Médico de Santos recebe vacina contra Covid-19: 'Alegria e preocupação que continua'

Evaldo Stanislau recebeu a primeira dose do imunizante CoronaVac em São Paulo. Infectologista segue preocupado com a imunização da população

Por: Bruno Gutierrez  -  19/01/21  -  10:33
Evaldo Stanislau foi imunizado nesta segunda-feira
Evaldo Stanislau foi imunizado nesta segunda-feira   Foto: Reprodução/Instagram

O médico infectologista Evaldo Stanislau Affonso de Araújo, de Santos, recebeu a primeira dose da vacina CoronaVac nesta segunda-feira (18). Profissional do Hospital das Clínicas da USP, de São Paulo, ele atua na linha de frente do combate a pandemia e está no grupo prioritário.


Clique e Assine A Tribuna por apenas R$ 1,90 e ganhe acesso completo ao Portal e dezenas de descontos em lojas, restaurantes e serviços!


Stanislau registrou o momento da aplicação em seu perfil nas redes sociais. Em conversa com ATribuna.com.br, Stanislau relatou um sentimento dúbio pelo momento da vacinação. "Foi uma sensação dúbia. Pessoalmente, de alívio por mim, me sentindo a caminho da proteção, feliz. Como se fosse o começo do final de uma história tão longa e tensa que a gente vem lidando que é a covid. Mas, ao mesmo tempo, dividido. Eu tenho a plena consciência que eu tomei vacina, meus colegas da área da Saúde também, mas nem todo mundo está tomando vacina. Segue a preocupação e a vontade de que todos tomem vacina. É uma sensação que é um híbrido de alegria, mas de preocupação que continua, que segue. Mas, com esperança", relatou o médico.


Para o infectologista, o início da vacinação é um ato mais simbólico do que efetivo. O médico esclareceu que publicou o vídeo para mostrar às pessoas a importância de se vacinar e que não é preciso ter medo. Porém, as doses existentes ainda são poucas até para entender aos grupos prioritários.


"É mais simbólico porque mostra para as pessoas que é real. Eu fiz questão de postar meu vídeo tomando a vacina para mostrar que a vacina existe e que eu não tenho medo da vacina. O que eu falo, eu faço. Estou me vacinando e convidando as pessoas a se vacinarem. Agora, não é efetivo porque é uma quantidade tão pequena de vacinas, que não vai servir para a gente começar a mudar a história da doença. É importante as pessoas terem muita consciência de que nós não estamos fazendo uma imunização em massa. Nós sequer estamos vacinando todos os profissionais de saúde e as populações mais vulneráveis e idosos", comentou Stanislau, que cobrou ação dos governos para a disponibilização da IFA (Ingrediente Farmacêutico Ativo) para a fabricação de mais doses do imunizante.



Melhor situação em 2022


Para Evaldo Stalistau, o Brasil "está na lanterninha do campeonato mundial de vacinação", mas que tem capacidade e expertise para conseguir se recuperar. No entanto, voltou a ressaltar a necessidade de se ter os insumos. Para ele, em um cenário otimista, o País terá conseguido vacinar boa parte da população até o primeiro trimestre de 2022.


"Precisamos receber os insumos. Uma vez que recebemos os insumos, o Butantan tem capacidade de fabricar 1 milhão de doses por dia. Tem uma fábrica do Butantan, que será inaugurada no segundo semestre, que irá dobrar essa capacidade. Bio-Manguinhos/Fiocruz tem capacidade de fabricar outros milhões de doses. Tudo funcionando, num mês normal, o Brasil fabricaria, por baixo, 60 milhões de doses. Chegando os insumos, colocando as fábricas para funcionar e fazendo o que tem que fazer, que é vacinar todo mundo, eu acho que até o final do ano estaremos num cenário muito melhor. Diria que o último trimestre de 2021, primeiro trimestre de 2022, é a época.


'Não existe tratamento precoce'


O infectologista também enalteceu a posição dos membro da Anvisa, que ressaltaram que não existe tratamento precoce para a covid-19. Na visão do médico, as pessoas começaram a enxergar que a vacina é o caminho neste momento.


"Ontem (domingo,17), mais do que a liberação da vacina, aconteceu uma coisa muito importante. Eu e outros médicos ligados ao meio acadêmico já alertávamos que não existe tratamento para a covid. Nem tratamento e sequer tratamento preventivo ou precoce. Não existe. Ontem, a Anvisa disse, com todas as letras, o que a gente já vem dizendo. Não existe tratamento para covid. As pessoas começam a entender que tem dois jeitos de você se proteger da covid. Um são as medidas não farmacológicas. O nosso mantra. Só sai de casa se for absolutamente necessário, use a máscara o tempo inteiro corretamente, distanciamento e álcool em gel. E a outra é a vacina", disse Stanislau, que prosseguiu.


"Um detalhe que passava desapercebido para essas pessoas com um pensamento xenófobo e burro, não tem outro termo, que o próprio material, o insumo farmacêutico ativo, da vacina Astrazeneca/Oxford vem da China também. É um negacionismo duplo. Tem pessoas que negam a doença, isto é letal. E tem pessoas que negam a relevância da China. As pessoas gostem ou não, a China é a maior potência do mundo hoje. Daqui a pouco passa os Estados Unidos, se é que já não passou. E tem um desenvolvimento técnológico espetacular. Ao invés de brigar com a realidade e falar mal da China, nós temos que agradece-los. Tudo ou quase tudo que a gente usou para enfrentar essa pandemia, a começar pelos EPIs e até os insumos farmacêuticos ativos para fabricar a vacina acabam vindo da China", emendou.


Vacinação é um ato coletivo


Evaldo Stanislau também ressaltou que as vacinas são seguras e que a vacinação é um ato coletivo. "Nós todos estamos muito felizes com a vacina. Estamos com uma perspectiva ótima. Mas eu quero enfatizar duas coisas. Primeiro, as vacinas são absolutamente seguras. Todas elas. Já são milhões de pessoas vacinadas no mundo, inclusive, com a Coronavac. E não houve nenhum efeito colateral inesperado. Nada que preocupe. Número dois. Para que as vacinas atinjam o máximo da sua proteção, nós precisamos que todos se vacinem. Não adianta eu, você ou quem ler esta matéria tomar a vacina e achar que está tudo bom. Não está. A gente até pode, individualmente, estar mais protegido das formas graves. Mas, para que a gente impacte a circulação do vírus e proteja a sociedade como um todo, é importante que todos se vacinem. "A vacinação é um ato coletivo, não é um ato individual. E é um ato de respeito ao próximo", disse.


Por fim, o médico disse esperar que o ato dele ter se vacinado possa causar reflexão nas pessoas. "Eu espero que, com esse exemplo que eu torno público, fiz questão de mostrar que eu fui lá, me vacinei com muita alegria, com muita confiança e segurança, eu espero que as pessoas reflitam: 'Poxa vida. Doutor Evaldo foi lá, se vacinou sem medo e não aconteceu nada com ele. Eu vou vacinar também'. É esse o sentido. A gente quer que as pessoas se vacinem", finalizou.


Logo A Tribuna
Newsletter