Quase 65% dos casos de suicídio em Santos foram de pessoas com mais de 50 anos

Dados são referentes a 2019. Segundo especialistas, taxa entre idosos é alta tanto nacional como mundialmente

Por: Da Redação  -  31/01/20  -  00:02
Post de jovem em rede social chama atenção para a prevenção ao suicídio
Post de jovem em rede social chama atenção para a prevenção ao suicídio   Foto: Adobe Stock

Quase 65% das notificações de suicídio registradas pela Prefeitura de Santos em 2019 envolviam vítimas com mais de 50 anos. Foram 14 casos de pessoas nesta faixa etária que tiraram a própria vida, de um total de 22 casos no ano passado (equivalente a 63,6%). Mas, segundo especialistas, é provável que o número seja maior, já que suicídio continua sendo um tema tabu, e a subnotificação ainda é grande.


“No Brasil, os dados de suicídio entre idosos são maiores do que entre adolescentes e jovens adultos, embora a gente ouça falar muito sobre suicídio entre os mais novos”, afirma a psicóloga Luciana Cescon.


Ela destaca que o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Governo Federal, revela que a taxa de suicídio entre pessoas com mais de 70 anos é a maior do país: 8,9 para 100 mil habitantes. Na verdade, uma realidade não só nacional, mas uma tendência mundial.


A psicóloga diz que entender esses números é também reconhecer a complexidade do tema. “Ainda é comum escutarmos que os suicídios têm aumentado porque essa nova geração não sabe lidar com a frustração. Mas a questão é muito mais profunda”.


No caso dos idosos, Luciana alerta que o problema muitas vezes está relacionado à dificuldade de acesso ao serviço de saúde, doenças crônicas e a perda de entes queridos. Tudo contribui para o sofrimento emocional. “Por isso, ao considerarmos que a Baixada Santista tem um número importante de idosos, faz sentido ficarmos atentos”.


O coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), Renato Caetano, conta que pessoas mais velhas procuram o serviço exatamente para falar de assuntos como os companheiros que se vão e a perda do vigor físico. “Tudo isso contribui para um isolamento maior”. Porém, de modo geral, afirma, cada um precisa de atenção e de apoio, independente da faixa etária.


Subnotificação


Estudos mostram que, no atendimento a casos de suicídio, alguns podem ficar escondidos sob outras determinações de morte. Por exemplo: acidentes, causas desconhecidas ou envenenamentos. Por isso, as subnotificações ainda são grandes. Fora a dor.


“Comunicar a morte por suicídio é doloroso e difícil para qualquer um. Suicídio é um tabu de difícil transposição”, avalia Caetano.


Até por isso, Luciana garante que um ponto que precisa de atenção é em relação aos cuidados a quem perde alguém por suicídio, seja familiar, amigo ou professor. “As pessoas que sofrem o impacto desse fato também podem precisar de ajuda especializada. Muitas vezes, o próprio tabu faz com que elas não sejam acolhidas”.


Por tudo isso, Luciana afirma que saúde mental e prevenção ao suicídio são problemas que exigem o envolvimento de toda a sociedade.


“É um assunto que envolve políticas públicas, capacitação para profissionais de saúde e educação, meios de comunicação, enfim, a sociedade em geral. Desmistificar o sofrimento emocional e garantir acesso aos cuidados em saúde mental para todos é fundamental”.


Santos


À Reportagem, a prefeitura afirmou que a Secretaria de Saúde oferece permanentemente profissionais e atendimento na sua rede de serviços e diversas ações acontecem durante o ano, envolvendo usuários dos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps). Além de outras ações, também faz parceria com escolas, universidades e outras entidades, com foco principalmente no público jovem.


Onde procurar ajuda?


A rede de atenção psicossocial de Santos é formada por três níveis de atendimento no SUS: atenção básica (policlínicas), urgência/emergência e rede especializada de saúde mental (Caps). OsCapspodem ser procurados das 8h às 17h por quem tem transtorno mental grave ou faz uso abusivo de álcool e drogas. Confira os endereços:


CapsZona Noroeste: Rua Bulcão Viana, 880, Bom Retiro


CapsCentro: Av. Conselheiro Rodrigues Alves, 236, Macuco


CapsPraia: Av. Cel. Joaquim Montenegro, 329, Ponta da Praia


Capsda Vila: Av. Pinheiro Machado, 718,Marapé


CapsOrquidário: Av. Francisco Glicério, 661, José Menino


CapsÁlcool e Outras Drogas: Rua Silva Jardim, 354, Macuco


CapsÁlcool e Outras DrogasInfanto-juvenil: Rua Campos Melo, 298, Encruzilhada


CapsInfanto-juvenilda Zona Noroeste: Praça Maria Coelho Lopes, 395, Santa Maria


CapsInfanto-juvenil#tamojunto: Av. Pinheiro Machado, 769, Campo Grande


Outras opções


- Centro de Valorização da Vida (CVV), que atende pelo telefone 188 e chat disponível no sitewww.cvv.org.br


- Grupo de Apoio aos Sobreviventes Enlutados do Suicídio, com encontros agendados para os dias 10 de fevereiro, 13 de abril, 15 de junho, 17 de agosto, 19 de outubro e 14 de dezembro, das 18h30 às 20h30, na Rua Barão de Paranapiacaba, 233, em Santos. O telefone é (11) 97647-0989.


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