Câmara de Santos debate projeto que prevê liberar parte da praia a cachorros

Medida divide especialistas no assunto e já é motivo de polêmica

Por: Da Redação  -  29/06/19  -  17:52
Cães e tutores precisarão seguir regras para utilizar as praias de Santos
Cães e tutores precisarão seguir regras para utilizar as praias de Santos   Foto: Carlos Nogueira-AT/Arquivo

Um projeto de lei que prevê a liberação de cães em uma faixa de areia da praia divide especialistas no assunto e já é motivo de polêmica. Nesta sexta-feira (28), teve audiência pública na Câmara de Santos para discutir o assunto.


Entre as regras para utilização do espaço, que deverá ser demarcado pela Prefeitura, estão a identificação dos animais com nome e telefone de seus tutores em coleira. Os cães também não poderão estar no cio e seus donos devem portar carteira de vacinação e atestado de vermifugação fornecido por veterinário devidamente registrado.


Segundo a proposta, os animais poderão usar os chuveiros disponíveis dentro da faixa delimitada.


Quem não cumprir as regras responderá pelas perdas e danos que o animal poderá causar a terceiros. O tutor ainda fica obrigado a recolher as fezes de seu cão imediatamente descartando-as no local apropriado sob pena de multa.


Segundo o veterinário Laerte Carvalho, da Seção de Vigilância e Controle de Zoonoses (Sevicoz), é preciso ter atenção no controle sanitário. “A Secretaria não se opõe, mas queremos acompanhar. Algo que parece bom pode deixar de ser caso não tenha regras e conscientização”.


Para o infectologista do Hospital Albert Einstein, Jacyr Pasternak, a principal preocupação seria o bicho geográfico, infecção causada por larvas e que causa vermelhidão e coceira na pele. “Para mim, cão vacinado na praia não tem problema. O cachorro de rua já tem acesso à praia e esse sim preocupa. A raiva (infecção viral mortal transmitida para seres humanos a partir da saliva de animais infectados) é muito mais perigosa”.


A dermatologista Cristina Santana diz que uma preocupação deve ser o controle da frequência do local. “Temos de lembrar que, na temporada, haverá quatro vezes mais gente na praia. E de que forma a Guarda Municipal fiscalizará essa situação? Realmente será o ponto principal para se focar?”


Debate


Segundo o veterinário especialista em saúde pública Alexandre Biondo, o usuário deverá ser o primeiro a cuidar do cerco para que ninguém fure as determinações estipuladas.


“Não podemos cometer a loucura de perder esse momento histórico”.Para a veterinária Sueli Toledo, especialista em zoonoses, é preciso cautela nesse tipo de decisão. “Eu mesma não levaria meus filhos em um espaço como esse. Cada um deve pensar dentro da sua realidade e se deve confiar que essa situação não terá furos”.


Já o infectologista Evaldo Stanislau acredita que esse ambiente trará mais benefícios do que problemas. “Precisamos cuidar da saúde do animal, ter um bom regramento e educar as pessoas. Do ponto de vista psicológico, de bem-estar e de interação, é algo muito bom”.


O vereador Benedito Furtado (PSB) lembra que os cães nunca foram tão reconhecidos como membros das famílias.“Não tenho a menor dúvida de que vamos aprovar essa lei. Inúmeras pessoas têm o animal como única referência afetiva. Precisamos atualizar as nossas leis para as novas realidades”.


Proibição desde 1968


Desde 1968, segundo lei municipal, é proibida a permanênciade cachorros na praia.


Segundo dados da Secretaria de Saúde de São Paulo, Santostem hoje mais de 33 mil cães devidamente vacinados. A iniciativa partiu da radialista e defensora da causa animalPatrícia Camargo, em conjunto com moradores da cidade que apoiam a causa. O vereadorAdilson Júnior (PTB), foi o responsável em elaborar o projeto de lei junto com advogados, veterinários e biomédicos.


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