandra Caldeirão, 20 anos, aluna do curso de Ciências do Mar. “E estar aqui é uma troca. A gente ensina, mas também aprende muito com eles e saímos daqui modificados”.


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