Mesmo com flexibilização, 10% do comércio deve fechar as portas na Baixada Santista

Sindicato do Comércio Varejista da região avalia uma tendência de crescimento nos pedidos de falência ou de encerramento de empresas como reflexo da pandemia

Por: Eduardo Brandão  -  11/06/20  -  21:06
Comércio segue fechado em Santos e aguarda retomada
Comércio segue fechado em Santos e aguarda retomada   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Ao menos uma em cada 10 empresas do setor comercial da região deve fechar as portas mesmo com a flexibilização de segmentos econômicos, aguardada a partir desta quarta-feira (10). O indicador acende o alerta para um eventual agravamento da crise na economia local, já impactada pelas regras de quarentena para frear as taxas de contágio e mortes por Covid-19, bem como indicativos de demissões em massa no Polo Industrial de Cubatão. 


A cifra é uma projeção do Sindicato do Comércio Varejista da Baixada Santista (SincomércioBS), órgão que representa a classe empresarial nas nove cidades da região. Segundo o presidente da entidade, Omar Abdul Assaf, um “volume recorde” de pedido de encerramento de empresas deve ser registrado nas prefeituras e juntas comercias como reflexo direto da regra estadual que permitiu apenas a liberação de serviços essenciais no comércio. 


Assaf diz que nesse período as empresas deixaram de ser sua única fonte de renda, mas mantiveram os custeios de folha de pagamento, aluguel de imóveis e serviços básicos (água, luz, telefonia). “O setor (comercial) pagou um preço muito alto. Não foi o comércio que gerou filas e aglomerações na Caixa (para sacar o abono) e nem ele que fez os ônibus permanecerem lotados”, afirma ele.  


Cálculos da entidade regional cita que 10% dos empresários do segmento não terão condições de manter seus custeios, já que “foram penalizados” com as medidas de quarentena. Assaf acredita, contudo, que o número de falências no setor pode ser ainda maior a partir do segundo semestre deste ano.


Para isso, ele avalia que alguns empresários deverão reativar os empreendimentos apenas para liquidar o estoque e tentar passar o ponto. “Há ainda um grande número de empreendedores que, por falta de recursos, sequer darão entrada ao pedido de falência por não ter coo arcar com os custos”, diz. Com isso, ele indica uma subnotificação de dados oficiais desse indicador.  


Segunndo o Serviço Brasileiro de Apoio às micro e pequenas empresas (Sebrae), ao menos 600 mil empresas desses segmentos no Brasil devem fecharam as portas. Com isso, a entidade avalia que 9 milhões de funcionários devem ser demitidos em razão dos efeitos econômicos da pandemia do novo coronavírus. “Queremos apenas reabrir e tentar retomar a nova realidade. São quase 90 dias que estamos impedidos de funcionar”, acrescenta Assaf.  


O presidente do SincomércioBS acrescenta que o setor está preparado para a retomada do segmento, que já é alvo de estudos pelas administrações locais. Ele cita o caso de São Vicente, que desde o começo do mês permitiu uma retomada gradual das atividades. "O shopping que teve filas no primeiro dia, já está com o fluxo normal. Foi apenas uma demanda reprimida".


Uma liminar (decisão provisoria) da Justiça paulista determinou, nesta terça-feira (9), a cidade retomar às regras estaduais de quarentena sobre o comércio, Segundo a prefeitura de São Vicente, ainda não houve a notificação oficial sobre a decisão.


Desemprego 


Ele explica que quarentena ampliou o número de vagas encerradas no comércio, já que o faturamento do setor despencou. “Nos dois primeiros meses, foram mais 10 mil trabalhadores demitidos. Maio deve somar mais 5 mil. Viemos de uma perda de 45 mil postos de trabalho (durante a crise financeira, iniciada em 2014), que faz com o estoque de demissões (no comércio) ultrapasse a 60 mil pessoas”. 


Ele teme outro efeito da pandemia nas finanças locais. Com a intensão de grandes empregadores, como Petrobras e Usiminas, reduzirem seu quadro funcional, o comércio sentiria imediatamente esse reflexo. Segundo ele, as vendas no setor regional registram o encolhimento superior a 70% nos últimos meses, em comparação ao igual período de 2019, devido às restrições de circulação para conter a escalada do novo coronavírus. 


Setores como vestuários, móveis e gastronomia foram os mais afetados na região. Por mês, a entidade projeta uma perda de arrecadação na ordem de R$ 1 bilhão.  Assaf avalia que a situação do empresário só não é pior porque o governo federal editou medidas provisórias que reduziram a folha salarial e suspensão temporária de contrato de trabalho. “A pandemia despertou nas pessoas um lado humano: empregado e empregador entendem a situação do outro, afinal estão no mesmo barco”.


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