Com cerca de 100 anos, catraias são utilizadas por 14 mil pessoas diariamente: 'Tradição'; VÍDEO

Catraieiros têm história de vida relacionada ao transporte; usuários criticam e elogiam serviços

Por: Thiago D'Almeida  -  12/05/21  -  17:51
  Catraias são parte histórica da Baixada Santista
Catraias são parte histórica da Baixada Santista   Foto: Thiago D'Almeida/AT

As catraias funcionam como transporte alternativo entre as cidades de Santos e Guarujá há cerca de 100 anos e, todos os dias, levam aproximadamente 14 mil pessoas de um lado para o outro, de acordo com a Associação dos Catraieiros da região. Em quase um século, muitas histórias nasceram ou foram construídas com os serviços das catraias, que, no passado, já foram único meio de transporte para mulheres em trabalho de parto e, além disso, carregam histórias familiares dentro do negócio. Confira histórias emocionantes e a opinião de usuários dos serviços em entrevistas concedidas à equipe de A Tribuna na videorreportagem abaixo.



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Fernando Miranda Ramos, de 41 anos, ‘nasceu’ nas catraias. Filho de um catraieiro, começou a trabalhar no mesmo negócio do pai e, com o tempo, cresceu junto ao mar. Hoje, ele ocupa o cargo de presidente da Associação dos Catraieiros da Baixada Santista, e contou um pouco sobre a história do transporte.


“É centenário, temos anos e anos de trabalho. Atualmente, temos 80 embarcações, que trabalham 40 em um dia e o restante no outro. Por dia, temos cerca de 14 mil passageiros. É uma travessia totalmente particular, sem vínculo algum com o governo. Tudo é por nossa própria conta”, explica.


  Passageiros durante travessia de Santos para Guarujá em catraias
Passageiros durante travessia de Santos para Guarujá em catraias   Foto: Thiago D'Almeida/AT

Perguntado sobre a influência da pandemia de coronavírus no serviço, respondeu: “Nossa renda caiu muito. Por conta da pandemia, muitas coisas aumentaram [como o valor do combustível, por exemplo]. Infelizmente, estamos há quatro anos sem reajuste algum, então, hoje, está muito difícil conseguir manter a embarcação”.


Mesmo com os problemas citados, Ramos se orgulha da sua trajetória dentro do negócio e até se emocionou na entrevista ao relembrar o passado. “Meu pai era catraieiro. Com 18 anos, vim trabalhar e fiquei até 21 anos aqui. Trabalhava como empregado com meu pai, mas depois consegui comprar minha própria catraia e, com cerca de 23 anos, fui estudar fora e me formei [em Los Angeles, nos Estados Unidos], em Ciências Náuticas”, diz. “Nunca saí da catraia, minha origem sempre foi aqui. Mesmo durante o período que passei fora, sempre tive ‘um pé’ aqui. Tenho 25 anos só de catraia. E, hoje, sou capitão de cabotagem e pós-graduado. Tenho orgulho de ser catraieiro”.


O também catraieiro Antônio da Silva, que iniciou sua trajetória no negócio em 1969, contou que fez parte de um período muito diferente do cenário atual do transporte da Baixada Santista. De acordo com o profissional, no passado, mulheres grávidas utilizavam frequentemente as catraias para o deslocamento de Guarujá para Santos antes de dar à luz.


“Aqui, não tinha maternidade. Então, ‘cansamos’ de passar aqui mulheres ‘prontas para ganhar’ [um bebê]”, lembra. “As pessoas confiavam, pois aqui temos um transporte rápido”.


A equipe de A Tribuna também entrevistou pessoas que usam frequentemente o transporte das catraias. O mecânico Nicholas Nascimento elogiou o serviço. “Gosto bastante, sempre ‘peguei’, prefiro até do que a ‘barquinha’, pois é mais rápido e barato. Com chuva, sol ou neblina, está sempre funcionando”, diz.


  Cerca de 14 mil pessoas utilizam catraias diariamente
Cerca de 14 mil pessoas utilizam catraias diariamente   Foto: Thiago D'Almeida/AT

Por sua vez, o inspetor de alunos Iryaldo Oliveira da Silva teceu elogios e reclamações. “Precisa melhorar algumas coisas", opina. “É um dos transportes mais tradicionais, mas algumas pessoas têm um pouco de medo por conta da falta de estrutura para se segurarem [nas embarcações]”, finaliza.


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