Médico e ex-político, Fausto Figueira deixa Santos em busca de 'aposentadoria' na Bahia

Ex-deputado se criou na militância política e da vida; Ele se muda para o litoral baiano e atuará como médico voluntário

Por: Rafael Motta & Da Redação &  -  07/11/19  -  13:55
  Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

O oceano invade a sala do apartamento à beira-mar no pavimento número 13 – uma “feliz coincidência” para o homem que ali vive. Os olhos dele também marejam. Afinal, logo se despediria do imóvel no qual vivia há 27 anos e onde recebeu ministros, parlamentares, um presidente. Mas se emociona, sobretudo, porque “não está sendo fácil deixar Santos”, onde se iniciou na Medicina e se fez político.


Porém, pensa ser preciso “criar um desafio”, mesmo julgando que, aos 72 anos, “não temos mais muita chance de errar”. Assim, Fausto Figueira de Mello Júnior, que desempenhou funções como as de cirurgião geral, líder de categoria profissional, articulador político na gestão da ex-prefeita Telma de Souza, vereador com três mandatos incompletos e deputado estadual em duas legislaturas, está indo embora hoje da Cidade.


Figueira, que recebeu A Tribuna em casa, na terça-feira (5) parte com a arquiteta Tânia, com quem fará 49 anos de casamento no mês que vem, rumo a um sítio cujo nome contrasta com o mar: Remanso, que tem, entre seus significados, água calma e sossego. Fica em Salesópolis, no Interior. O endereço será dividido com uma casa em Belmonte, cidade de 23 mil habitantes no litoral baiano e a 695 quilômetros da capital, Salvador.


A busca por uma vida diferente nada tem a ver com a política, segundo este militante do PT, cujo número é o mesmo do andar ao qual ele está dizendo adeus. Nem com o desejo de tranquilidade. Resulta de uma reflexão: “Para que preciso de três casas? Vinte ternos? Cinquenta gravatas? Pagar condomínio?”. Exercitou o “desapego absoluto” e questionou “as coisas que acumulamos, exceto objetos com história”.


Um dos objetos que levará é uma placa retangular e dourada com a inscrição Dr. Figueira – Médico, que identificava o consultório de seu avô paterno e passou para seu pai, de quem herdou também o nome. Também faz sentido prático: de agora em diante, vai se dedicar somente à Medicina. 


“Quero atender gente, solucionar problemas, indicar o tratamento correto. Não vou pedir exames, porque quero diagnosticar” ouvindo e tocando pacientes. Está montando um consultório no sítio e “já tô com CRM (registro profissional) baiano”: será voluntário no Hospital Municipal de Belmonte, onde continuará o que fez por décadas em Santos – planejamento familiar, com vasectomias.


Aos pacientes santistas, avisa: mantém seu consultório na Cidade, aonde pretende voltar vez ou outra.


Vida dupla


Política e medicina permearam a vida da família, oriunda de São Paulo. O pai de Figueira era filiado ao antigo Partido Democrata Cristão (PDC), do qual fazia parte Franco Montoro, que governaria o Estado de 1983 a 1987. Concorreu a deputado federal, sem sucesso. Morreu em 1968, após uma cirurgia, ao ter sua Kombi – necessária para uma família com 11 filhos – abalroada por um caminhão.


Figueira tinha se mudado para Santos naquele ano, como aluno da primeira turma da Faculdade de Medicina da Fundação Lusíada e fundador do centro acadêmico do curso.


Meses antes, havia devolvido uma caneta que o pai, sem querer, pegou de um colega de debates num programa de televisão. Era o deputado estadual Esmeraldo Tarquínio, que levou Figueira ao MDB (sigla de oposição à ditadura), foi eleito prefeito e cassado.


Abrigo


Fausto Figueira voltou à Capital em 1972. A casa da família, no Jabaquara, era abrigo de perseguidos políticos. Completou o curso pela Universidade de São Paulo (USP), com residência no Hospital das Clínicas. 


Ali, conta, passaram presos torturados por agentes da ditadura. Era urgente salvar vidas e tornar isso público: quando se noticiava que um detido estava vivo, menor era a possibilidade de que fosse declarado desaparecido e, assim, eliminado.


Logo A Tribuna
Newsletter