Escavação de veleiro na Praia do Embaré, em Santos, está em xeque

Escavação dos destroços da embarcação descoberta na faixa de areia foi interrompido

Por: Da Redação  -  20/03/19  -  22:13
  Foto: Carlos Nogueira/AT

Sem conseguir captar recursos (cerca de R$ 2 milhões), o projeto de escavação dos destroços da centenária embarcação descoberta na faixa de areia da Praia do Embaré, em Santos, foi interrompido. A suspeita é de que os vestígios das estruturas com mais de 50 metros, visíveis novamente nesta semana com o recuo da maré, sejam do veleiro inglês Kestrel, que encalhou naquela região em fevereiro de 1895.


As ruínas do navio reapareceram após forte ressaca em agosto de 2017, próximo ao Canal 5. Um grupo liderado pelo arqueólogo Manoel Gonzalez analisou as características das peças aparentes para determinar a provável origem.


“Por todas as evidências, parece se tratar do veleiro de bandeira inglesa do fim do século 19. Para ter 100% de certeza, apenas com as escavações”, diz


Segundo Gonzalez, foi justamente na etapa de preparação dos trabalhos para desenterrar a nau que o projeto emperrou. A equipe aguardava a autorização do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) para dar início à fase final de identificação dos destroços reaparecidos na orla santista.


“Só podemos mandar a proposta para o Iphan emitir a portaria [à ação arqueológica] quando tiver dinheiro em caixa ou garantia de ter um agente financiador. Mas, por enquanto, nada avançou”, afirma.


O arqueólogo diz que uma das formas de obter a verba se dá por intermédio do Ministério Público Estadual (MPE-SP). O promotor estadual de Justiça, Urbanismo e Meio Ambiente, Daury de Paula Junior, afirma que a legislação prevê direcionar multas cobradas por danos judiciais à proteção de patrimônio histórico, via Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).


Tesouro histórico


De acordo com o arqueólogo, a sondagem (técnica que emite frequência sonora para mapear o subsolo) revelou que os destroços estariam enterrados a uma profundidade de três metros em toda a extensão da área. A análise indicou que a parte frontal (proa do navio) está apontada para São Vicente; já a traseira (popa), rumo ao Canal 5. “A análise do sonar nos deu uma visão mais ampla do que está lá embaixo”.


Suspeita é de que os restos sejam do veleiro Krestel, de 1895
Suspeita é de que os restos sejam do veleiro Krestel, de 1895   Foto: Carlos Nogueira/AT

Gonzalez diz ter descoberto um objeto de metal de seis metros de comprimento por dois de largura no interior da antiga embarcação. Ele afirma que a peça – com tamanho de um carro popular – está localizada na parte da frente do navio.


“É quase impossível ser um tesouro [financeiro]. A embarcação não naufragou, mas encalhou. Toda a documentação histórica diz que no dia seguinte [ao encalhe], os marinheiros estavam na embarcação. Se tinha algo de valor, foi retirado”.


Contudo, ele acredita que o objeto possa guardar fragmentos históricos a narrar como era a vida a bordo naquela época. O especialista afirma que o intuito é entender o que acontecia no período, em que foram registrados casos de naufrágios.


“Entender como era a relação comercial de mercadorias, o translado e como viviam os tripulantes [das embarcações], pois faltam registros de como era o cotidiano desses trabalhadores do mar”.


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