Planos de saúde perdem usuários na Baixada Santista

Região tem queda de 54 mil segurados entre janeiro de 2015 e março deste ano; 42 mil postos de trabalho fecham no mesmo período

Por: Eduardo Brandão & Da Redação &  -  07/07/19  -  18:30
Adesão de usuários baixou em toda a Baixada Santista
Adesão de usuários baixou em toda a Baixada Santista   Foto: Adobestock

Ao todo, 54 mil pessoas deixaram de ter plano de saúde nos nove municípios da Baixada Santista entre 2015 e março deste ano. Os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) apontam queda de 7,4% na quantidade de usuários do serviço.


Não por acaso. Foram eliminados 42 mil postos de trabalho no mesmo período, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Governo Federal. Com isso, a quantidade de assegurados atual é similar à de 2010, apesar de a região ter registrado um aumento populacional de 8%, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


Conforme o mais recente balanço trimestral da ANS, referente a março, a região tem 673.745 usuários de planos privados. Algo próximo aos 675.602 que possuíam esse tipo de serviço no começo da década. O índice de março passado representa a quarta queda anual consecutiva na região, após quase duas décadas de sucessivos aumentos na quantidade de usuários.


O teto da carteira de clientes ocorreu em 2015, quando 727.512 pessoas faziam parte da base de beneficiários da saúde suplementar. A data também coincide com os maiores registros nacional e estadual, que tiveram retração mais amenado que a notada na BaixadaSantista e já voltaram a subir.


Lenta recuperação


O economista e professor da Unisanta, Jorge Manuel de Souza Ferreira, credita à lenta recuperação das finanças regionais um dos fatores que explicam a fuga dos planos de saúde. “Sem dúvida que a perda reflete a crise econômica. O desemprego também tem importância nessa queda, gerada pela crise. Pode-se concluir que a saída para a população mais atingida foi abdicar do plano e utilizar o SUS”.


O desemprego é uma das principais razões para a saída acentuada de usuários, em especial os jovens, mais afetados pela recessão. Isso porque dois em cada três contratos de saúde suplementar do País são de planos empresariais, com custos rateados entre empresas e funcionários.


Para recuperar o fôlego, as empresas do setor aguardam a retomada da economia e a melhoria de setores que oferecem planos de saúde a seus funcionários, como indústria e comércio.


Além da retração do mercado de trabalho, o economista Fernando Chagas inclui o aumento do custo de vida e perda de renda dos trabalhadores como elementos apesar no orçamento doméstico. “Famílias que gozam de estabilidade no trabalho optam por retirar os mais novos do plano em favor dos mais idosos, cujos custos de saúde são altos”. Dessa forma, quem não apresenta sinais graves de enfermidade opta por sair dos planos. “Nas crises, saúde e educação privadas são os primeiros itens cortados”.


Desequilíbrio


Dados da ANS indicam queda de quase 5% no número de assegurados mais novos (até 39 anos), enquanto o grupo a partir de 40anos ampliou-se quase seis pontos percentuais nos últimos cinco anos. Chagas explica que, como qualquer tipo de seguro, os planos de saúde funcionam como um fundo: todos arcam com os custeios gerais e usam apenas uma parte caso precisem. Estima-se que 80% dos recursos de plano de saúde no País são gastos por apenas 20% dos que pagam, geralmente pessoas acima dos 40 anos.


Clubes de benefícios exploram filão


Para fugir do gargalo na saúde pública e evitar filas de espera, quem tem plano particular busca modelos similares com preços acessíveis. Clubes de benefícios que oferecem abatimentos em consultas e exames médicas, entre outras vantagens, surgem como alternativa para 70% da população brasileira não coberta pelo modelo privado.


Por não ser classificado como plano de saúde, esse modelo segue sem regulamentação da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Assim, pode oferecer pacotes de serviços distintos, como assistência funerária, odontológica e alguns benefícios de saúde.


Normalmente, adotam-se preços fixos a um grupo familiar, com número predeterminado de vidas asseguradas—entre cinco e dez pessoas. Não há cobrança diferenciada de acordo com a idade. Contudo, o modelo popular não cobre cirurgias e internações.


O diretor-executivo da Dr.Benefício, Beto Montoro, explica que a proposta da empresa supre a necessidade por um rápido acesso aos atendimentos médicos, odontológicos e aos exames abaixo custo. “Nossa média de espera por consulta é de 4,8 dias. Nos planos de saúde convencionais, há casos que levam mais de 30 dias”.


A gestão de saúde é realizada por meio de parceria com empresas privadas do setor. Os conveniados não pagam o preço cheio dos procedimentos médicos, arcando com cifras similares às que os planos de saúde repassam aos profissionais.


“Há clínicas de alto nível de excelência em que a consulta custa R$ 350,00 e nossos usuários têm acesso por R$ 70,00”.


A vantagem, afirma o diretor-executivo, é o menor tempo para a pessoa ter um diagnóstico. Lançado nesse ano, o programa já conta com mais de 10 mil usuários que passam a ter acesso à rede credenciada na região e em São Paulo. “Chegaremos a dezembro com 50 mil vidas asseguradas”.


Além da gestão em saúde, os conveniados têm descontos em medicamentos, entretenimento (como cinema e teatro) e em postos de combustível. Montoro explica que a utilização é simples: basta entrar em contato com a central, solicitar o serviço médico, agendá-lo, pagar o valor diferenciado e ser atendido.


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