Com a atenção voltada ao solo e às ferramentas em mãos, Edmilson Lima Santos mantém um ritmo próprio. Aos 72 anos, cadenciado pelo balançar do vento nas plantas, ele confere, ramo por ramo, cerca de 70 espécies. Com a experiência de 32 anos de trabalho, um dos mais experientes jardineiros do maior jardim de praia do mundo garante: está tudo pronto na orla santista para a primavera, que começa nesta segunda-feira (23), às 4h50.
Quem acha que Edmilson pega leve no trabalho por já poder se aposentar, se engana. Ele compõe um time de 20 jardineiros, dois ajudantes gerais e três operadores de máquina – e é o chefe da equipe do jardim da praia.
Mas, como em toda casa de ferreiro, o espeto é de pau, o sergipano de Japaratuba não tem nenhuma plantinha em casa. “Minha casa não tem jardim porque é toda cimentada. Eu tenho uma frente muito grande lá, mas até agora não fiz nada”, ri, confessando que nunca pensou nisso.
Perdoado pelo acaso, o filho de um pescador e de uma dona de casa e irmão de mais seis – quatro jardineiros – explica que o dom com as flores não veio da terra, mas do trabalho. Afinal, Edmilson aprendeu a plantar para se alimentar.
“O que eu mexia na terra antes era para plantar e colher mandioca, feijão. Arroz ninguém comia. Só farinha. Meu pai era pescador e eu o acompanhava. Por isso, hoje ainda pesco no fim de semana lá perto da Base Aérea de Santos e da Ilha Diana. Então, trabalho de segunda a sexta e vou pescar sábado ou domingo”, confessa, sobre sua segunda paixão.
Mostrando que sua vida não foi só flores, o homem do jardim santista lembra que veio para o litoral paulista já aos 21 anos de idade. Atuou por quase duas décadas na extinta Pensão Paulista, onde comia, dormia, servia como garçom e executava serviços gerais. Às vezes, jardinagem.
De lá surgiu o convite para trabalhar com alguém que se tornou amigo, cultivando plantas, até chegar ao time da praia e ajudar Santos a entrar no Livro dos Recordes, em 2001, pelos 5.335 metros de jardim, cobrindo 218.800 m² de área numa largura média de 45 metros.
“O que mais eu me orgulho é de trabalhar aqui por tanto tempo e nunca ter problema nem falta nenhuma. Passei do tempo de aposentar, mas prefiro continuar”.
Flores e espinhos
Quem trabalha com flores vive mais leve, diz Edmilson. Apesar disso, é fácil vê-lo bravo. O sergipano fica arretado só de lembrar de uma situação. “O que mais passo é raiva. Agora mesmo, vinha uma menina com um cachorrão que fez as necessidades dele no jardim. Eu olhei bem para ela e a moça ainda achou ruim. Poxa, a gente está trabalhando com a mão ali”, lembra, franzindo a testa.
Ele também fica bem bravo quando alguém olha para os lados, arranca uma flor e sai de fininho da praia, como se ninguém percebesse. “Estraga. Imagina se todo mundo pegar uma”.
Já rindo, o homem se diverte ao lembrar que, às vezes, são os santistas que ficam enfurecidos com ele. “Há situações em que estou podando a arnica e o pessoal grita: Essa planta não pode! Tira a mão daí. E digo: mas se eu cuido, como não mexer?”.
Uma hora bravo, outra feliz, o que Edmilson está mesmo é ansioso. Ao lembrar que a estação mais florida do ano bate na porta, os olhos dele brilham imaginando uma cena que quer ver se repetir demais.
“Quando vejo alguém tirando foto das flores, aí é outra coisa, né? Fico contente porque é sinal que deu tão certo que vão querer mostrar para todo mundo. Tomara que muita gente venha mesmo ver”, torce ele, sorrindo até com os olhos.