Inserção no mercado de trabalho é desafio a deficientes

Apesar de iniciativas de capacitação e encaminhamento de entidades, inserção no mercado ainda é difícil para essas pessoas

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  21/09/19  -  20:51
Paula Lopes, do projeto Visão Eficiente, do Lar das Moças Cegas, com os alunos
Paula Lopes, do projeto Visão Eficiente, do Lar das Moças Cegas, com os alunos   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência (PcD) é comemorado neste sábado (21) – data na qual mais de 45 milhões de pessoas no país lembram que têm desafios extras. Entre eles, o da inserção no mercado de trabalho. 


São Paulo foi o estado que mais contratou PcDs em 2018: 133.481 trabalhadores. Mas 46.900 deles (35%) foram empregados em decorrência de fiscalização da Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, segundo dados do Ministério da Economia.


Oseias Soares de Lima, assistente social do Centro Público de Emprego e Trabalho de Santos (CPET), conta que a principal dificuldade é empregar quem tem deficiência intelectual. Grande parte das empresas não aceita nem entrevistar candidatos com esse perfil.


“Trabalho aqui há um ano e dois meses e acompanho apenas pessoas com deficiência intelectual. São cerca de 40 e, desse tempo para cá, apenas uma conseguiu emprego. Somando os outros, dá um total de 120. Este ano, foram 23 empregados”, conta.


Paula Lopes, pedagoga e responsável pelo projeto Visão Eficiente do Lar das Moças Cegas (LMC), confirma a dificuldade. No projeto, jovens a partir de 14 anos são treinados em cursos de dois anos. Há padaria inclusiva e aromaterapia na área do empreendedorismo e, no preparo para empresas, informática, telefonia, entre outros. Neste ano não houve nenhum novo aluno empregado. Em 2018 foram dez. 


Problema


Também integrante do Fórum de Empregabilidade da Pessoa Com Deficiência de Santos (Fepec), que reúne diversas entidades de auxílio a deficientes, Paula Lopes revela o problema. 


“Chega um deficiente numa empresa e ninguém sabe como lidar. Aí, todo mundo o deixa de lado. Até em sala de aula tem professor que, na hora de falar com o aluno, se dirige ao amigo do lado. Hoje, há programas de computador e celular gratuitos e muita facilidade para adaptar o trabalho a todos”, explica.


Oseias Lima concorda, nem sempre são os ambientes que precisam de adaptação. “Tem que mudar a atitude das pessoas e não o ambiente”, aponta.


Discriminação nas vagas


No CPET de Santos, somente um quarto das vagas que aparecem, ou menos, são a PcDs. “Nas entrevistas, focam tanto na deficiência que deixam de analisar as qualidades reais das pessoas. Muitas são bem qualificadas. O que falta mesmo é a oportunidade”, diz, lembrando também dos cargos direcionados. 


“Auxiliar de limpeza, auxiliar administrativo. Não se sabe se o problema é o preconceito na hora de contratar ou medo de os clientes não saberem lidar com o funcionário”, afirma. 


Para Paula Lopes, independentemente disso, seria bom apenas conhecer esse mundo. Por isso, o LMC realiza, além das capacitações abertas ao público cego da região, consultorias a empresas, escolas e faculdades.


“O maior incentivo não deveria o de ser fiscalizado e estar em dia com a obrigação. Mas de quebrar preconceitos”, diz. 


Kleiton Batista Nascimento Silva, aluno do LMC de 17 anos que estuda telefonia, resume, numa rima. “Mesmo sendo difícil, nós temos que lutar, porque só com esperança a gente vai conquistar. Mostrando a postura a todos os aliados, prova que é profissional e cego não é coitado”. 


Vagas em curso


Pessoas com deficiência interessadas em qualificação profissional ainda têm 150 vagas para cursos gratuitos em diversas áreas do Centro Paula Souza. A inscrição é no Centro Público de Emprego de Santos (Rua Amador Bueno, 249), das de segunda a sexta-feira,das 8h30 às 13h30. As aulas serão dadas nas Vilas Criativas Penha e Vila Nova e são abertas a moradores de toda a região.


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