Professores da Baixada Santista discordam de retorno às aulas: 'Impossível ser favorável'

Além do risco de contágio da Covid-19, educadores alertam para condições estruturais das instituições de ensino

Por: Daniel Gois  -  27/01/21  -  13:38
O atendimento aos candidatos às vagas remanescentes será feito por meio eletrônico
O atendimento aos candidatos às vagas remanescentes será feito por meio eletrônico   Foto: Divulgação/PMS

O retorno presencial às aulas têm preocupado professores de todas as esferas de ensino na Baixada Santista. O temor pelo crescimento de casos de Covid-19, aliado a falta de funcionários e estrutura adequada, faz com que educadores sejam contrários a volta dos alunos.


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Professor do ensino fundamental nas redes municipais de Santos e Cubatão, Maykon Rodrigues dos Santos entende como necessário o retorno presencial para fortalecer o aprendizado dos alunos, mas não neste momento.


"Não há qualquer dúvida que o retorno das aulas fará a contaminação aumentar na região. As escolas não têm qualquer estrutura para rastrear contato em caso de contaminação, ou para teste PCR. É impossível ser favorável ao retorno. Ensino se recupera, vidas não", alerta o educador.


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Na última sexta (22), o governo de São Paulo decidiu adiar em uma semana o retorno presencial das aulas na rede estadual de ensino. O início está previsto para 8 de fevereiro, mas as escolas estarão abertas a partir do dia 1º. A retomada deve acontecer com limite de 35% de ocupação e rodízio de alunos.


“Tá faltando faxineiro, merendeiro, funcionários. A gente não consegue construir um trabalho que tenha solidez, continuidade, eficiência, porque a todo momento as coisas mudam sem um planejamento sério. Vivemos fazendo e desfazendo as coisas por aqui. A gente chegou no limite”, lamenta Rafael de Lima Oliveira, coordenador pedagócio da Escola Estadual Dr. Antonio Ablas Filho, em Santos, que opera com ensino em tempo integral.


O Ministério da Educação determinou que as Instituições Privadas de Ensino Superior e da Rede Federal de Educação Profissional retomem as aulas presencialmente a partir de 1º de março. Assim, o ensino à distância ocorreria apenas em "caráter excepcional", sendo que as instituições serão responsáveis pela definição dos componentes curriculares.


"Não concordo com o retorno neste momento. Temos uma normativa do MEC que indica o retorno às atividades presenciais a partir de março. O calendário vacinal vai demorar pra ser completado. Nosso público, que é o jovem, será o último. Como educadores, temos uma responsabilidade muito grande nas nossas mãos", afirma a pró-reitora da Universidade Metropolitana de Santos (Unimes), Elaine Marcilio.


Ensino remoto


No ensino superior, as atividades remotas devem continuar, alternando com as presenciais, conforme a fase do Plano São Paulo que a região se encontrar. Elaine enfatiza que não se trata de uma imposição de início, mas sim da possibilidade de retomada, contemplando a porcentagem permitida.


"Tivemos que implantar o ensino remoto, e não à distância. O professor estava naquele mesmo momento que o aluno teria aula, ministrando no período, tendo contato com os alunos, com intervalos e avaliações. Mesmo quando voltar 100% presencial, vamos continuar com ferramentas virtuais para agregar e ampliar a oferta das informações", reforça a pró-reitora.


Maykon afirma que o rendimento dos alunos caiu consideravelmente sem as aulas presenciais, em especial para alunos mais pobres e sem acesso a internet e celular. Mesmo assim, ele reitera que o aprendizado pode ser recuperado posteriormente.


"O Ensino Remoto se demonstrou muito insuficiente. É inegável o prejuízo ao aprendizado dos alunos e alunas. É um crime o que é feito com eles e elas. Só não é pior do que colocar em risco todos e todas com o retorno às aulas no pico de contágio da pandemia".


Além das condições das escolas, outro problema levantado por Rafael é a evasão escolar, principalmente nos anos finais do ensino fundamental e ensino médio.


"Será necessário um trabalho de recuperação ao longo de muito mais tempo. A urgência que percebo para a volta às aulas presenciais não se deve à necessidade de repor o que foi perdido, mas justifica-se pela perda do vínculo dos alunos com as escolas e pela insuficiência do ensino remoto em promover aprendizado real. O contato pedagógico presencial é fundamental para que o aluno aprenda de acordo com os níveis de exigência de uso do conhecimento no Enem, vestibulares e mercado de trabalho", finaliza.


Resposta


Em nota, a prefeitura de Santos, por meio da Secretaria de Educação, disse que a volta às aulas respeitará todos os protocolos sanitários de segurança necessários e terá o apoio da Secretaria de Saúde. Os cuidados que serão adotados foram divulgados aos integrantes da Comissão Escolar e à população e podem ser conferidos clicando aqui.


Ainda segundo a nota,os testes PCR são ofertados nas unidades de pronto atendimento (UPAs) de acordo com o protocolo do Instituto Adolfo Lutz, que indica a testagem a pacientes entre o terceiro e sétimo dia de sintomas da covid-19.


A prefeitura ressalta que realiza a testagem rápida da covid-19 dos profissionais que atuam nas escolas municipais e entidades subvencionadas desde o último dia 21.


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