Antigo prédio da Ambesp acumula sujeira, ratos e drogas em Santos: 'Eu sou usuário, não moro aqui'

Sem portões, construção abriga sem-teto e acumula lixo deixado na mudança, lodo, lixo e infiltrações

Por: Júnior Batista  -  24/02/21  -  09:56
O edifício foi alugado em 2005, e devolvido em agosto do ano passado
O edifício foi alugado em 2005, e devolvido em agosto do ano passado   Foto: Matheus Tagé/AT

Avenida Conselheiro Nébias, 199, Vila Nova, Santos. O prédio, alugado em 2005 pela Prefeitura e devolvido em agosto do ano passado ao proprietário, está abandonado. Sem portões, o que se vê é uma concentração de lixo deixado na mudança, lodo, sujeira e infiltrações. Do Ambulatório de Especialidades, um dos avisos que sobrou contém os dizeres 'Santos saudável', num contraste com o ambiente. As escadas estão cheias de lodo e sujeira: vidros, madeira, bitucas de cigarro, fezes de animais.


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Na parte superior, canos estão à mostra e parte do mezanino está com água parada no chão. Há muitas goteiras, e o teto parece estar curvo. As paredes também estão úmidas e com rachaduras. No térreo, mais lodo e sujeira. Ainda assim, foi o local escolhido por Rafael — que alegou não lembrar seu sobrenome — para usar crack. “Não moro aqui, não. Está abandonado, só não sei se tem cachorro, viu? Toma cuidado ao subir, que as escadas estão escorregadias”, avisou. “Eu sou usuário, não moro aqui. Vivo na rua”, diz. Desconfiado, agradeceu a 'educação' da equipe de Reportagem e diz que não faz mal para ninguém.


"Eu sou usuário, não moro aqui", disse o morador de rua à Reportagem   Foto: Matheus Tagé/AT

Rafael disse estar nas ruas “há muitos anos”, usa crack e fuma cigarros. Depois de parar e pensar, com olhar distante, dizia: “Tenho seis filhos. Estão com a mãe, mas tudo na rua. Eu sinto falta deles, e não queria que eles tivessem o destino que eu estou tendo”.


Após acender um cachimbo de crack, Rafael faz um pedido: “Você sabe de alguma clínica que possa ajudar a me curar? Eu sou viciado, não consigo parar sozinho. Eu tento, já tentei, mas não consigo. Eu fico no Canal 2, um ponto de ônibus antes da linha da máquina, vindo aqui para o Centro. Se você souber de algum lugar, pede para me buscar lá que eu vou. Eu quero me curar.”


Do lado de fora, havia pelo menos mais três homens em situação de rua. Um deles pediu comida, acreditando que a Reportagem fazia parte de alguma equipe da Prefeitura. Um entregador, que não quis se identificar, parou no local ao ver a equipe, alegando estar curioso. “Vocês vieram avaliar (o imóvel)? Tá muito abandonado isso. Tem ratos e baratas para todo lado. Tinha que ser interditado”, afirmou.


Local está abandonado, repleto de entulho e roedores
Local está abandonado, repleto de entulho e roedores   Foto: Matheus Tagé/AT

Nos estabelecimentos comerciais ao redor, os funcionários também afirmam nunca ter visto alguém que pareça ser o dono do prédio ir lá. “Está abandonado desde que o Ambesp saiu da aí”, disse uma comerciária. A auxiliar de limpeza Isabel Cristina Felisberto, de 53 anos, passa todos os dias por ali. Disse que é “uma vergonha” o que está havendo. Ao saber que o prédio não pertence à prefeitura, cobrou uma interdição. “Acho que, se está tão degradado e o dono não faz nada, tem que interditar. Ele vai deixar assim até quando?”


O vendedor ambulante José Neto, de 43 anos, trabalha na esquina da Avenida Conselheiro Nébias com a Rua Sete de Setembro há três anos. “Nunca vi ninguém aparecer. Levaram até as madeiras. Um absurdo, né? Rato tem toda hora aí. Uma sujeira só, goteira. Uma vergonha.”


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