Pandemia reforça histórico de esperança com vacinas: 'Simulam agressão, sem deixar a pessoa doente'

Ao longo da história, as vacinas ajudaram a salvar um incontável número de vidas. Foram tão eficientes para controlar e erradicar doenças que muitos minimizaram seu valor

Por: Tatiane Calixto  -  17/01/21  -  10:10
Israel registrou quase 400 mil casos de covid-19 e 3.210 mortes
Israel registrou quase 400 mil casos de covid-19 e 3.210 mortes   Foto: Reprodução/Unsplash

Ao longo da história, as vacinas ajudaram a salvar um incontável número de pessoas. Foram tão eficientes para controlar e erradicar doenças que muitos minimizaram seu valor nos últimos anos, já que não lembram ou não sabem como é conviver com determinadas enfermidades. A pandemia da covid-19, porém, recolocou os holofotes sobre elas, que se tornaram a esperança da humanidade.


As vacinas, na verdade, são substâncias introduzidas no corpo como uma forma de proteger o organismo de doenças. Segundo o infectologista Leonardo Weissmann, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, elas agem no sistema imunológico - o nosso sistema de defesa - com o objetivo de produzir anticorpos (confira no infográfico).


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“A ideia é proteger nosso organismo para o momento em que ele for agredido por agentes infecciosos, como bactérias ou vírus. Isto é, as vacinas simulam a agressão, sem deixar a pessoa doente, ensinando o organismo a se defender dos inimigos no futuro”.


Para isso acontecer, elas são compostas por agentes parecidos com os microrganismos causadores da doença. Podem ser por meio de partes desse agente ou mesmo pelo próprio agente, mas em uma versão atenuada ou morta.


A partir daí, o organismo começa a produzir anticorpos e, quando for exposto ao vírus ou bactéria de verdade, já saberá como reagir antes que eles se multipliquem ao ponto do corpo adoecer.


Surgimento
Conforme a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), os primeiros vestígios do uso de vacinas, com a introdução de versões atenuadas de vírus no corpo das pessoas, estão relacionados ao combate à varíola no século 10, na China. Porém, a teoria era aplicada de forma bem diferente: os chineses trituravam cascas de feridas provocadas pela doença e assopravam o pó, com o vírus morto, sobre o rosto das pessoas.


Foi em 1798 que o termo vacina surgiu pela primeira vez, graças a uma experiência do médico e cientista inglês Edward Jenner. Ele ouviu relatos de que trabalhadores da zona rural não pegavam varíola, pois haviam tido a varíola bovina, de menor impacto no corpo humano.


A partir daí, ele introduziu os dois vírus em um garoto de 8 anos e percebeu que o rumor tinha uma base científica. A palavra vacina deriva de Variolae vaccinae, nome científico dado à varíola bovina.
Já em 1881, quando o cientista francês Louis Pasteur começou a desenvolver a segunda geração de vacinas, voltadas a combater a cólera aviária e o carbúnculo, ele sugeriu o termo para batizar sua recém-criada substância, em homenagem a Jenner.


Grande feito


“As vacinas representam um dos maiores feitos do homem para humanidade. Nos dias atuais, parece-nos impossível pensar em um mundo sem vacinas na proteção contra doenças infectocontagiosas”, avalia Weissmann.


Sem vacinas, segundo ele, a varíola não teria sido erradicada, por exemplo. Ele lembra também que a vacinação em massa foi responsável pela eliminação da paralisia infantil no Brasil.


“A vacina não defende o organismo somente de quem a recebe, mas também das demais pessoas do convívio social, pela imunidade coletiva, também chamada de 'imunidade de rebanho', quando uma determinada parcela da população se torna protegida, como se formasse uma barreira”.


Queda


Apesar da importância, a cobertura vacinal está em queda. No final do ano passado, A Tribuna mostrou que na Baixada Santista, em 2019, nenhuma das cidades que informaram dados atingiu a meta de vacinação contra a poliomielite. Segundo a enfermeira Núbia Araújo, diretora do Programa Estadual de Imunização do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo (CVE), um fator que leva a essa situação é a própria eficácia das vacinas.


“Muitas pessoas não viveram a época de ver crianças nas ruas com muletas, já associando isso à poliomielite. Nem viram as crianças com tosses compridas e chiado no peito por conta da coqueluche”. Outros fatores são os movimentos antivacina e a falta de informações confiáveis.


Evolução


O desenvolvimento de uma vacina não é uma tarefa fácil e geralmente leva tempo. Porém, na corrida por um imunizante contra a covid-19, as mortes provocadas pela pandemia concentram os esforços dos cientistas. Além disso, o conhecimento acumulado também colabora.


“O período médio de desenvolvimento de uma vacina, que é de sete anos, foi calculado há uma década, quando ainda não tínhamos a tecnologia de hoje. Conhecemos mais tecnologias e a forma de produção melhorou muito”, afirma o infectologista do Hospital das Clínicas, Esper Kallas.


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