Procura por tratamento de câncer cresce na Baixada Santista

Procura de tratamento contra doença aumentou em hospitais santistas que são referência na área; atendimento vai até a madrugada

Por: Egle Cristina & Da Redação &  -  21/06/19  -  14:20
Prospectos para o futuro incluem mais tecnologia nos tratamentos oferecidos pela instituição
Prospectos para o futuro incluem mais tecnologia nos tratamentos oferecidos pela instituição   Foto: Alexsander Ferraz/ AT

A procura por terapia contra o câncer tem crescido em alguns hospitais que são referência na área, em Santos. A demanda dos últimos meses fez com que o atendimento seja agendado até de madrugada.


É o caso do Hospital Beneficência Portuguesa, onde foi constatado um acentuado aumento de pacientes para tratamento oncológico, passando de cerca de 80 sessões de radioterapia por dia para 120, um crescimento de 50%.


Para dar conta, o hospital ampliou as equipes e o horário do serviço, agendando tratamentos das 5h30 até as 2 horas. O acelerador (equipamento utilizado para realizar a radioterapia) só para o tempo necessário para que se faça manutenção técnica.


Para o presidente da entidade, Ademir Pestana, um dos motivos para este fluxo maior é a redução de oferta de prestadores desse serviço na Cidade. “Parte disso se deve ao fechamento do Hospital Vitória. Não deixamos de receber ninguém, mas estamos atendendo de madrugada”, explica.


Depois de apresentar risco estrutural, no final de novembro do ano passado, o prédio do Hospital Vitória foi interditado. O atendimento ambulatorial oncológico é realizado em uma construção na frente do prédio, que permanece fechado até hoje.


A previsão inicial da instituição era que o local voltasse a funcionar depois de obras, que deveriam durar, no mínimo, seis meses. Agora, por nota, o hospital esclarece que não há previsão de reabertura da unidade anexa.


A entidade informa ainda que não houve aumento na demanda e que realiza cerca de 1.200 sessões de quimioterapia por mês. No prédio fechado está um dos equipamentos mais modernos de radioterapia e único na região, que realizava radiocirurgias e tratamentos de precisão, como os de radioterapia guiada por imagem (IGRT) e a de intensidade modulada (IMRT), que permanece parado.


A assessoria de imprensa do hospital informa que a máquina está instalada diretamente na estrutura do prédio, o que inviabiliza sua remoção para outra área e que seriam necessárias instalações físicas especiais para operação.


Fechamento do Hospital Vitória teria prejudicado o setor; ainda não há previsão para reabertura da unidade
Fechamento do Hospital Vitória teria prejudicado o setor; ainda não há previsão para reabertura da unidade   Foto: Nirley Sena/ AT

Ampliação do atendimento


Para melhorar o atendimento, Pestana afirma que, há cerca de dois anos, solicitou ao Ministério da Saúde a doação de outro acelerador, uma vez que o hospital tem uma segunda estrutura livre para receber o equipamento (a casamata que era utilizada pela antiga bomba de cobalto).


“Com isso, dobraríamos o atendimento principalmente para o SUS, pois atendemos pacientes de todas as cidades da região. Infelizmente, não tivemos retorno do Governo Federal até agora”, diz ele, que pretende marcar encontro com o ministro para tratar do assunto.


O Ministério da Saúde informa que apenas a Santa Casa de Santos tem proposta de convênio cadastrada junto à pasta. Quanto à Beneficência Portuguesa, o órgão federal afirma que o hospital não tem convênio cadastrado, por isso não está contemplada no Plano de Expansão da Radioterapia do SUS.


Pelas regras do SUS, hospitais habilitados em oncologia tem que realizar 650 cirurgias oncológicas, 5.300 procedimentos de quimioterapia e 43.000 campos de radioterapia por ano. De acordo com o Ministério, a Beneficência teria realizado, respectivamente, em 2018, 135 cirurgias, 5.621 quimioterapias e 21.620 radioterapia.


Embora a Santa Casa de Santos afirme que não registrou o aumento de pacientes para tratamento oncológico nos últimos meses (e não informe o número de atendimentos realizados), a entidade filantrópica pretende ampliar sua capacidade para as terapias. Em fevereiro, a entidade assinou a compra de um acelerador linear, por meio de convênio com o Ministério, que deve funcionar na casamata existente no hospital, onde estão sendo realizadas algumas adequações físicas para sua instalação.


Rede pública registra crescimento


A rede pública também teve aumento na procura pela terapia contra o câncer. O Departamento Regional de Saúde (DRS) da Baixada Santista, órgão do Governo do Estado, tem quatro unidades de referência no tratamento oncológico pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na região: Hospital Guilherme Álvaro, Santa Casa de Santos, Hospital Santo Amaro e Beneficência Portuguesa.


A regulação dos atendimentos é feita pela Rede Hebe Camargo de Combate ao Câncer. No Hospital Guilherme Álvaro, até maio, a média de atendimento mensal era 24% maior comparada ao mesmo período de 2018, passandode761para945.


Em Santos, em 2018, a Central de Regulação de Vagas recebeu da rede municipal de saúde uma média - mensal de 102 solicitações de avaliações para tratamento em oncologia. Neste ano, a média saltou para 108 solicitações por mês, o que representa um aumento de 6%.


Para o secretário de Saúde de Santos, Fábio Ferraz, o crescimento do atendimento na rede pública também está ligado ao reajuste de valores das mensalidades dos planos de Saúde. “E essa demanda ainda deve aumentar, pois sabemos de planos que reajustaram, agora em maio, mais de 20%, quando a inflação no período foi de 4% a 5%. Isso fará com que mais gente deixe os planos e recorra ao SUS”, avalia.


Ferraz se diz preocupado com o cenário futuro e afirma que, além de otimizar a gestão municipal para atender a demanda, cobra uma ação mais efetiva dos governos estadual e federal para a alta complexidade.


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