Edmilson, chefe dos jardineiros da orla de Santos, dá as boas-vindas à primavera

Com 32 anos de trabalho, profissional fala da chegada da nova estação, que começa nesta segunda-feira (23)

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  22/09/19  -  22:21
Ansioso pelo início da primavera, Edmilson trabalha para manter tudo nos trinques na orla da praia
Ansioso pelo início da primavera, Edmilson trabalha para manter tudo nos trinques na orla da praia   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Com a atenção voltada ao solo e às ferramentas em mãos, Edmilson Lima Santos mantém um ritmo próprio. Aos 72 anos, cadenciado pelo balançar do vento nas plantas, ele confere, ramo por ramo, cerca de 70 espécies. Com a experiência de 32 anos de trabalho, um dos mais experientes jardineiros do maior jardim de praia do mundo garante: está tudo pronto na orla santista para a primavera, que começa nesta segunda-feira (23), às 4h50. 


Quem acha que Edmilson pega leve no trabalho por já poder se aposentar, se engana. Ele compõe um time de 20 jardineiros, dois ajudantes gerais e três operadores de máquina – e é o chefe da equipe do jardim da praia.


Mas, como em toda casa de ferreiro, o espeto é de pau, o sergipano de Japaratuba não tem nenhuma plantinha em casa. “Minha casa não tem jardim porque é toda cimentada. Eu tenho uma frente muito grande lá, mas até agora não fiz nada”, ri, confessando que nunca pensou nisso.


Perdoado pelo acaso, o filho de um pescador e de uma dona de casa e irmão de mais seis – quatro jardineiros – explica que o dom com as flores não veio da terra, mas do trabalho. Afinal, Edmilson aprendeu a plantar para se alimentar.


“O que eu mexia na terra antes era para plantar e colher mandioca, feijão. Arroz ninguém comia. Só farinha. Meu pai era pescador e eu o acompanhava. Por isso, hoje ainda pesco no fim de semana lá perto da Base Aérea de Santos e da Ilha Diana. Então, trabalho de segunda a sexta e vou pescar sábado ou domingo”, confessa, sobre sua segunda paixão.


Mostrando que sua vida não foi só flores, o homem do jardim santista lembra que veio para o litoral paulista já aos 21 anos de idade. Atuou por quase duas décadas na extinta Pensão Paulista, onde comia, dormia, servia como garçom e executava serviços gerais. Às vezes, jardinagem.


De lá surgiu o convite para trabalhar com alguém que se tornou amigo, cultivando plantas, até chegar ao time da praia e ajudar Santos a entrar no Livro dos Recordes, em 2001, pelos 5.335 metros de jardim, cobrindo 218.800 m² de área numa largura média de 45 metros.


“O que mais eu me orgulho é de trabalhar aqui por tanto tempo e nunca ter problema nem falta nenhuma. Passei do tempo de aposentar, mas prefiro continuar”.


Ele é o chefe da equipe do jardim da praia, que tem 25 profissionais
Ele é o chefe da equipe do jardim da praia, que tem 25 profissionais   Foto: Carlos Nogueira/ AT

Flores e espinhos


Quem trabalha com flores vive mais leve, diz Edmilson. Apesar disso, é fácil vê-lo bravo. O sergipano fica arretado só de lembrar de uma situação. “O que mais passo é raiva. Agora mesmo, vinha uma menina com um cachorrão que fez as necessidades dele no jardim. Eu olhei bem para ela e a moça ainda achou ruim. Poxa, a gente está trabalhando com a mão ali”, lembra, franzindo a testa.


Ele também fica bem bravo quando alguém olha para os lados, arranca uma flor e sai de fininho da praia, como se ninguém percebesse. “Estraga. Imagina se todo mundo pegar uma”.


Já rindo, o homem se diverte ao lembrar que, às vezes, são os santistas que ficam enfurecidos com ele. “Há situações em que estou podando a arnica e o pessoal grita: Essa planta não pode! Tira a mão daí. E digo: mas se eu cuido, como não mexer?”.


Uma hora bravo, outra feliz, o que Edmilson está mesmo é ansioso. Ao lembrar que a estação mais florida do ano bate na porta, os olhos dele brilham imaginando uma cena que quer ver se repetir demais. 


“Quando vejo alguém tirando foto das flores, aí é outra coisa, né? Fico contente porque é sinal que deu tão certo que vão querer mostrar para todo mundo. Tomara que muita gente venha mesmo ver”, torce ele, sorrindo até com os olhos.


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