Conheça a família de Santos que viveu 50 anos na mansão Casa Branca: 'Uma vida ir abaixo em 2 dias'

Após demolição da casa no bairro Aparecida, filha explica porque os pais decidiram vender o imóvel; VEJA FOTOS

Por: Ágata Luz  -  24/05/21  -  08:20
Atualizado em 24/05/21 - 12:13
          Área externa contava com piscina e estátuas
Área externa contava com piscina e estátuas   Foto: Arquivo Pessoal

Lembranças em cada canto de uma casa com 1500 m² de área construída são o retrato de mais de 50 anos em que a família Lopes viveu na residência localizada na Rua Alexandre Martins, no bairro Aparecida, em Santos. A mansão conhecida pelos santistas como ‘Casa Branca’ foi demolida na última quarta-feira (19) e causou uma comoção regional, já que o imóvel se destacava entre os diversos prédios na região. Para a família, a comoção foi ainda maior. Em entrevista à ATribuna.com.br, a filha mais nova, Giuliana Aflalo Lopes, de 42 anos, relembra memórias no local, explica o motivo da mudança dos pais e exalta os novos tempos: “Página virada”.


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“A casa tinha uma história de vida. Alegrias, tristezas, momentos difíceis, como é o lar de qualquer família”, relata a jornalista e empresária do ramo de decoração. Giuliana explica que os pais, o advogado e construtor Armando Lopes e a artista plástica Lea Maria Pessoa Aflalo Lopes, viveram no local por mais de 50 anos, onde criaram os cinco filhos: quatro mulheres e um homem. Caçula da família, Giuliana deixou a casa em 2002, quando se casou. Desta forma, o casal viveu sozinho na residência por mais de uma década. “Mais ou menos entre 2002 e 2014”, diz.


“Quando meu pai comprou há mais de 50 anos, era uma casa de 400 m² de construção. Atualmente, tinha 1500 m² de área construída. Meus pais sempre tiveram um super cuidado, eles adoravam, era super conservada. Meu pai pintava aquele telhado quase duas vezes por ano”, destaca a jornalista.


          Armando e Lea viveram na casa por mais de 50 anos, onde criaram os filhos. À direita, casal se despedia da casa, um mês antes da mudança
Armando e Lea viveram na casa por mais de 50 anos, onde criaram os filhos. À direita, casal se despedia da casa, um mês antes da mudança   Foto: Arquivo Pessoal

Atualmente, porém, morava o casal, uma filha e uma funcionária da família. “Chegou uma hora que eles, por idade, já não tinham mais muita condição de ficar na casa. Meu pai tem 89 anos, minha mãe tem 81. A casa já estava muito grande para eles, tinha muita escada. Então eles acharam por bem mudar”, explica Giuliana.


“Durante esses 50 anos, construtoras sempre entraram em contato. Meu pai nunca quis vender, agora que eles começaram a pensar em vender, meu pai recebeu diversas ofertas, mas não queria que levantassem um prédio”, relata a filha mais nova. Armando Lopes, portanto, aceitou a proposta de uma construtora em janeiro de 2021 e a família se mudou em abril.


Apesar da venda, a demolição do local na última quarta-feira (19), mexeu com a família. “Meu pai acreditou que viveria uma família lá e posteriormente o local seria demolido. Foi nossa casa durante anos, por gerações, a gente ficou super triste. Mas é uma página virada, etapa concluída”, relata Giuliana.


Porém, a demolição também levou algumas lembranças. Segundo a jornalista e empresária, a família deixou portões e portas de ferro feitas em Portugal, um vitral de 80 anos e algumas estátuas: “Meu pai não quis tirar nada porque achou que outra família iria viver lá”.


A repercussão que a demolição causou na cidade santista não era esperada. Então, Giuliana se manifestou nas redes sociais para esclarecer algumas suposições. “Fiz a postagem porque depois que fizeram vídeos, começaram nos comentários falando que meus pais tinham morrido, xingaram os herdeiros que não são herdeiros porque meus pais estão vivos”, relata. De acordo com ela, parentes de outras cidades entraram em contato com a família preocupados com a saúde de Armando e Lea.


          Giulianna divulgou fotos do interior da casa, pois diversos santistas relataram curiosidades sobre o imóvel
Giulianna divulgou fotos do interior da casa, pois diversos santistas relataram curiosidades sobre o imóvel   Foto: Arquivo Pessoal

“A gente nunca imaginou que o pessoal fosse ficar tão triste, que a casa permeava o imaginário santista de como era dentro. Por isso, eu também postei algumas fotos que tirei da casa antes de vendermos”, destaca. Segundo a jornalista, surgiram boatos até sobre a origem do pai. “Meu pai é nascido em Santos também. Tiveram comentários falando que ele é português, mas é santista. Ele ficou bravo”, brinca Giuliana.


Lembranças


“Eu não acho nem justo nesse momento que estamos passando sentir a perda de uma coisa material. Mas é muito difícil assistir em dois dias uma vida toda ir abaixo”, explica a caçula da família Lopes. De acordo com ela, a casa guardava lembranças de diversas ocasiões, já que serviu de palco de festas de aniversário, noivados, batizados e até casamentos.


A decoração de Natal também era marca registrada no imóvel. Sempre pensada por Lea, chamava atenção de santistas que passavam pelo local durante a época de fim de ano. “Minha mãe tinha muito orgulho, todo ano ela que planejava”, enfatiza.


          Decoração natalina e árvores plantadas por diferentes gerações da família são algumas das memórias da 'Casa Branca'
Decoração natalina e árvores plantadas por diferentes gerações da família são algumas das memórias da 'Casa Branca'   Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, as árvores da casa representavam sementes de diferentes gerações da família Lopes, pois eram plantadas pelas crianças. “Tinha um coqueiro de mais de 100 anos, outro que eu plantei com meu pai quando eu tinha quatro anos e o ipê da frente foi plantado no nascimento da minha filha”, relembra Giuliana.


“Minha filha de 14 anos foi a primeira que viu a escavadeira entrando na casa. Ela ainda falou que a gente podia ter tirado alguma coisa antes da demolição, pois tivemos uma vida lá. A gente poderia ter guardado umas lembranças que não precisava ir pra baixo com a casa”, relata.


Agora, a família se adapta ao novo espaço. “Mas lar mesmo era ali”, finaliza Giulianna.


          Local foi palco de casamentos, noivados, batizados e festas de aniversário, como a festa de 70 anos de Lea na foto
Local foi palco de casamentos, noivados, batizados e festas de aniversário, como a festa de 70 anos de Lea na foto   Foto: Arquivo Pessoal

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