Professora de Santos fala sobre reabertura das escolas e aprendizado perdido: 'Tem que correr atrás'

Infectologista Evaldo Stanislau disse à ATribuna.com.br que não vê problema no retorno desde que seja aplicado um bom protocolo. Secretária de Educação também comentou sobre segurança da volta

Por: Brenda Bento  -  12/04/21  -  18:25
Município não seguirá a linha já anunciada pelo Governo do Estado
Município não seguirá a linha já anunciada pelo Governo do Estado   Foto: Divulgação/Prefeitura de Guarujá

A professora Gisele Aparecida Madureira da Silva, de 46 anos, contou à reportagem de ATribuna.com.bra opinião dela sobre o retorno das aulas semipresenciais da rede municipal de ensino em Santos. Para ela, o sistema remoto com uso de vídeos não é a mesma coisa do 'calor humano' da sala de aula. A reabertura das escolas estava prevista para segunda-feira (12), mas foi adiada para 3 de maio.


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Gisele explicou que não é possível cogitar a ideia de repetir os alunos para que eles reponham presencialmente todo o conteúdo de 1 ano e 4 meses em que ficaram longe das salas de aula. "Sei que é difícil - até meio que impossível - porque passou um ano. A criança que estava no jardim já está na pré-escola.O jeito é correr atrás e tentar se desdobrar ao máximo para ajudar essas crianças."


Mesmo com o medo do vírus e sem previsão ainda de quando poderá ser vacinada por causa da idade, ela é favorável ao retorno das aulas, pois se preocupa com o tempo perdido. "Entramos em mais um ano [ainda com pandemia] e é um tempo que não volta na vida deles, uma educação que está sendo pulada."


"O medo sempre está, medo do que a gente não vê, é um medo constante, tenho medo do vírus sim, mas [estou] muito preocupada com os alunos, o tempo que ficam na escola eles se sentem mais 'olhados' porque muitas vezes em casa não tem esse cuidado por causa da correria dos pais. Preocupação com eles e também com a questão da educação", enfatizou a professora.


Improvisação no ensino


A professora contou que no início de 2020 transformou a casa dela em escola, com direito a uma parede no fundo com o nome da escola para gravar as atividades que seriam enviadas aos alunos.


Entretanto, ela reforçou que foi necessário redobrar o cuidado e atenção na hora de formular as atividades, pois alguns objetos e materiais não são acessíveis às crianças, por exemplo, um E.V.A, e nesses casos era necessário a adaptação para que todos conseguissem realizar as tarefas com itens que todos facilmente têm em casa.


"Cuido de crianças há 21 anos, criei um olhar em que percebo quando elas estão cabisbaixas, com a bochecha vermelha por estarem com febre. A escola é o lugar onde eles podem liberar essas emoções. Eu não teria optado em deixar meu filho com a minha mãe para cuidar do filho dos outros se não fosse de coração. O professor que tem esse carinho, que vê a educação acima de tudo quer essa volta [das aulas]" , afirmou Gisele.


Governo não prevê endurecer restrições para conter Covid-19
Governo não prevê endurecer restrições para conter Covid-19   Foto: Reprodução/Facebook

Eficácia dos protocolos


A reportagem de ATribuna.com.br também conversou com o infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo sobre a reabertura das escolas. Ele disse que essa questão deve ser relacionada à uma análise se há ou não protocolo que, segundo ele, a própria Organização Mundial da Saúde (OMS) relacionou pontos para tornar o retorno às aulas mais seguro. "Se existe um bom protocolo não vejo problema do retorno das aulas."


Araújo acrescentou que a vacinação dos educadores é muito importante, mas que na falta dela um bom protocolo garante a segurança. "Todos os educadores deveriam estar vacinados, pois diminui a chance de ter uma forma mais grave da doença e, consequentemente, a morte."


O infectologista destacou que o problema na aplicação dos protocolos é o não cumprimento deles. "Não adianta fazer de conta e não usar máscara corretamente. Uma coisa que gosto de falar é que o que vai acontecer daqui a duas semanas depende de hoje, do agora."


Reabertura das escolas


Com o fim do lockdown, a prefeitura de Santos publicou um novo decreto, no domingo (4), estabelecendo as regras do período da Fase Emergencial no município.


Entre elas, constava a reabertura das unidades municipais de Educação a partir de segunda-feira (12), com limite de 20% da capacidade, entretanto, na quinta-feira (8) a secretaria de Educação adiou o retorno para 3 de maio.


A partir de segunda (12), as escolas municipais estarão abertas apenas para apoio pedagógico, distribuição de cestas básicas e materiais impressos, de acordo com a avaliação da escola junto ao supervidor de ensino sobre a necessidade de atendimento da própria comunidade.


Cristina Barletta, secretaria Educação de Santos
Cristina Barletta, secretaria Educação de Santos   Foto: Marcelo Martins/Prefeitura de Santos

'Está na hora do retorno'


A secretária de Educação de Santos, Cristina Barletta, afirmou àATribuna.com.br que é necessário que os pais entendam que está na hora do retorno às aulas. "A escola não é só a questão da aprendizagem, mas também de socialização. A gente precisa de um trabalho muito intenso para minimizar todo esse tempo que nós estivemos só com a possibilidade do ensino remoto."


"Estou [como] secretária de Educação, mas até pouco tempo estava na direção de uma escola, também sou professora e a gente percebe que os nossos alunos estão tristes com esse afastamento, eles estão desmotivados, pois eles precisam conviver com os seus pares. A escola ela favorece que essas crianças, que por tanto tempo estiveram afastadas, que elas reecontrem os seus pares para que a gente volte a ter um equilíbrio emocional", disse.


Ela explicou que a previsão é que o retorno em maio continue com o limite de 20% dos aulas, mas se caso o município tenha indicadores positivos, com cautela e segurança essa capacidade será aumentada.


A secretária disse que o protocolo é padronizado para todas as escolas e é de acordo com as exigências do Plano São Paulo, como disponibilização de álcool em gel, sabonete líquido, papel toalha, tapete sanitizante, termômetro para aferição de temperatura e distanciamento de 1,5m a 2m entre um aluno e outro. "Nós fizemos aquisição de tudo que é necessário para mantermos nosso ambiente seguro."


A vacina dos profissionais da Educação também é um motivo para tranquilizar esse retorno. "É um dia para ser celebrado, algo muito esperado. Com certeza isso vai trazer uma esperança, vai trazer uma segurança não só para os profissionais de educação como às famílias de acreditar que teremos um ambiente mais seguro."


"Eu quero deixar claro que o lugar mais seguro para os nossos alunos é a escola. Essa retomada é essencial, a educação precisa ser entendida como prioritária e essencial por parte dos pais também", finalizou.


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