Prefeito de Praia Grande defende união das nove cidades da Baixada Santista

'Eu podia fazer coro pelo VLT e ser político populista', diz Alberto Mourão (PSDB)

Por: Sheila Almeida & Da Redação &  -  28/03/19  -  13:47
Recado teria sido dado para cabo eleitoral da campanha de Raquel Chini (PSDB)
Recado teria sido dado para cabo eleitoral da campanha de Raquel Chini (PSDB)   Foto: Alexsander Ferraz/AT

O sistema que garante o direito de um paciente ser internado chamado Central de Regulação de Ofertas de Serviços de Saúde (Cross) é uma bagunça e o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) é inviável para toda a Baixada Santista. Essa é a opinião do prefeito de Praia Grande, Alberto Mourão (PSDB), que defende a união das nove cidades para planejar os pedidos antes de levar ao Governo do Estado. Segundo ele, é preciso elencar prioridades, pois quem pede muito, não leva nada.


Em visita ontem ao Grupo Tribuna, Mourão falou sobre Praia Grande e comentou a necessidade de traçar planos regionais. Segundo ele, sabe-se que, apesar de Santos ser cidade-polo da Baixada Santista, não se deve esperar mais a criação de empregos nela, mas, sim, melhorar a infraestrutura das outras cidades.


Contando a história de uma moradora de Cubatão recém-contratada em Praia Grande, Mourão fez as contas: ela leva duas horas para chegar ao trabalho. Trabalha oito e tem mais uma hora de almoço: são 13. Somando o tempo de sono, 21 horas é o que a pessoa precisa para apenas dormir, acordar, se deslocar e trabalhar – o que rapidamente causará problemas de saúde. Essa conta é incluída nas avaliações de empresários antes de investir na região.


AT - Há quem defenda que o VLT deveria atender Praia Grande antes de outros trechos de Santos. Qual sua opinião a respeito?


Acho que o problema foi nãodiscutiruma ação integrada com começo, meio e fim, do processo de transporte regional. Só de Praia Grande para Santos saem todo dia 16 linhas – por onde chegam 2,5 milhões de passageiros ao mês. Automaticamente, o santista vive o problema de fluxo dentro da Cidade. A única forma é tirar carro e ônibus da rua.Mas são centenas de ônibus todo dia de Praia Grande, São Vicente,Cubatão.


AT - Como o problema de uma cidade é resolvido por outra?


Para soltar o sapato apertado do santista tem que resolver seu entorno. Um eixo troncal ligando só São Vicente até aqui (Santos) não supre a necessidade. Como um estudante sai de Praia Grande e vão pedir para o ônibus dele não entrar em Santos, pela integração? Para Santos resolver seu problema, tem que ajudar as outras cidades a resolver os delas.


AT - Como resolver?


Se eu hoje levasse o VLT até o terminal Tude Bastos, resolveria uma parte do problema, porque todos os ônibus parariam em Praia Grande, não entrariam mais em Santos – desde que a gente resolvesse o fluxo interno. Em vez de buscar o mesmo passageiro em outras áreas da Cidade, eu terminaria com o BRT. O VLT é caro. Veja, para fazê-lo chegar a todas as áreas, são necessários R$ 10 bilhões. Sabe quando vai ter obra desse tipo para 2 milhões de passageiros?Nunca!


AT - Porque BRT?


Eu podia fazer coro pelo VLT e ser político populista, porque todo mundo acha que ele é bonitinho, que é padrão Suíça. Mas sei que não há capacidade financeira, nem do setor privado. Em vários congressos se repete que VLT não fecha equação financeira em lugar nenhum. Só serve para pequenos trechos. Ouvi a alegação de que a EMTU não tinha R$ 9 milhões para um projeto do BRT. Levei como desaforo.


AT - O que é possível fazer?


Uns 30 dias atrás levei a proposta: que se obrigue quem for a futura concessionária da duplicação da Rodovia Padre Manuel da Nóbrega, a colocar faixa de rolagem do BRT, da Curva do Saté a BR 116.


AT - Será possível reunir os prefeitos para tratar tudo isso?


A coisa mais urgente é os prefeitos terem essa consciência, sentarmos com a Secretaria de Assuntos Metropolitanos e Transporte e falarmos que queremos um projeto executivo do sistema de transporte coletivo regional – para ontem. Se o Estado não se dobrar a conchavos pessoais, a gente consegue.


AT - Sobre a saúde, qual o maior calcanhar de Aquiles?


Tinha que reorganizar regionalmente o sistema Cross, que é uma bagunça. Não dá para aceitar mais o que está acontecendo. Eu recebo trauma e neuro, por exemplo. As outras cidades teriam que receber as outras especialidades e não está acontecendo.


AT - O que acontece por conta disso?


Tenho paciente que ficou um mês esperando num leito. Vaga? Não, um exame de cateterismo. Porque se precisar e não tiver no hospital referência, ele não pode ter alta. Fica lá, dormindo, ocupando um leito de clínica geral, cirurgia geral, neuro e trauma e quem chega atropelado não consegue vaga. Em um mês, eu poderia ter atendido cinco, seis. Gritei e sabe o que fizeram? Mandaram de ambulância UTI para São Paulo. Para a Prefeitura, custou R$ 45 mil, que é o valor médio de um leito hospitalar no mês. O exame seria R$ 3 mil. Por isso, não dá para discutir olhando o meu umbigo.


AT - Como resolver?


Com o sistema Cross funcionando. Falei isso para o secretário de Saúde do Estado. Todos nós temos que enfiar dentro do sistema Cross as nossas demanda e oferta – o que não acontece hoje. Ele respondeu que tem que arrumar mesmo. Considerou que é uma bagunça.


AT - É falta de gestão do dinheiro?


É problema de gestão e de repasse. Por exemplo, levei ao Estado uma lista de exames que não têm na Baixada. Não é um caso isolado. Deve dar uns 10 mil exames que não são feitos: angiotomografia, biópsia de rim, broncoscopia. Já virou questão de honra pra mim.


AT - Há novidades do Complexo Andaraguá, aeroporto de cargas que pode gerar empregos?


Aconteceu que não havia índios na região, mas veio uma tribo e se instalou no local do projeto. Por conta disso, a Funai tinha que ser ouvida. Estou há cinco mandatos, nunca teve índio lá. Foi exigido um estudo antropológico e uma empresa foi contratada para conviver com os índios durante um período, entender o comportamento deles, o impacto do empreendimento e negociar com o cacique medidas mitigatórias. Ainda se aguarda o processo. Neste semestre, deve sair a licença permitindo as obras que devem levar dois anos.


AT - Sobre os quiosques da praia, há nova data para início das obras?


Não. A empresa pediu prazo para receber explicações a que ela tem direito. Como temos que responder, não assinamos.Mas as informações estão no edital. Por exemplo,uma das indagações, era se eles iam pagar a outorga a partir da construção dos quiosques ou depois da ocupação. A resposta é depois. A única coisa que será paga antes é a outorga inicial, como é feito em qualquer leilão, que é de R$ 3 milhões, para a Prefeitura.


Logo A Tribuna
Newsletter