Profissionais da Baixada Santista se mobilizam por vacina contra Covid-19: 'Atender quem trabalha'

Diversas categorias, que trabalham de forma presencial, lutam por lista de prioridade para receberem imunização

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  29/03/21  -  09:40
  Foto: Alexsander Ferraz/AT

Após o anúncio, na última quarta-feira (24), de que o Governo do Estado começará a vacinar em abril profissionais da Educação e da Segurança Pública, outras categorias também lutam para entrar na lista de prioridade para a imunização contra a covid-19.


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A batalha do Sindicato dos Bancários de Santos já completou mais de um mês. Com cerca de 4,5 mil profissionais somente na Baixada Santista, a presidente da entidade, Eneida Koury, conta que procurou prefeituras e secretarias de Saúde das nove cidades, mas não teve resposta de todas. Quem se posicionou informou que seguirá a diretriz estadual.


A Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf) também fez esse pedido ao Governo Federal, conta Eneida, mas diante da situação, ainda não foi atendida. A sindicalista argumenta que os serviços bancários são considerados essenciais e destaca que os trabalhadores não pararam na pandemia. Por isso, seria necessária uma atenção a esse público.


“Na Baixada, fizemos um levantamento e soubemos que 300 bancários tiveram covid-19. Mas esses foram os casos que chegaram até a gente. Deve haver mais”.


A sindicalista ressalta ainda que os trabalhadores atendem centenas de clientes diariamente. “Todas as pessoas que são vistas em filas do lado de fora das agências acabam atendidas dentro dos bancos. Além disso, os trabalhadores atuam em ambientes fechados, que são inadequados, porque não têm ventilação natural”.


“Única saída”


O presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista e também vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Omar Abdul Assaf, afirma que a vacinação é a única saída para que trabalhadores possam se manter em seus postos de trabalho, como no caso dos supermercados, ou retomar as atividades, no caso dos lojistas. “A vacina é a única solução que a gente tem enquanto não inventarem um remédio eficaz para combater a covid-19. Portanto, ela tem que atender quem está trabalhando”.


Assaf conta que o setor do comércio, por exemplo, até tentou formar um consórcio para comprar o imunizante e fez uma solicitação para o Ministério da Saúde, mas a atitude foi “malvista”.


“Falaram que queríamos furar fila na época. Mas não é isso. Hoje estou convicto que se a gente vacinasse quem está trabalhando nas farmácias, supermercados e lojas de material da construção, surgiria mais efeito e o resultado seria melhor”.


Transporte


Há três anos, Fábio Branco, 37 anos, passou a trabalhar no volante de um táxi. Mas nunca imaginou que a profissão poderia representar risco para sua saúde e da família. Ele mora com o pai, de 81 anos e a mãe, de 74. “Eles já estão vacinados, mas há essa variante nova. A gente não sabe quem transporta. Levo, por exemplo, pessoas que vão fazer exame de covid-19. Fico preocupado. Acho que devíamos ser incluídos na lista de prioridades”.


O motorista de aplicativo Cleber Silva, 35 anos, também concorda. Há mais de seis meses ele não vê os pais, que têm 64 anos, e sabe que está exposto ao continuar trabalhando. “No novo decreto de Santos, entramos na lista de serviços essenciais, então devíamos ter prioridade. Acabei de transportar um casal que saiu do hospital. Hoje, as corridas que temos são em porta de hospitais. Antes, nosso risco era o assalto. Hoje, é o de ficar doente”.


Ritmo de imunização


A inclusão de mais categorias profissionais no plano de imunização contra a covid-19 traz preocupações, dizem médicos infectologistas, por conta do ritmo de produção e vacinação no Estado.


O infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Leonardo Weissmann, diz que o ideal seria ter imunizante para todos. Porém, como essa não é a realidade no País, a prioridade deve ser destinada a grupos considerados de maior risco para formas graves da doença e óbitos.


“Se for necessária a priorização por categorias, devem ser pensados nos trabalhadores de áreas realmente essenciais. Caso contrário, não haverá um critério e a administração de vacinas vai virar uma bagunça maior ainda”.


Alerta


O médico infectologista Evaldo Stanislau concorda com a inclusão de policiais e também de professores na lista de grupos prioritários. “Concordo que eles venham na frente. Mas, primeiro, deixo claro que o ideal é vacinar todos. A priorização de categorias é uma distorção que reflete a baixa oferta de vacinas”.


Agentes de segurança pública


Os policiais serão imunizados a partir de 5 de abril. Foram incluídos na listagem agentes das polícias Militar, Civil e Científica, escolta penitenciária e efetivos das guardas civis metropolitanas, além de policiais federais.


A medida vai atender 1.400 policiais civis do Deinter-6, que vai de Bertioga à Barra do Turvo. Na Baixada, que envolve seccionais de Santos, Praia Grande e Itanhaém, são cerca de 650 profissionais.


O presidente do Sindicato dos Funcionários da Polícia Civil de Santos e Região (Sinpolsan), Renato Martins, afirma que a medida foi “um justo reconhecimento” para os profissionais que não pararam durante toda a pandemia.


“Com a imunização, os policiais trabalharão com mais tranquilidade, pois em caso de eventual contágio, o risco de agravamento e evolução da doença fica afastado”.


Ainda assim, ele diz que a categoria manterá uma ação ajuizada contra o Estado que visa ao fornecimento de equipamentos de proteção contra a covid-19. 


“No ano passado, o Sinpolsan teve que buscar o Poder Judiciário para obter fornecimento de máscaras e álcool em gel, que até hoje não vêm sendo fornecidos em quantidades suficientes e de qualidade”, acrescenta Martins, lembrando que a categoria chegou a receber álcool em gel vencido.


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