Cetesb analisa criação de uma usina para gerar energia elétrica em Santos

O projeto tem como finalidade gerar energia a partir da coleta de resíduos domiciliares e, também, estender a vida útil do Aterro Sanitário do Sítio das Neves

Por: Da Redação  -  18/07/20  -  15:01
Diariamente, ao menos 2 mil toneladas de lixo são levadas ao aterro sanitário
Diariamente, ao menos 2 mil toneladas de lixo são levadas ao aterro sanitário   Foto: Vanessa Rodrigues/AT

Está em análise na Companhia de Tecnologia Ambiental do Estado (Cetesb) o projeto de instalação de uma Unidade de Recuperação de Energia (URE). O projeto tem como finalidade gerar energia elétrica a partir de micropartículas processadas da coleta de resíduos domiciliares e, também, estender a vida útil do Aterro Sanitário do Sítio das Neves, localizado na área continental de Santos.


O projeto da URE ganhou mais visibilidade há cerca de três semanas, quando a Prefeitura de Santos anunciou a reforma e revitalização do Parque Roberto Mário Santini, no Emissário Submarino.


>> Confira o  passo a passo entre a coleta de lixo e a geração de energia


A obra no quebra-mar será custeada pela Valoriza Energia SPE, a empresa que se propõe a instalar a URE. O investimento no quebra-mar é a contrapartida que a empresa precisa dar à Prefeitura para que o Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV) seja aprovado.


Em outras palavras: a Prefeitura exige da empresa interessada uma contrapartida em investimentos na Cidade, em local escolhido pela própria Administração. Nesse caso, o local escolhido foi o parque no Emissário Submarino.


A Valoriza Energia é uma empresa brasileira de termovalorização de lixo urbano, geradora e comercializadora de energia elétrica, que nasceu da associação da Ribeirão Energia S.A. e Terrestre Ambiental S.A.


Como vai funcionar


A Unidade de Recuperação de Energia (URE) será instalada na Área Continental de Santos, ocupando uma parte dos 600 mil m² do aterro sanitário, local onde são depositadas, diariamente, cerca de 2 mil toneladas de resíduos domiciliares.


Atualmente, o aterro do Sítio das Neves recebe lixo de sete municípios da região: Santos, São Vicente, Praia Grande, Guarujá, Bertioga e Cubatão.


Carlos Eduardo Ribeiro, diretor operacional da Ribeirão Energia, explica que várias etapas acontecem antes da geração de energia.


O lixo coletado pelos caminhões da Terracom é levado para biotúneis, no total de 62, espaços onde os detritos passam por um processo de biosecagem e redução de sua massa.


Injetando oxigênio nesses biotúneis, os microorganismos do lixo vão degradando as substâncias orgânicas. O material que sai desse processo tem sua umidade reduzida de 46% para 27%. Os biotúneis são de concreto, com controle automático de temperatura e biofiltros que evitam a formação de odores em toda a área. “Assim, impedimos também a proliferação de pássaros e animais”, explica Carlos Eduardo.


Garantias


O material quase seco que sai dos biotúneis será picado, resultando em micropartículas homogêneas chamadas de CDRB (combustível derivado de resíduos bioestabilizados). E são essas partículas que seguem para as caldeiras térmicas que vão gerar a energia elétrica.


Carlos Eduardo destaca que ainda há uma percepção equivocada de que a intenção da Valoriza Energia é instalar um incinerador de lixo. “A queima do lixo como se tinha antigamente não é mais aceita como solução ambiental. O projeto da URE prevê um tratamento adequado aos resíduos, com várias etapas e controle ambiental absoluto dos gases e dos odores”.


O controle dos gases, conforme diz, será feito na etapa final, na caldeira. Os gases gerados desse processo serão encaminhados para um sistema de tratamento e eliminação das impurezas. “É uma tecnologia alemã, mas bem utilizada nos projetos europeus, ecologicamente sustentável para a captação das impurezas”.


Instalação depende de várias etapas


A instalação da Unidade de Recuperação de Energia (URE) depende de muitas etapas e autorizações.


No âmbito da Prefeitura de Santos, está marcada para o próximo dia 31, 17 horas, uma audiência pública, de forma virtual, para apresentar os detalhes do projeto, etapa prevista pela legislação no Estudo de Impacto de Vizinhança (EIV).


Nessa audiência, os técnicos da empresa Valoriza explicam o projeto e respondem a dúvidas que possam surgir dos munícipes que estiverem participando.


Para participar, é preciso fazer inscrição prévia pelo endereço www.santos.sp.gov.br/audienciaURE.


Mais Audiências


Na esfera estadual, o projeto da URE já foi encaminhado para a Cetesb em janeiro, que enviou para o Conselho Estadual do Meio Ambiente (Consema).


A pandemia retardou o andamento dos processos, que consistem em marcar outra audiência pública para ouvir a população.


Dessa audiência, o Consema colhe as observações dos munícipes e devolve à Cetesb, que emite primeiro a Licença Prévia (LP), com recomendações extras aos empreendedores. As etapas seguintes são emissão da Licença de Instalação (LI) e da Licença de Operação (LO).


Não há previsão de quando todo esse processo estará concluído.


Empresa destaca as vantagens ambientais


Pela proposta em análise junto à Cetesb, a URE oferecerá duas vantagens: gerar energia elétrica e ampliar a vida útil do Aterro Sanitário hoje existente na Área Continental.


Carlos Eduardo Ribeiro, diretor da Ribeirão Energia, diz que o total de resíduos que hoje chegam ao aterro (cerca de 2 mil toneladas) é capaz de gerar até 50 megawatts por hora, energia suficiente para alimentar uma cidade de até 120 mil habitantes, o equivalente a Cubatão, por exemplo.


A energia produzida pela URE será vendida para o Operador Nacional do Sistema Elétrico, responsável pela coordenação e controle de todo o sistema nacional de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica no Brasil, sob fiscalização da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).


Vida útil


Outra vantagem destacada pelos empresários da Valoriza é esticar a vida útil do aterro, com redução do material que efetivamente sobrará de todo o processo.


Das cerca de 2 mil toneladas de detritos que hoje são recolhidos dos sete municípios, apenas 15% (300) seguirão para o aterro, fruto das cinzas resultantes do proceso.


Antônio de Mello Neto, diretor de Operações da Terracom, acredita que a vida útil do aterro seja estendida em, pelo menos, mais 15 ou 20 anos, a depender da maior ou menor geração de lixo pelos municípios.


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