Pelo segundo ano seguido, o Domingo de Páscoa não poderá ser de casa cheia e muitos encontros terão quer acontecer com ajuda da tecnologia, devido à pandemia. Pior que isso: em vários lares, a data será marcada por luto e tristeza, já que a covid-19 faz mais vítimas a cada dia e o medo da morte segue rondando muitas casas. Porém, no próprio sentido da data é possível encontrar conforto e esperança de que dias melhores vão chegar.
“O maior significado da Páscoa para os cristãos é a vitória sobre a morte”, explica o professor e coordenador do curso de Teologia da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Gerson de Moraes. Segundo ele, a data representa ao mesmo tempo a noção de finitude que a humanidade tem e a dependência de algo maior que isso: o próprio Deus.
“Quando se olha para a Páscoa, ela significa para os cristãos uma vitória sobre a morte, uma possibilidade de rompimento com essa finitude. Ou seja, o túmulo não é o ponto final. O Cristianismo entende que, por meio da ressurreição de Jesus e, da vitória dele sobre a morte, a vitória de quem crê em Jesus também é algo garantido”.
Portanto, conforme Moraes, em um momento como o atual, com a morte e o medo assolando tantas famílias, é importante ter no horizonte a perspectiva de que a vida é mais forte e a morte não significa um fim em si mesmo.
Luz
Em sua mensagem para o Domingo de Páscoa, o bispo diocesano de Santos, dom Tarcísio Scaramussa, frisa que a ressureição do Cristo é a luz que ilumina a humanidade e afugenta os medos. “Para consolo de milhares de pessoas que sepultaram seus entes queridos neste tempo de pandemia, a fé em Cristo ressuscitado remove a pedra da escuridão do túmulo para nos fazer contemplar a luz da Páscoa eterna. O túmulo não é o nosso destino”.
No entanto, o bispo também faz um alerta sobre possíveis túmulos aos que permanecem em vida: o negacionismo e a insensibilidade (leia íntegra ao lado).
Luta
Para o padre Claudio Scherer, que venceu a covid-19 após uma dura batalha nos últimos meses, além de mostrar que a morte não é o fim, a Páscoa também vem para despertar na sociedade a necessidade de renovação, reforçando a oportunidade de sermos melhores.
“A Páscoa é a renovação que a fé cristã e tantas outras religiões oferecem ao homem. Veja que estamos pagando um preço pelos nossos exageros e ganância. Essa nossa índole destrutiva e consumista de estarmos, dia a após dia, exaurindo os recursos naturais. Eesse lado tenebroso e egoísta de não nos importarmos com os outros”, afirma Claudio.
Para ele, este é o momento de renovar a esperança numa humanidade nova e, de fato, agir para que isso aconteça. “Precisamos, com nossas atitudes renovadas, lutar por uma sociedade também renovada, mais humana. É importante olharmos para essa Páscoa do silêncio das nossas casas, do silêncio do nosso trancamento, não com raiva, não com afrontamento às leis e ao que é pedido pelas autoridades, mas tentando entender que é o momento de olharmos para dentro e mudarmos pensamentos e comportamentos”.
Contra indiferença, padre pede ânimo e coragem
Padre Claudio lembra que a vida sempre vence a morte e o bem supera o mal, contanto que todos mantenham o ânimo e a coragem, sem desanimar nem ficar indiferente ao próximo.
“Algo muito comum que temos visto é a indiferença. As pessoas estão vivendo anestesiadas pelos prazeres imediatos do mundo. Enquanto isso, aqueles que vivem nas trevas não estão dormindo. Seguem muito atentos e promovendo discursos de ódio e atitudes de divisão”.
Ele lembra que Jesus lutou por uma sociedade melhor, depois de enfrentar o que era ruim em seu tempo.
“Claro que o Pai tinha uma missão a ele, mas Jesus lutou com muita força contra essa tristeza que é o homem fazendo mal contra a natureza, outros homens e a si próprio. Então, que nós possamos aprender com esse mais um ano trancados, porque às vezes parece que não estamos aprendendo”.
Mensagem de Páscoa -Dom Tarcísio Scaramuss, Bispo diocesano de Santos
“Quem removerá a pedrado sepulcro para nós?” (Mc 16,3)
A pergunta das mulheres que foram ao sepulcro com perfumes para ungir o corpo de Jesus ressoa forte neste momento de luto e de sepultura em que vivemos. Era madrugada e o sol estava apenas despontando. A claridade foi suficiente para perceber que a pedra estava removida e o túmulo, vazio.
Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé ouviram então a notícia que transformou suas vidas e a vida da humanidade: “Não tenhais medo. Buscais Jesus de Nazaré, que foi crucificado. Ele ressuscitou,já não está aqui”. (Mc 16,6)
Esta luz ilumina agora a vida da humanidade e afugenta nossos medos. Para consolo de milhares de pessoas que sepultaram seus entes queridos neste tempo de pandemia, a fé em Cristo ressuscitado removea pedra da escuridão do túmulopara nos fazer contemplar a luz da Páscoa eterna. O túmulo não é o nosso destino. Eles estão vivos, porque Cristo venceu a morte.
A Páscoa é um chamado também para sairmos dos túmulos que nos aprisionam enquanto ainda ficamos algum tempo por aqui.
Túmulos da mentira e do negacionismo. Também naquele tempo mandaram espalhar fake news. Soldados até receberam grande soma de dinheiro para dizer que o corpo tinha sido roubado e, assim,tentar ocultar a luz que brilhana verdade da vitória da vida!
Túmulos da insensibilidadee da crueldade diante do sofrimento, da doença, da fome e da miséria de tantos irmãos deixados à margem do caminho.
Nesta Páscoa, ouçamoso chamado de Jesus: “Lázaro,vem para fora!” (Jo 11,43)
Saiamos à luz. Cristo está vivo!
Feliz Páscoa!