Estudantes pedem expulsão de aluno após publicações racistas em universidade de Santos

Rapaz, do primeiro ano do curso de Direito, postou imagens em sua conta no Twitter. As publicações se espalharam entre alunos via Whatsapp

Por: Cássio Lyra  -  20/06/20  -  12:58
Publicação com teor racista foi disseminada em grupos de Whatsapp
Publicação com teor racista foi disseminada em grupos de Whatsapp   Foto: Reprodução

A terceiranista do curso de Direto da Universidade Católica de Santos, Carolina Souza de Almeida, de 19 anos, fez uma publicação em seu Instagram denunciando um primeiroanista, do mesmo curso, que teve prints de publicações racistas vazadas de uma rede social. A repercussão do caso viralizou na internet e estudantes e ex-alunos da instituição pedem que a universidade expulse o aluno em questão.


Carolina conversou com ATribuna.com.br. A estudante contou que viu algumas das imagens compartilhadas pelo rapaz no Twitter entre a noite de quarta-feira (17) e a madrugada de quinta (18). Com o apoio de amigos, Carolina, então, resolveu fazer uma publicação em sua rede social, denunciando as postagens racistas.


"Percebi que essas imagens que o menino compartilhou estavam sendo repassadas, de jeito privado, pelo whatsapp. Quando recebi, pensei que isso poderia ser um caso que iriam 'passar um pano' e ninguém falaria nada, por isso resolvi postar. Tomei muito cuidado ao fazer isso", explica.



Após a publicação, de quinta-feira, colegas de sala do aluno procuraram Carol para mostrar à ela mais mensagens e postagens ofensivas dele, que eram publicadas no grupo da sala do primeiro ano. Além de ofensas racistas, o jovem fazia apologia ao nazismo.


"As pessoas da sala dele me procuraram e explicaram tudo sobre o episódio. Me mandaram mais mensagens, prints, fotos, tudo. Ele tem o costume de fazer citações de livros nazistas, mencionava que a mensagem do nazismo foi algo bom pra humanidade. Ele acredita fielmente naquilo que postou".


A partir da sua postagem, que viralizou na internet, estudantes, ex-alunos e demais pessoas compartilharam a publicação de Carol cobrando posicionamento da universidade, inclusive, pedindo a expulsão do aluno. A estudante, no entanto, não acredita que a expulsão irá ocorrer.


"Sinceramente, não acho que ele vá ser expulso. Estamos em EAD (educação à distância) por causa da pandemia, fora do âmbito da faculdade. Acho que a faculdade vai esperar a poeira baixar. Talvez faça algo quando o menino matar um negro", afirmou.


"É uma faculdade católica. A gente sabe que é uma instituição predominantemente branca. A minha sala tem negros, mas a maioria das outras são pouquíssimos. É difícil se posicionar em uma universidade assim. Até por isso tive muito medo quando pensei em fazer a publicação", desabafou a estudante.


Procurada, a UniSantos informou que foi notificada sobre o ocorrido por alguns alunos e que está apurando o caso. Além disso, um professor do curso de Direito da universidade encaminhou os posts para a secretaria do Ministério Público de Santos para que se faça o encaminhamento para a promotoria criminal e de direitos humanos.


O advogado Guilherme de Oliveira, que presidiu a Comissão da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Santos, entre 2013 a 2015, entrou com uma denúncia no Ministério Público sobre o caso. O MP, no entanto, não confirmou o recebimento da denúncia até a publicação desta reportagem.


Carolina disse não acreditar que aluno será expulso de universidade
Carolina disse não acreditar que aluno será expulso de universidade   Foto: Arquivo pessoal

Apoio


Na quinta-feira, após a publicação, Carol conversou com alguns professores do curso que souberam do caso. Segundo ela, todos os profissionais demonstraram total apoio à ela, incluindo a diretora do curso, que afirmou que "as providências serão tomadas". 


"Eles me deram muito apoio, a diretora me disse que providências serão tomadas. Eles foram muito pacientes e solicitos, eu pude realmente me abrir com eles sobre toda a situação, eles nunca me privaram de nada que eu estava sentindo ou fazendo a respeito do caso. Espero sinceramente que esse exemplo sirva de conscientização para a própria faculdade de que não existe posts de humor negro. Quem faz isso, faz um pedido de desculpas como se isso bastasse e não acontecesse nunca mais. E não é bem assim".


Em casa, onde passa a maioria do tempo devido a pandemia do coronavírus, Carol teve conversas sobre o assunto com o seu avô e sua mãe. Eles tiveram pensamentos diferentes sobre o que a estudante fez em resposta ás ofensas raciais. 


"Meu avô é de uma geração mais antiga, então ele me alertou. Disse que não deveria ter feito a postagem, que até estaria colocando a minha vida em risco. A minha mãe, que já é de uma outra geração, super apoiou, ficou totalmente ao meu lado. Ela se precoupa, claro, com a minha segurança, mas que não é o caso para ficar quieta. Se achar necessário falar, então é para falar", completa.


Em outra publicação, aluno postou imagem com referência a morte de George Floyd
Em outra publicação, aluno postou imagem com referência a morte de George Floyd   Foto: Reprodução

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