Presidente amplia isolamento e deve perder apoio popular, segundo especialistas

Cientistas políticos enxergam Jair Bolsonaro ainda mais fraco após saída do ministro Sergio Moro

Por: Maurício Martins  -  25/04/20  -  18:00
Aliados nas ruas e no Congresso devem abandonar Bolsonaro
Aliados nas ruas e no Congresso devem abandonar Bolsonaro   Foto: Estadão Conteúdo

Um presidente cada vez mais isolado, sem apoio e rachando até os bolsonaristas de base. É dessa forma que cientistas políticos avaliam Jair Bolsonaro, após o pedido de demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, nesta sexta-feira (24). Um dos pilares que fizeram Bolsonaro vencer a eleição - o combate à corrupção - parece ter ruído com a saída de Moro. 


“Sem dúvida foi a maior saída do Governo, tendo em vista que o presidente fincava uma das suas bases na imagem de Moro. Me parece cada vez mais claro que Bolsonaro vem se isolando de seu compromisso de campanha e se aliando com os velhos caciques políticos para se manter no cargo”, avalia o professor universitário de Ciência Política e Direito Administrativo Leandro Matsumota. 


O cientista político Rafael Moreira Dardaque Mucinhato diz que saída de Moro causa profundos impactos tanto na base de sustentação do Governo, quanto no eleitorado. “Moro tem popularidade muito maior que Bolsonaro, uma trajetória pública que lhe deu projeção. Agora, parte do bolsonarismo que ficava indo às ruas em defesa do Governo se divide ao meio”. 


Mucinhato acredita que essa divisão também ocorrerá dentro do próprio Governo. “Moro tem muito prestígio das Forças Armadas, e são os militares que têm chancelado o Governo até então. Isso pode ter sido a gota d’água. A tendência é o isolamento se intensificar”. 


Para o cientista político Marcelo Di Giuseppe, a pressão de Bolsonaro para que Moro deixasse o cargo não é só por causa de investigações contra os filhos dele. Giuseppe diz que conversou com deputados e a saída de Moro era pedida por parlamentares de partidos do chamado Centrão, em troca de apoio ao presidente no Congresso.  


"Sabemos que o Moro era implacável e isso complica quando o meio político quer fazer besteira. O boleto (dos parlamentares) foi esse: a gente precisa que você limpe o caminho para não ter problema no futuro. O preço de ter apoio no Congresso foi maior”. 


Renúncia? 


Considerando a personalidade do presidente, os especialistas duvidam de uma renúncia dele, mesmo sob pressão dos militares. O mais óbvio, segundo os entrevistados, é que um processo de impeachment seja aberto.  


“Caso o presidente queira permanecer no cargo, não resta outra saída, sob o aspecto constitucional, a não ser o alinhamento com o centrão do Congresso Nacional, rasgando assim totalmente o apoio popular com base na pauta que o elegeu”, diz Leandro Matsumota. 


Para Rafael Mucinhato, Bolsonaro adotou a mesma tática de sempre no pronunciamento desta sexta, após as acusações de Moro: a do enfrentamento. “Quando ele está acuado, vai para o confronto, radicaliza, tem uma estratégia d escalada, de retórica autoritária. Tentou desconstruir Moro. Não sei se isso terá eco na sociedade”.


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