Número de ciclistas mortos na região sobe 68,6% em um ano

Dados do Infosiga-SP apontam 59 óbitos no ano passado, contra 35 em 2018; imprudência e ausência de plano cicloviário integrado são problemas apontados

Por: Eduardo Brandão  -  23/01/20  -  00:28
Só Praia Grande, Guarujá e Mongaguá tiveram redução no número de óbitos com ciclistas
Só Praia Grande, Guarujá e Mongaguá tiveram redução no número de óbitos com ciclistas   Foto: Carlos Nogueira/AT

Utilizar bicicletas para se locomover pelas vias da Baixada Santista está mais letal. O número de ciclistas mortos nas nove cidades da região disparou 68,6% no ano passado, na comparação com 2018. Imprudência de parte dos condutores, aumento da frota, ausência de um plano cicloviário integrado e falhas em ações educativas são pontos citados por especialistas para justificar a escalada dos números.


Na contramão desse indicador, a quantidade total de vítimas fatais no trânsito regional apresentou leve queda de 2,2% no ano passado, na comparação com igual período de 2018. De todos os tipos de veículos, a bicicleta foi o único recorte que cresceu na Baixada Santista entre os dois períodos analisados. Óbitos por atropelamento de pedestres (-8,8%), colisões de motocicleta (-4%) e veículos (-36,7%) tiveram redução.


Os dados foram tabulados por A Tribuna, com base nas informações do Sistema de Informações Gerenciais de Acidentes de Trânsito do Estado de São Paulo (Infosiga-SP). Conforme o relatório, 35 ciclistas perderam a vida no trânsito entre janeiro e dezembro de 2018 e o número saltou para 59 no igual intervalo do ano passado – o mais expressivo número regional nesse indicador desde o início da série histórica, em 2015. Para efeito de comparação, a cidade de São Paulo registrou 36 mortes por usuários de bicicletas no ano passado.



Análise


Homens e jovens continuam compondo a maioria dos óbitos nas vias regionais. O levantamento do Movimento Paulista de Segurança no Trânsito destaca que 94% dos acidentes com mortes no trânsito são causados por falha humana (imprudência, imperícia ou negligência).


O presidente da Associação Brasileira de Ciclistas (ABC), Jessé Teixeira Félix, reconhece a gravidade do problema. Segundo ele, a maior parcela dos acidentes com ciclistas ocorre em trechos curtos e não cobertos por ciclovias.


Apenas três cidades reduziram o indicador: Praia Grande (-11%), Guarujá (-25%) e Mongaguá (sem registro do tipo em 2019). Félix lembra que esses municípios foram os que mais implantaram ciclovias nos últimos anos, cobra ampliação da malha exclusiva para bicicleta e defende campanhas educativas permanentes.


Com o plano de ampliação da malha exclusiva para bicicleta emperrado, Cubatão registrou a maior quantidade de óbitos: 11 casos. No ano anterior, cinco pessoas perderam a vida sobre uma bicicleta – aumento de 120%. São Vicente (400%) e Santos (100%), ambos com 10 casos cada, aparecem na sequência.


Explicação


Para o diretor-presidente da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) de Santos, Rogério Vilani, a fuga de passageiros dos coletivos municipais contribuiu para a escalada de mortes de ciclistas. “Perdemos uma média de 30% usuários (do transporte público). Por ser mais barata, a bicicleta aparece como opção”.


Segundo a Pesquisa de Origem Destino Domiciliar, do Governo do Estado, 15% dos trajetos regionais são feitos por bicicletas. Isso equivale a mais de 300 mil das 2,1 milhões de viagens entre as cidades locais por dia. Em números absolutos, a Baixada Santista tem cerca de 575 mil bicicletas.


Para o sociólogo e especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati, faltam dados mais complexos para indicar os motivos dos acidentes. O especialista também cobra ampliação das faixas exclusivas e políticas cicloviárias adequadas à segurança. “Talvez a gente tenha incentivado o crescimento de um tipo de veículo não motorizado e que apenas expôs os usuários ao risco”.



Posicionamentos


Questionadas por A Tribuna sobre os números do Infosiga-SP, as prefeituras da região afirmam adotar programas de fiscalização, reforço da sinalização viária e campanhas educativas no trânsito.


Bertioga: a Secretaria de Segurança e Cidadania afirma que a redução de acidentes está relacionada aos trabalhos educativos, campanhas publicitárias, ações preventivas e investimento em infraestrutura viária e sinalização.


Guarujá: a Diretoria de Trânsito diz reforçar a sinalização viária no Município e destaca campanhas educativas e projetos de concientização de trânsito nas escolas e nos principais bairros.


Itanhaém: a Secretaria de Trânsito e Segurança Municipal explica que realiza campanhas em escolas públicas particulares mensalmente para conscientização sobre as leis de trânsito e acidentes.


Mongaguá: o Serviço Municipal de Trânsito afirma realizar ações de conscientização no trânsito e estuda criar uma campanha de conscientização de segurança no trânsito para maio.


Praia Grande: prefeitura destaca a redução de 62,2% nos acidentes em vias municipais e atribuiu resultado a ações de engenharia de tráfego (melhorias na sinalização, gestão e infraestrutura viária), fiscalização e educação de trânsito.


Santos: CET-Santos destaca a realização de campanhas educativas no trânsito, como o programa Faixa Viva para travessia segura de vias, e maior rigor na fiscalização para a melhora nos indicadores gerais. Quanto aos ciclistas, o órgão afirma desenvolver ação específica.


São Vicente: Secretaria de Trânsito e Transportes afirma que a metade das ocorrências com ciclistas foi em vias municipais. O órgão diz ter intensificado campanhas aos ciclistas, com foco na conscientização e utilização de equipamentos de segurança.


Peruíbe e Cubatão: não responderam até a publicação desta reportagem.


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