Novo coronavírus avança para regiões mais pobres de Santos

Bairros mais carentes da cidade concentram mais mortes desde o mês passado; confira o mapeamento da Covid-19 no município

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  26/04/20  -  15:53
Prefeitura de Santos estipulou 4,40% de aumento na taxa do IPTU
Prefeitura de Santos estipulou 4,40% de aumento na taxa do IPTU   Foto: Alberto Marques/AT

O novo coronavírus avança para as regiões mais pobres de Santos. Apesar de o maior número de casos confirmados da doença ainda estar em bairros santistas de poder aquisitivo elevado, as demais localidades da Cidade concentram mais óbitos por covid-19. A taxa de letalidade nesses pontos supera em 3,3 vezes a marca dos núcleos próximos à orla.


A comparação é possível pelo mapeamento da evolução da epidemia por bairros santistas, com informações divulgadas no site www.santos.sp.gov.br/saude/dadoscoronavirus. Até sexta-feira (24), os bairros de nível econômico elevado somavam 202 casos e sete mortes (um óbito por 28,9 pacientes). 


>> Confira o mapeamento da Covid-19 nos bairros de Santos


Os demais núcleos têm 173 pessoas infectadas e 20 vítimas fatais (uma para 8,7 testes positivos). Não foram informadas as localizações dos outros 115 santistas infectados e de cinco mortes registradas. A Prefeitura destaca, porém, que oito óbitos (25,8%) ocorridos em uma instituição beneficente da Vila Nova causam leve distorção na análise dos dados (veja destaque).


De todo modo, os números acendem o alerta de autoridades sanitárias para o reforço de ações específicas de isolamento social nos locais com maior proporção de óbitos. Segundo especialistas, o mapeamento é mais uma ferramenta tecnológica para a definição de estratégias para reduzir a curva epidemiológica. 


Isso porque, apesar de Santos ser a 13ª cidade paulista mais populosa do Estado, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ocupa o segundo lugar em número de casos confirmados. Está atrás apenas da Capital, superando centros urbanos como Osasco e Guarulhos.


Mapeamento


Conforme o mapeamento santista, Boqueirão (55) e Gonzaga (35) eram os bairros com mais casos confirmados de covid-19 até sexta-feira (24). Juntos, concentravam 5,3 pacientes com resultado positivo do novo coronavírus a cada dez moradores da Cidade. 


A mesma proporção não é verificada nos óbitos nesses locais, representando 6% (ou uma morte a cada 45 infectados). O secretário municipal de Saúde, Fábio Ferraz, destaca que a taxa de contágio preocupa, pois são locais altamente adensados.


Aparecida (30 casos) e Campo Grande (28), por exemplo, somam três mortes com laudos conclusivos por covid-19, o que representa um óbito a cada 22 pacientes. 


Com exceção da Vila Nova, considerada um ponto fora da curva pelo Poder Público, a situação é mais aguda nos morros e Zona Noroeste. Essas localidades registram poucos casos confirmados em relação à orla, mas a taxa de letalidade é elevada. 


São Jorge, por exemplo, teve quatro casos confirmados e um óbito. Na Vila Progresso e no Morro São Bento, três pessoas de cada comunidade contraíram a doença e uma morreu por complicações da covid-19. A Prefeitura diz elaborar ações específicas para a realidade de cada local do Município.


Análise


“Os dados refletem as diferenças sociais: mais doença crônica e menos acesso ao cuidado entre a população com poder aquisitivo menor. Por outro lado, mais acesso e melhor cuidado na população de bairros mais ricos”, diz o médico infectologista Evaldo Stanislau. 


Segundo ele, esse desequilíbrio econômico se repete em todos os países com circulação do novo coronavírus. “A desigualdade é importante na covid-19. Minorias morrem mais, inclusive nos Estados Unidos (negros e latinos), refletindo isso”.


Fenômeno se repete em outros municípios da região


O movimento da covid-19 para bairros periféricos tamb[ém é monitorado pelas demais cidades da região. Três dos quatro municípios centrais da Baixada Santista afirmam adotar o mapeamento por regiões para definir prioridades de atuação frente à pandemia.


Em São Vicente, a taxa de letalidade em relação ao número de pacientes é superior na Área Continental. Enquanto a Área Insular registrava, na sexta-feira, 40 casos e cinco mortes (uma para cada oito pacientes), os bairros após o Canal dos Barreiros tinham 17 resultados positivos e cinco óbitos (um em cada 3,4).
A principal concentração de vagas hospitalares para o tratamento da doença está na área insular. Para o Poder Público, essa disparidade se deve pelo maior acesso a exames e atendimento médico.


Sem informar os números por bairro, Praia Grande afirma mapear a velocidade de transmissão da doença para a tomada de decisões. Em Cubatão, os bairros nobres e centrais ainda concentram a maioria dos casos. Porém, o vírus chegou a Vila dos Pescadores, Vila Esperança e Bolsões.


Em Guarujá, a maior concentração de casos confirmados do novo coronavírus é no Pae Cará, em Vicente de Carvalho. O secretário adjunto de Saúde da Cidade, Marcelo de César, explica que o monitoramento dos casos por bairro é vital e cita um problema. “É mais complicado manter o isolamento de uma família que divide o mesmo cômodo”.


Fatores


“O desenvolvimento urbano de Guarujá facilita a atuação das nossas equipes, por um lado, mas prejudica por outro. É muito mais complicado manter o isolamento de uma família que divide o mesmo cômodo”, disse o secretário.


Ele informa que, na Cidade, as faixas etárias de 31 a 40 anos e de 51 a 60 têm mais casos confirmados. Mulheres representam seis em cada dez laudos positivos. “Se não fosse a suspensão das aulas, teríamos muito mais casos em todas as idades”.


Logo A Tribuna
Newsletter