O velho casarão em busca de uma nova identidade

Instituto Histórico e Geográfico de Santos entra em nova fase

Por: Arminda Augusto  -  14/06/20  -  12:22
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Júlio Conceição, o memorável personagem da história santista do final do século 19, teria orgulho de ver no que está se transformando a entidade da qual foi o primeiro presidente: o Instituto Histórico e Geográfico de Santos.


Quem pelo 689 da Avenida Conselheiro Nébias acha que é só mais um casarão antigo, carente de restauro e sem visitação. As impressões são essas mesmas, mas escondem um verdadeiro canteiro de obras montado há dois meses em seu interior.


O prédio foi construído em 1886, é tombado pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Santos (Condepasa) e o mais antigo da Cidade fora da região central.


Sua construção guarda algumas características típicas dos séculos passados, como não ter tijolos nas paredes, mas um conjunto de massa e pedra, com uma espessura de 50 centímetros.


Surpresas


Por ser um bem tombado, as obras de recuperação e modernização precisam de cuidados especiais. Sérgio Willians, presidente para o biênio 2020/2021, sabia que seria preciso um grande volume de recursos para fazer todas as intervenções necessárias.


Então, resolveu fazer diferente: a cada pequena entrada de verba ou parceria com empresários da Cidade vai encaixando a empreitada, parte por parte.


Recuperação carece de cuidados especiais
Recuperação carece de cuidados especiais   Foto: Alexsander Ferraz/AT

É assim que está conseguindo dar cara nova ao saguão principal, já bem diferente do que era há seis meses. O carpete foi arrancado, deixando aparente o assoalho de madeira original, uma relíquia que vai ganhar lustre no final dos trabalhos.


As paredes ganharam pintura nova e estão livres dos quadros, gravuras e documentos antes pendurados, e que deixavam o ambiente “pesado”.


Mas antes de começar a pintura nesse salão, Sérgio Willians foi surpreendido: havia muitas camadas de tinta por cima de uma pintura artística, provavelmente datada da origem do prédio ou de quando foi transformado em residência, em 1915.


“Foi necessário uma prospecção cuidadosa para chegar a essa arte”, diz o presidente, que vai manter apenas uma parede com essa arte para que os visitantes saibam como era.


As portas e batentes foram outra surpresa. São de pinho de riga, uma madeira nobre que chegou ao Brasil no período da colonização portuguesa. Dezenas de camadas de tinta escondiam a beleza do material, que agora estará exposto em uma das portas.


Os cinco lustres velhos também foram retirados e restaurados pelo artista plástico Rica, o mesmo que assina o famoso Peixe na entrada da Cidade, entre outras obras. 


Tanta história


Cada ambiente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos guarda um pedaço da história da Cidade. Difícil absorver tudo em uma breve conversa com o presidente, um aficcionado por História e autor da página Era uma vez Santos, publicada em A Tribuna quinzenalmente.
Sérgio Willians vai manter no saguão principal apenas uma placa, a que homenageia o santista Valentim Bouças. Nascido em 1891, o empresário ficou muito rico depois de trazer para o Brasil os negócios da americana IBM, no século passado.


O instituto foi fundado em janeiro de 1938, no centenário do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil. Em 1942, os proprietários do casarão queriam vendê-lo, mas a entidade não dispunha de recursos. Valentim Bouças comprou o imóvel e o doou ao instituto.


Ideia é criar Museu Histórico de Santos


As obras no Instituto Histórico e Geográfico de Santos não são só para recuperá-lo. A ideia de Sérgio Willians é ousada: ele quer transformar o casarão da Conselheiro Nébias no Museu Histórico de Santos, com recursos tecnológicos e interatividade. 


Além disso, quer ver o centenário casarão como mais uma opção cultural na Cidade, para pequenos eventos, lançamento de livros, apresentações de música e um bistrô.


O salão principal foi o pontapé inicial e, mais uns dois ou três meses, já estará concluído. “Não adianta só restaurar. É preciso dar vida e movimento a este espaço, trazer gente pra cá”, diz Sérgio Willians.


Ajuda empresarial


As despesas do instituto são pagas com a subvenção da Prefeitura, de cerca de R$ 3 mil mensais, e a contribuição dos 73 associados.


Mas as obras têm sido tocadas com a ajuda do empresariado local. Além do material e mão-de-obra para o salão principal e escadaria, o IHGS conseguiu a doação de quatro monitores de LCD com um empresário do setor de café.


Esses monitores ficarão nas paredes do salão, passando imagens históricas da Cidade, extraídas do grande acervo da instituição.


A ideia de Sérgio Willians é usar a tecnologia para dar vida à História, a exemplo do que já acontece em alguns museus do mundo.


Um outro monitor de 75 polegadas ficará na sala anexa, a sala de audiovisual. “É onde o visitante terá a percepção do momento histórico que estiver sendo exibido, com imagens, vídeos e sons”, diz.


Listas de obras é extensa, mas ajuda pode ser de qualquer valor


Os empresários que ajudarem nas obras terão lugar na reinauguração do salão principal, prevista para este ano, caso a pandemia do coronavírus já esteja mais controlada.


A lista de obras é grande, mas cada um pode ajudar com o que for possível: telhado frontal, telhado da sacada, banheiro do primeiro andar, elevador ou plataforma para garantir acessibilidade, amarração do terceiro piso, salas do terceiro piso, bistrô, prédio para a biblioteca na parte de trás, fachada, piso externo, telhado maior, entre outras de valor mais elevado.


A ideia é lançar dia 7 de setembro a campanha “Vamos juntos contar a nossa história”, com meta de inaugurar um painel artístico em 7 de setembro de 2022, para as comemorações do Bicentenário da Independência.


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