Bairros da orla de Santos concentram 42% das infecções por coronavírus

São 182, entre os 433 confirmados na cidade; só o Boqueirão tem 50 infectados

Por: Maurício Martins  -  24/04/20  -  18:50
Prefeitura lançou ferramenta Monitoramento Santos Covid-19
Prefeitura lançou ferramenta Monitoramento Santos Covid-19   Foto: Maurício Martins/AT

Quase a metade de todas a pessoas confirmadas com coronavírus em Santos moram na Zona da Orla (praias). São 182, dos 433 infectados até esta quinta-feira (23), o que representa 42% dos casos. O bairro com mais confirmações é o Boqueirão (50), seguido pelo Gonzaga (31) e Aparecida (28). A Ponta da Praia tem 25, o Embaré, 24; José Menino, 15; e Pompeia, nove.  


O número de mortes pela covid-19, porém, não segue a mesma lógica. Dos 31 óbitos confirmados até esta quinta, oito foram na região da orla, ou 25,8%. Esses pacientes são atendidos principalmente em hospitais privados, já que a maioria tem plano de saúde. Em bairros mais de classe mais baixa, a situação é diferente. Na Vila Nova, por exemplo, todos os sete infectados morreram.  


Os dados estão disponíveis na plataforma Monitoramento Santos Covid-19 (http://www.santos.sp.gov.br/saude/dadoscoronavirus) lançada nesta quinta pela prefeitura. O sistema reúne estatísticas da doença, como casos confirmados, internações hospitalares, altas, óbitos e casos suspeitos da doença.  


“A doença entrou no Brasil pela classe média com poder aquisitivo mais significativo. Pessoas que passaram férias em regiões europeias, onde já havia circulação do vírus em janeiro, fevereiro, e outras próximas a ela. Percebemos essa concentração em bairros de Santos de maior poder financeiro”, diz o secretário municipal de Saúde, Fábio Ferraz. 


Segundo ele, esse é o motivo de os leitos de UTI em hospitais privados estarem com maior ocupação atualmente, cerca de 70%, diferentemente da rede pública, que ainda tem situação confortável, abaixo de 40%. Porém, se houver diminuição do isolamento social, o curso da doença tende a mudar, se espalhando para todas as camadas sociais, incluindo bairros mais carentes e lotando unidades. 


“Isso pode virar muito rápido. Se chegarem 30, 40, 50 pessoas de um dia para o outro já transforma tudo em um ambiente difícil. Estamos muito preocupados, a tendência é um aumento da crise em maio. É preciso ter uma manutenção do isolamento, aumentar da questão da higiene e usar máscaras”, explica Ferraz.  


Monitoramento 


O secretário cita a importância da nova plataforma de monitoramento, que apresenta ainda coeficientes de incidência da doença e de óbitos por 1 milhão de habitantes, taxa de letalidade e a comparação com as cidades de São Paulo (Capital), Estado de São Paulo, Brasil e mundo. Quatro infectologistas apoiaram essa transparência nos dados: Evaldo Stanislau, Marcelo Naveira, Marcos Caseiro e Ricardo Hayden.  


“A ferramenta nos ajuda a traçar estratégias, entender como está o comportamento do vírus na cidade e a procedência dos infectados. Em cima daquilo que é mais prevalente de causar, seguir para o combate. E, claro, serve para deixar a população informada”.  


Testes e máscaras 


Hayden destacou pesquisas que mostram a diminuição do contágio em países onde o uso de máscara é obrigatório e sugeriu que a prefeitura e clubes distribuam esse equipamento de proteção na cidade. Já Stanislau ressaltou a importância da testagem de pacientes para implantação de políticas públicas 


Ferraz afirma que os exames RT-PCR, feitos por coleta de secreção da nasofaringe (fundo do nariz) e mais eficaz para detecção da covid-19, já podem ser feitos por todos os pacientes com sintomas, após avaliação médica. Santos comprou 20 mil testes RT-PCR. Além disso, ele cita os 10 mil testes rápidos que serão feitos para verificar quem já tem anticorpos contra o vírus, ou seja, já teve a doença. 


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