Pagamento do FGTS promete deixar comércio da Baixada Santista otimista

Governo Bolsonaro deixou para a semana que vem a divulgação das regras do saque; setores da economia aguardam definição ansiosamente

Por: Rosana Rife & Da Redação &  -  20/07/19  -  01:48
Em 2017, liberação do dinheiro das contas inativas do fundo levou milhões de brasileiros às agências
Em 2017, liberação do dinheiro das contas inativas do fundo levou milhões de brasileiros às agências   Foto: Vanessa Rodrigues/ AT

O Governo Federal divulgará as regras para o saque dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS somente na semana que vem. Mas, nas ruas, não se fala em outra coisa, e já há setores da economia fazendo as contas do quanto essa medida impactará as finanças e turbinará as receitas.


O comércio, por exemplo, espera absorver boa parte dos cerca de R$ 30 bilhões que devem entrar no mercado no momento em que a liberação do dinheiro estiver oficializada.  


“Vai salvar o nosso segundo semestre. Essa medida virá em boa hora para o setor”, diz o presidente do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista, Omar Abdul Assaf.  


Segundo ele, ainda que o brasileiro destine parte do dinheiro para quitar dívidas, sobrará uma parcela ou condições para que ele retome as compras.  


“O dinheiro é do trabalhador e ele fará o melhor uso. E mesmo que o reserve para quitar dívidas, vai se livrar de juros altos e da inadimplência, podendo voltar a consumir”.  


No azul  


Os recursos deverão migrar, primeiramente, das contas do FGTS para bancos, empresas de cartões de crédito e financeiras. Tudo para o consumidor limpar o nome na praça, avaliam os especialistas.  


“O destino principal será esse. Não acredito em grandes volumes destinados ao consumo por conta do alto endividamento que ainda domina o país”, opina o diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac), Miguel Ribeiro de Oliveira.  


Atualmente, 64% das famílias brasileiras encontram-se endividadas, conforme dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC). É o maior patamar desde julho de 2013.  


“A maior parte possui problemas com cartão de crédito. Se elas tiverem uma quantia extra para sair dessa situação, que é terrível por conta dos juros elevados, chegarão ao final do ano mais abertas ao consumo”, avalia o analista de mercado Jason Vieira.  


Portanto, atenção: planeje desde já a utilização dos valores para que o seu FGTS não evapore do dia para a noite.  


“A dica é usar com consciência. Deve ser utilizado para urgências e pagamento de dívidas, uma vez que o FGTS foi criado como reserva estratégica para ajudar os trabalhadores demitidos até o momento de uma recolocação profissional”, acrescenta Miguel. 


Construção civil se preocupa com as novidades 


A liberação dos recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) preocupa o setor da construção civil. O receio é de que falte dinheiro para tocar projetos de criação de novos imóveis no país, principalmente para as obras do Minha Casa, Minha Vida – o programa utiliza verbas do fundo. 


“A liberação dos recursos tem o lado positivo, que pode ajudar na recuperação da economia. Cria quase um 14º salário que o trabalhador poderá contar todo ano”, diz o presidente do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP), Basilio Jafet 


Ele, no entanto, faz ressalvas, uma vez que o fundo é uma fonte de verbas importante para o segmento. E afirma que os representantes do ramo não foram consultados pelo Governo Federal sobre a mudança nas regras do saque do FGTS.  


“Precisamos ter a certeza de que esses recursos não serão afetados. A construção civil representa 10% do PIB. Contribuímos muito para o aquecimento da economia e somos o setor onde a retomada do emprego ocorre de forma mais rápida”.  


O vice-presidente de Habitação Popular do Sindicato da Indústria da Construção Civil (SinduCon-SP), Ronaldo Cury, também apresentou preocupações com a novidade. Segundo ele, a medida reduzirá, no curto prazo, o volume de investimentos para habitação, saneamento e mobilidade urbana. “E coloca em risco a sustentabilidade do fundo a longo prazo”. 


Regras  


Dinheiro  


> Todo mês, o empregador deposita 8% do salário do funcionário que trabalha com carteira registrada  


> Em um ano, o saldo equivale a aproximadamente um salário. Portanto, se você ganha R$ 1 mil, no fim de 12 meses, o montante acumulado nesse período será aproximadamente esse saldo total  


> Para saber o montante que já possui em sua conta, é possível ir a qualquer agência da Caixa Econômica Federal, que é a administradora dos recursos  


> Leve seu CPF e o número do PIS ou o NIT  


> Também dá para baixar o aplicativo FGTS, que está disponível para Android, iOS e Windows Phone. 


 > Quem preferir pode utilizar o site www.fgts.gov.br  


Entenda  


> O FGTS foi criado em 1966 para substituir a chamada estabilidade no emprego  


> Com isso, o dinheiro serviria como uma ajuda para o trabalhador sobreviver em caso de demissão até que encontre um novo emprego  


> Os recursos, até agora, só podem ser retirados em casos específicos como compra da casa própria, aposentadoria e doenças graves 


Em Brasília  


Coube ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, anunciar nesta quinta-feira (18) que os detalhes da liberação do FGTS ficariam para semana que vem, após reunião no Ministério da Economia.


Aos jornalistas, ele disse que os detalhes técnicos ainda são ajustados pela equipe econômica. A tendência é que tudo seja oficializado entre quarta e quinta-feira que vem.


A Caixa contribuiu para esse adiamento. Representantes do banco estatal reclamaram que estava em cima da hora para tirar do papel um plano de atendimento ao público nas agências.


Em 2017, para que 25,9 milhões de trabalhadores retirassem R$ 44 bilhões das contas inativas do FGTS, a Caixa preparou um esquema de atendimento que previu a abertura das agências mais cedo e nos fins de semana, entre os meses de março e julho.


Este ano, a ideia do Ministério da Economia é permitir que os trabalhadores saquem entre 10% e 35% dos recursos das contas ativas do FGTS, dependendo do saldo. Defende-se que a mesma proporção seja aplicada às contas inativas. 


Outra medida em estudo é limitar os saques a demitidos sem justa causa. Hoje, é possível resgatar tudo o que tem no fundo nessa situação. A equipe econômica defende a criação de um limite e, para compensar, permitir que todo ano seja possível sacar uma parcela no mês de aniversário.


Essas propostas foram entregues ao presidente Jair Bolsonaro quarta-feira (17) à noite. Ele será o responsável por bater o martelo.


Também na quinta-feira (18), Onyx Lorenzoni garantiu que o Governo Federal não fará alterações no financiamento das moradias do programa Minha Casa, Minha Vida por conta das novidades no FGTS.


A ideia de liberar as contas ativas do FGTS para saque vem sendo estudada há alguns meses. O objetivo é injetar recursos capazes de estimular a economia, assim como foi feito dois anos atrás, quando o então presidente Michel Temer permitiu os saques de contas inativas também para incentivar o consumo. 


Estima-se que a liberação do saque do fundo garanta ao presidente Jair Bolsonaro um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 1% no primeiro ano do governo. 


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