O que os jovens esperam do futuro pós-pandemia do coronavírus

Procuramos seis jovens que responderam e revelaram preocupações pessoais e coletivas

Por: Da Redação  -  17/05/20  -  02:27
Pandemia do coronavírus já vitimou mais de 230 pessoas na Baixada Santista
Pandemia do coronavírus já vitimou mais de 230 pessoas na Baixada Santista   Foto: Matheus Tagé/AT

Dados oficiais indicam que a população jovem na Baixada Santista, entre 18 e 24 anos, está caindo ano após ano. E que até 2030 eles serão 30% do total de quase 2 milhões de habitantes. Atualmente, eles representam 35% dos 1,8 milhão de moradores nos nove municípios.


Mas por trás dos números e das previsões, há meninos e meninas que veem o mundo de forma distinta, que sonham e têm planos, e que estão enfrentando a quarentena de formas diversas.


A Tribuna perguntou a seis jovens da região quais planos tinham para o futuro pós-pandemia, ou o que eles esperavam que fosse o futuro após esse período que estão enfrentando, diferente de tudo que já viveram em suas breves existências.


As respostas são diversas e refletem preocupações pessoais e coletivas, fruto do cotidiano que vivem, mas que não tiram o sonho de ver um ambiente melhor quando a pandemia terminar.


Bruna, Gabriel, Matheus, Fernanda, Lucas e Beatriz têm idades próximas, atividades intelectual e profissional distintas, mas acreditam que o pós-pandemia pode trazer um coletivo melhor, mais solidário e empático. Veja nesta página o que eles disseram.


Gabriel Kuhlmann Sonim, 20 anos, estudante de Engenharia Química


Em tempos difíceis, percebemos o quanto levamos algumas coisas como garantia. Eu não fazia ideia de quanto sentiria falta de atividades como ir à academia, ambiente do trabalho, sair com amigos ou até mesmo pegar o ônibus pra ir à faculdade. Essa é uma das maiores lições que se podem tirar. As dificuldades dessa quarentena passam pela falta de uma rotina e uma necessidade de ser produtivo todos os dias, causando desconforto e até sinais de ansiedade em diversos jovens. Olhando pra frente é fácil enxergar algumas dificuldades óbvias, como a questão financeira e a volta ao ritmo diário. Mas a maior dificuldade que pode aparecer é a volta da "vida normal" adaptada às restrições impostas por essa crise, como as restrições de lugares e o controle do número de pessoas, a eficiência da tecnologia descoberta por empresas no home office, com baixo custo, podendo despertar uma nova prática para muitas. Mas tudo tem um lado positivo e podemos também tirar lições pro futuro. Devemos nos preocupar cada vez mais com a falta de investimentos no setor de saúde e prevenção, que vem sendo sistematicamente cortado com o pensamento de que seria dinheiro "jogado fora". Isso somado à falta de credibilidade nos profissionais das áreas de ciências e pesquisa, que também sofrem com o descrédito de suas práticas.


Lucas Ribeiro Ferreira Santos, 19 anos, estudante de Enfermagem


Sou morador da comunidade aqui do morro do Tetéu, na Zona Noroeste. Eu espero que após o período conturbado que estamos passando, nós, como sociedade, possamos entender melhor o valor das múltiplas camadas sociais e seus integrantes, visto que, assim como o profissional da saúde está na linha de frente na luta contra esse mal, os mais diversos funcionários de padarias, mercados, açougues, os garis e muitos outros estão se arriscando para poder minimizar ao máximo o dano sofrido por todos nós, que estamos em casa. Consciência de classe é necessária! Todos temos nosso valor e isso precisa ser respeitado e valorizado. Também espero que, depois que tudo isso passar, as pessoas que perderam uma pessoa muito próxima por conta dessa doença melhorem e entendam que dias melhores virão e que algumas coisas são importantes demais para desistir. Afinal de contas, quem diria que existem tantos heróis?


Bruna Júlia da Silva de Sousa, 20 anos, aluna do TamTam


Espero para o futuro próximo poder voltar para as aulas do TamTam, dançar balé, jazz, voltar a fazer os comerciais em São Paulo. Tenho muitas saudades dos meus amigos.


Matheus Oliveira, 20 anos, microempreendedor


Eu acredito e confio que após essa pandemia teremos aprendido muitas lições que a socidade estava carente, como a empatia pelo próximo, o amor, afeto e carinho. Também aprendemos muito sobre responsabilidade social, não somente em relação às nossas vidas, como a vida do próximo. Aprendemos a cuidar mais de nossa saúde mental, visto que ela é muito importante em situações tensas como essa, sobre o home office de que ele é possível, sim, enfim... Espero que a sociedade em geral tire algo de bom de tudo isso, e que as coisas melhorem e transmitamos amor cada vez mais. Desejo a todos saúde, sucesso e queria ressaltar que, por mais difícil que pareça, vamos passar por essa juntos e logo, logo voltaremos a ser aquele povo caloroso, amoroso. Fiquem em casa se possível, e se não for possível, tomemos todos os cuidados. Minha gratida a todas as pessoas da linha de frente, profissionais da saúde, profissionais da área de alimentação, profissionais de emergência (bombeiros, policiais, etc).


Fernanda Gabrielli Carvalho, 24 anos, deficiente auditiva, aluna do TamTam


Quero logo voltar pro TamTam, voltar a ensinar libras, voltar a dançar. Tudo isso será muito bom pra minha vida. Quero também fazer curso de maquiagem para ajudar as pessoas lá do teatro. Quero fazer coisas boas, quando acabar essa pandemia, fazer com que elas se sintam bem. Precisamos valorizar a vida, e acho que posso ajudar com isso.


Beatriz Vidal, 19 anos, estudante de Ciências Sociais


O isolamento social trouxe uma série de mudanças em nosso cotidiano, e é claro que estamos todos muito ansiosos para voltar à normalidade. A pandemia escancarou problemas sociais muito maiores do que os relativos à saúde pública, fazendo com que a volta do considerado "normal" que conhecíamos se torne algo indefensável. Embora haja quem diga que o vírus é "democrático" pois atinge a todos, sabe-se que a possibilidade de se defender dele não é igualitária. Enquanto uma parcela da população pode ficar em casa e adotar medidas alternativas para continuar seguindo suas vidas, outra precisou agir como se nada tivesse mudado, muitas vezes tendo que escolher entre morrer de fome ou de coronavírus. Enquanto uma parte de crianças e jovens como eu tenham continuado seus estudos através de educação a distância, outros não possuem acesso à internet ou dispositivos adequados para acompanhar atividades online. O que eu mais espero do futuro pós-pandemia é uma população mais consciente, empática e solidária. Uma população que não ache normal a exploração dos trabalhadores, o sucateamento da educação, a desvalorização dos profissionais de saúde ou a negação do conhecimento científico. Espero, de verdade, poder um dia olhar para o Brasil enxergar um país que se preocupe menos com o lucro e mais com a vida e o bem-estar da sua população.


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