Menina de 3 anos inala metal de lápis e é salva por médico em Santos

Material que prende a borracha foi direto para o pulmão, com risco iminente de perfurações, obstrução de oxigênio e morte. Médicos relatam cuidados com crianças em casa durante a pandemia

Por: Matheus Müller  -  06/06/20  -  15:13
Santa Casa mira hipertensão
Santa Casa mira hipertensão   Foto: Alexsander Ferraz/AT

Quarentena com criança em casa não é fácil. Além do trabalho e dos afazeres domésticos, os pais ainda precisam lembrar de dar aos pequenos a atenção devida, não só pelo lado emocional, mas também para evitar acidentes, às vezes bem peculiares, como ocorreu em Praia Grande, semana passada. 


Uma menina de 3 anos inalou a parte de metal do lápis (onde a borracha fica presa). O material foi direto para o pulmão, com risco iminente de perfurações, obstrução de oxigênio e morte.


“Temos duas vias na região da garganta, uma que leva para o estômago e outra para o pulmão. Se você aspira, vai para o pulmão. Se deglute (engole), vai para o estômago”, explica o médico Fábio Bresciani, da Santa Casa de Santos, que foi o anjo salvador da menina ao realizar uma broncoscopia para retirar o objetivo.


A situação é relativamente comum de ocorrer com crianças, por isso o alerta. É preciso que pais e responsáveis fiquem atentos aos sinais. No caso da ingestão, são dores na garganta, tórax, podendo haver salivação em excesso, quando tem bloqueio no esôfago ou em parte dele. Já na inalação, estão entre os sintomas a dificuldade de respirar e a tosse. 


Ambas as situações, segundo o médico, ocorrem, principalmente, em crianças e adolescentes entre 4 e 12 anos. “Acabam engolindo mais e vai parar no estômago ou esôfago. Por via aérea é mais raro e são poucos os médicos que atuam na Baixada Santista. É um exame (procedimento) mais complexo e difícil de ser resolvido”. 


Mesmo pela boca, o corpo estranho pode parar no pulmão. Bresciani ressalta, apesar de menos comum, o problema também afeta adultos. Mas pelo entendimento do que está ocorrendo, conseguem agir com mais eficiência para afastar o perigo. 


Adultos e idosos


Breciani reforça que problemas dessa natureza são mais difíceis de ocorrer em adultos, pois existe o estímulo de tosse para colocar para fora. “Como por exemplo, quando se come alguma coisa e parece que está sendo afogado, com sensação de sufocamento”.


O médico aponta que é muito comum a casquinha do amendoim parar no pulmão (a pessoa broncoaspira). “Daí tem a crise de tosse e com ela consegue pôr para fora”. 


Em relação aos idosos, ele explica que, principalmente os que têm Alzheimer ou outro tipo de demência, acabam engolindo corpos estranhos. A dificuldade em se expressar agrava o problema, como no caso das crianças. Ele indica as próteses dentárias entre as vilãs. “Geralmente, engolem a prótese que têm aquelas garrinhas de metal. Elas fixam no esôfago e podem causar perfuração”.


Santa Casa tem equipe 24 horas


O diretor administrativo e financeiro da Santa Casa, Augusto Capodicasa, aponta que o hospital mantém uma equipe de plantão 24 horas, todos os dias, para realizar procedimentos do tipo. No entanto, afirma que o hospital não é contratado pelo Estado para prestar esse serviço. “Eu não recebo nenhum valor”, diz. 


Segundo ele, a criança deveria ter sido atendida no próprio hospital Irmã Dulce. Mas, como não foi possível, e devido à urgência do caso, a Santa Casa recebeu a menina. 


Em nota, a Associação Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM), Organização Social (OS) que administra o Complexo Hospitalar Irmã Dulce, afirma que o procedimento de broncoscopia não consta em contrato com a Prefeitura. 


Dessa forma, a SPDM afirma ter buscado na rede municipal um local para o atendimento e a paciente foi encaminhada à Santa Casa. “(Ela) realizou o exame, retornando ao Irmã Dulce para continuidade da assistência”.


Sem passar pelo Cross


Capodicasa ressalta que a paciente em questão foi levada ao hospital santista sem passar pela Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde (Cross) – que é regulado pelo Estado para o encaminhamento de vagas –, devido à emergência. 


“Eu não tenho essa habilitação (no Cross, para o procedimento). A central poderia mandar (a criança) para um hospital em São Paulo. O Cross vai observar onde há vaga no Estado. É lógico, que tem que ser mais inteligente e colocar próximo da origem (do caso)”.


Além de não ter contrato com o Estado para a realização de broncoscopia, Capodicasa ressalta que outros tantos exames e procedimentos encaminhados pelo Cross à Santa Casa, principalmente aos finais de semana, também não constam em contrato e, portanto, são realizados de graça. 


O Estado informou apenas que a criança de três anos não passou pelo Cross. As demais questões não foram respondidas, por exemplo, como o governo pretende pagar aos hospitais que realizam atendimento sem contrato, e os constantes encaminhamentos de pacientes para unidades que não são referência. 


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