Enfermeira perde pai três meses depois de mãe e irmão morrerem por Covid-19: 'Não está fácil'

Maria Carolina da Silva se mostrou indignada com o serviço de emergência de Praia Grande

Por: Carlos da Hora  -  20/07/20  -  15:01
Enfermeira desabafou após perder pai por infarto
Enfermeira desabafou após perder pai por infarto   Foto: Arquivo Pessoal

A técnica de enfermagem Maria Carolina da Silva Novaes, de 39 anos, desabafou após perder o pai, Silvio Dias Novaes, por infarto na última sexta-feira (17). O homem de 60 anos já havia sofrido dois AVCs consecutivos em março, que causaram sequelas. 


Maria já havia perdido a mãe e o irmão após ambos contraírem Covid-19 enquanto se revezavam para cuidar de Silvio em um hospital de Cubatão.


Para cuidar do pai, ela precisou ir morar em Praia Grande. A enfermeira, que contraiu e venceu a Covid-19, se mostrou indignada com o serviço de emergência da cidade na ocorrência que acabou vitimando Silvio. "No Pronto Socorro Quietude, tem uma base do Samu, que fica a menos de 1 km da minha casa - mais ou menos três minutos de carro". De acordo com ela, a ambulância demorou 20 minutos para chegar na residência.


Por já ter trabalhado no serviço móvel, Maria Carolina questionou os profissionais que estavam atuando no momento. "O técnico de enfermagem da unidade básica, já sabendo que era uma parada cardíaca, não trouxe oxigênio. Entrou em casa como se tivesse atendendo um pêlo encravado e mesmo me vendo fazendo respiração boca a boca e massagem cardíaca no meu próprio pai, se negou em usar o cilindro de oxigênio". 


Lembranças 


"Desde pequena, quando meu pai era bombeiro, eu ia trabalhar com ele. Sempre fomos muito ligados. Nesses meses de acamado, ficamos mais unidos ainda. Não morava com ele, mas depois que eu tive alta do hospital, no início de abril, dormia todos os dias com ele, praticamente abandonei minha casa", disse.


Maria Carolina perdeu recentemente a mãe e o irmão por conta da Covid-19
Maria Carolina perdeu recentemente a mãe e o irmão por conta da Covid-19   Foto: Arquivo Pessoal

Maria Carolina ainda relembrou momentos com sua mãe, Alzira da Silva Novaes, de 59 anos, e o irmão, o vigilante Luiz Fagner Dias Novaes, de 31. Ambos vieram a óbito em abril após se infectarem com o novo coronavírus enquanto cuidavam do patriarca no hospital. 


"Minha mãe fez muita faxina para que conseguisse que eu me formasse em enfermagem. Sempre fiz questão de levá-la onde quer que fosse. Tudo o que comprava para mim, comprava para ela também".


Além da mãe, a enfermeira também falou sobre a proximidade com seu irmão. "O Fagner era o caçula, eu a mais velha. Então trocava fraldas, ensinei a andar e falar. Levei ele no primeiro dia de trabalho, fui madrinha de casamento e do filho mais novo dele". 


Por conta da proximidade, Maria conta que seguir a vida sem eles não é uma tarefa simples. "Não está sendo fácil. Seria melhor que tivesse qualquer motivo para reclamar deles, mas creio que mesmo assim seria difícil".


Em nota, a Prefeitura de Praia Grande informa que a Secretaria de Saúde Pública (Sesap) de informa que todos os procedimentos seguiram rigorosamente os protocolos de atendimento estabelecidos pelo Ministério da Saúde. A Central de Regulação do SAMU (Serviço  Móvel de Urgência e Emergência) é regional e fica na cidade de Itanhaém, de onde partem todos os comandos direcionados a diversas cidades da  região, inclusive Praia Grande, ainda assim a Sesap está averiguando todo o procedimento realizado durante a ocorrência.


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