Queda na cotação do petróleo pode reduzir preço da gasolina na Baixada Santista

Expectativa é que a Petrobras mantenha política de paridade; redução, no entanto, deve demorar a chegar às bombas da região

Por: Eduardo Brandão  -  10/03/20  -  09:52
Um dos motivos do alto preço é que os postos vendem menos do que os de outras cidades da região
Um dos motivos do alto preço é que os postos vendem menos do que os de outras cidades da região   Foto: Nirley Sena

A queda de braço entre Rússia e Arábia Saudita fez o barril do petróleo atingir, na manhã de segunda-feira (9), a menor cotação nas últimas três décadas. A desvalorização internacional do insumo pode afetar na hora de o brasileiro abastecer o carro. Economistas afirmam que a tendência é a redução gradativa no valor cobrado nas bombas. A Petrobras – estatal que controla a produção de combustível no país – não estima se haverá retração no valor.


A expectativa de menor custo para o consumidor final se deve à política de paridade internacional para definir o preço da gasolina, adotada desde 2016. Desta forma, a estatal alinha o que é cobrado nas refinarias com base na cotação do petróleo no mercado externo. O modelo foi responsável pela escalada no preço dos combustíveis nos últimos quatro anos. 


O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou, via Twitter, que a Petrobras manterá a regra, apesar da retração de 30% nas cifras de comercialização do barril do petróleo. “A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, escreveu. 


Nas redes sociais, Bolsonaro descartou eventual aumento das Contribuições de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE) para manter o preço dos combustíveis no atual patamar. A elevação do tributo é defendida pela equipe econômica para manter o equilíbrio das contas da União e evitar volatilidade de valor da gasolina, com a oscilação do petróleo. Hoje, a alíquota é de R$ 0,10 por litro. 


Contudo, especialistas afirmam quem o eventual corte na gasolina pode demorar a chegar às bombas – ou mesmo nem ser sentido pelos consumidores. Carga tributária sobre os combustíveis e custos logísticos de distribuição explicam, em parte, a demora para a queda chegar nas bombas.


O economista Jorge Manuel de Souza Ferreira atribui, ainda, a baixa capacidade produtiva das refinarias nacionais para o material retirado da camada de pré-sal. Isso porque o petróleo mais denso é exportado, regressando ao país já processado. “O que é negociado em dólar e, com a moeda americana valorizada, pode ser que não tenha uma redução significativa”. 


O também economista Fernando Chagas avalia que a redução não deve ser imediata. Ele afirma que o preço da gasolina nas bombas “não terá grandes alterações, porque a Petrobras não pode reduzir drasticamente o valor do combustível”. Alega, para isso, que a estatal teria “sérios prejuízos em um momento de recuperação da estatal”.


Mesmo se a empresa anuncie queda no valor cobrado nas refinarias, não significa que chegará de forma integral ao consumidor final. O preço do produto é regulado pelo mercado, que pode ou não repassar a redução para o consumidor. Há ainda a questão dos estoques comprados aos preços anteriores, que adiariam a eventual redução.


Em nota, a Petrobras diz ser “prematuro” fazer projeções de quedas no preço dos combustíveis, já que “não está claro nem a intensidade ou mesmo a persistência do choque nos preços”. A empresa afirma monitorar o mercado e “segue com seu plano estratégico que prepara a companhia para atuar com resiliência em cenários de preços baixos”. 


Orçamento mais enxuto


A oscilação negativa nos preços do petróleo no mercado internacional acende o alerta para as receitas da União neste ano. Com as contas já pressionadas com a projeção de tímido crescimento econômico, a arrecadação nacional deve ser reduzida com o menor volume de royalties – espécie de indenização paga pelas petroleiras à União, estados e municípios com base a cotação do produto. 


Para compor o Orçamento da União, já aprovado pelo Congresso, a equipe econômica considerou o preço médio do barril de petróleo a 58,96 dólares. Na manhã de segunda, era comercializado a quase a metade deste patamar (31,02 dólares). 


O Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) indica redução na receita nacional no ano de R$ 20 bilhões, caso o petróleo ficasse abaixo de 40 dólares. Perdas financeiras também são esperadas nos estados e prefeituras. A queda no preço do barril de petróleo é uma reação de desaceleração da economia global por conta do coronavírus.


Na manhã de segunda-feira, o ministro da Economia, Paulo Guedes, minimizou os efeitos da oscilação da venda do produto e também da disparada do dólar. “Vamos transformar essa crise em crescimento, em geração de emprego. Estamos absolutamente tranquilos, já vivemos isso várias vezes e sabemos como lidar com ela [crise]”, disse, em breve encontro com jornalistas.


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