Saúde e retomada da economia pós-pandemia devem dominar cenário eleitoral de outubro

Cientistas políticos afirmam que cenário eleitoral está aberto diante da escalada de casos e mortes por coronavírus; há riscos de abstenção ser recorde

Por: Eduardo Brandão  -  01/04/20  -  02:11
TSE garante a manutenção do calendário eleitoral, apesar de pedidos de adiamento
TSE garante a manutenção do calendário eleitoral, apesar de pedidos de adiamento   Foto: Divulgação

Em meio ao cenário incerto de realização do pleito municipal de outubro – já que lideranças nacionais defendem o adiamento do calendário eleitoral – temas como fortalecimento da saúde pública, geração de empregos e aceleração da economia devem ganhar forças na sucessão municipal. Assim opinam cientistas políticos, que descrevem em aberto o tabuleiro político que se desenha diante da escalada de casos e mortes pela Covid-19.


Dirigentes partidários da região também demonstram preocupação com prazos do calendário eleitoral, após a adoção de regras mais duras para conter o avanço da pandemia. Agendas e atos políticos foram remarcados, priorizando encontros por videoconferência. O receio envolve, também, as articulações e, principalmente, atividades presenciais como convenções e pré-campanha.


Eles avaliam prejuízo nas articulações para se formar coligações na eleição, por ora, prevista para outubro. Algumas legendas destacam que esse momento é de união de forças no combate à Covid-19, ficando para segundo plano as articulações partidárias.


O economista e cientista político Fernando Chagas afirma que nenhuma cartilha do passado se aplicará nessa campanha. “Os candidatos terão que elaborar propostas que atendam às emergências de um mundo novo, onde a recessão econômica e a precariedade das pessoas estarão latentes no período eleitoral. Terão que mostrar que estão preparados para atender às necessidades básicas da população, notadamente nas áreas da saúde e assistência social”, resume.


Chagas acredita que as redes sociais serão, novamente, o fiel da balança nas urnas. Mais que a militância virtual, a internet é apontada por ele como principal canal na busca por votos. “Com as restrições sociais impostas para combater o coronavírus, que devem ser estender em parte no período eleitoral, a campanha on-line será decisiva para a eleição de prefeitos e vereadores”.


Defensor do adiamento do pleito, o cientista político Sérgio Trombelli destaca até mesmo dificuldade das legendas em compor chapas. “Creio que não vai ter clima para eleição, para a escolha do destino da cidade para os próximos quatro anos”.


O especialista aponta ainda risco de abstenção recorde nas urnas – fenômeno que vem ocorrendo a cada corrida eleitoral. “Pode ser maior [a ausência nas urnas] pelo fato de existir resquícios da pandemia. E também pelo descrédito do Poder Público. Os candidatos ficarão fragilizados, pois o povo culpa quem está mais perto”.


A professora universitária e cientista política Clara Versiani indica que os desdobramentos sociais e econômicos da pandemia devem influenciar até mesmo a sucessão presidencial, em 2022. “Não apenas no Brasil, também outros países democráticos”. Exemplo disso foi o adiamento de primárias em, pelo menos, nove estados norte-americanos, e o risco de suspensão do pleito naquela nação.


Clara Versiani acrescenta que a figura das lideranças políticas passa a ser repensadas. “A pandemia jogou luz maior sobre a atuação dos cargos executivos e de como as prefeituras têm lidado com essas questões”. Ela pondera que a briga entre o governador João Doria (PSDB) e presidente Jair Bolsonaro (sem partido) deve pulverizar a atenção do eleitoral mais conservador, nicho que os dois políticos se encaixam.


Calendário mantido


A presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Rosa Weber, voltou a considerar prematuro o debate sobre possível adiamento das eleições de outubro. A ministra reconhece, contudo, que a velocidade da evolução do quadro epidemiológico por conta da Covid-19 no Brasil “exige permanente reavaliação das providências”.


Em nota à imprensa, Rosa Weber reafirma existir plenas condições materiais de cumprimento do calendário eleitoral para o pleito municipal desse ano. O possível adiamento da escolha dos prefeitos e vereadores chegou a ser cogitado pelo ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, na semana passada, como forma de se evitar aglomeração popular.


Apesar de seguir as medidas e seguir as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e das autoridades médicas e sanitárias, o TSE destaca manter fluxo de trabalho para a realização do pleito de outubro. “[Essas medidas]  estão previstas pela legislação federal e pela Constituição da República. Assim sendo, em viés jurídico qualquer iniciativa em sentido diverso extrapola os limites de atuação da Justiça Eleitoral”, cita, em nota.


Rosa Weber reconhece eventual adiamento nos testes de equipamentos e sistemas eletrônicos. “O TSE está alerta quanto às inevitáveis alterações ante o atual quadro de excepcionalidade. Já estão sendo estudados ajustes nos formatos de realização de tais testes”.


Conforme o plano geral das eleições 2020, ao menos 20 avaliações são previstas no sistema eletrônico de votação – sendo alguns testes repetidos mais de uma vez. “Trata-se de um processo de depuração das soluções tecnológicas para atingir o menor nível de erro possível”.


O TSE afirma que três desses testes foram cancelados: o Simulado Nacional de Hardware, que envolve todos os Tribunais Regionais Eleitorais e precisou ser suspenso na metade da execução planejada em virtude das políticas de isolamento impostas; o Teste do Sistema de Prestação de Contas; e o Teste de Desempenho da Totalização.


“Estamos acompanhando atentamente a evolução diária do cenário nacional, inclusive para eventuais reavaliações, mantidas as atividades essenciais à realização das Eleições 2020”, finaliza o comunicado da ministra e presidente do TSE.


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