Navio alemão se junta ao mistério dos destroços na Praia do Embaré, em Santos

Agora, se diz que veleiro Nanny, barca que fazia o transporte de carvão para o cais santista, teria encalhado ali

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  24/08/19  -  16:45
Restos encalhados na praia foram atribuídos a embarcação inglesa Kestrel
Restos encalhados na praia foram atribuídos a embarcação inglesa Kestrel   Foto: Nirley Sena/Arquivo/AT

O mistério que ronda os vestígios de uma centenária embarcação que reapareceram há uma semana na Praia do Embaré, em Santos, ganha um novo capítulo. Estudos dão pistas de que os destroços, visíveis com o recuo da maré, seriam de um navio alemão que encalhou naquela região em 11 de maio de 1890.


A nova hipótese, também “plausível”, é de que as estruturas soterradas seriam os restos do casco do veleiro Nanny, barca que fazia o transporte de carvão para o cais santista.


A investigação se une à análise pela qual as ruínas seriam do veleiro inglês Kestrel, encalhado naquela região em fevereiro de 1895. Essa era a principal hipótese em debate há dois anos, quando as estruturas ressurgiram após uma forte ressaca, em agosto de 2017. 


Contudo, uma reportagem de A Tribuna, datada de 1º de setembro de 1978, foi o ponto de partida de nova investigação histórica. O assunto foi retomado pelo biólogo marinho Luiz Alonso Ferreira e pelo historiador Luiz Gonçalves Alonso Ferreira, responsáveis pelo Museu Marítimo de Santos, na Ponta da Praia.


Os dois acreditam que o aparecimento de pedaços de madeira e metal, similares aos de um casco de navio, revelam a última aventura da barca alemã, cujo fim ocorreu nas areias santistas. “As características de tamanho [da embarcação] e de como encalhou, com a proa [parte da frente] direcionada a São Vicente, nos fazem crer que seja a barca alemã Nanny, cuja chegada e cujo encalhe foram amplamente noticiados na época”, diz Luiz Alonso. 


A perspectiva de ser a embarcação alemã era uma das hipóteses do fundador do extinto Museu Histórico Naval de São Vicente, o engenheiro civil e pesquisador Carlos Alfredo Hablitzel. No fim dos anos 1970, ele indicou três possíveis embarcações das quais poderiam ser os vestígios soterrados – a Nanny era a possibilidade mais aceita por ele. 


Técnicas atuais fizeram os pesquisadores descartarem as outras duas possibilidades indicadas por Hablitzel. Uma delas, de um navio também alemão (que pode estar em outro local) e de outro, sem origem definida, que encalhou em uma praia diferente de Santos.


Outra Pista


Além das dimensões do navio, os pesquisadores indicam outra pista: pequenos fragmentos coletados próximos ao casco aparentam ser de coque, uma variação de carvão.


“A barca estava carregada dessa mercadoria, como comprova farto e rico material jornalístico daquela ocasião”, continua o biólogo. Ele afirma que a estrutura à mostra se assemelha à de veleiros da segunda metade do século 19.


O jornalista especializado em naufrágios José Carlos Silvares considera “bastante plausível ser o Nanny”. Cita, para isso, a pesquisa minuciosa de Hablitzel a respeito de naufrágios no Brasil. “Ele tinha informações de que a Marinha não dispunha na época e por muitas vezes forneceu dados e diretrizes para pesquisas oficiais. Eu mesmo utilizei diversos informes de suas pesquisas em meus livros sobre naufrágios”, comenta. 


Num primeiro momento, Silvares acreditou que a embarcação fosse o vapor Glória, retratado pelo pintor Benedicto Calixto (1853- 1927) em uma área muito aproximada de onde estão hoje os destroços. “Em todo o caso, persiste o mistério, até que se consiga precisar o fato”, afirma.


O veleiro


Nanny foi um veleiro de bandeira alemã, com três mastros e casco de ferro, construído em 1868 nos estaleiros da empresa Thomas Royden & Sons, de Liverpool (Inglaterra). A embarcação era classificada como “barca”, caracterizada pelas velas redondas nos mastros de traquete (proa) e grande (central) e velas latinas no mastro de mezena (popa). Possuía 172 pés de comprimento (52,50 metros), 28,6 pés de boca (8,70 metros) e 17,5 pés de calado (5,30 metros), pesando 612 toneladas. A suspeita é de que, após o encalhe na orla santista, foi vendida em leilão e desmantelada, conforme sugere a estrutura do navio abaixo da linha de flutuação soterrada no Embaré. 


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