Marcos Caseiro: 'Demora dos resultados de exames do coronavírus é uma vergonha'

Infectologista de Santos afirma que é difícil trabalhar sem saber se as pessoas estão infectadas

Por: Maurício Martins  -  27/03/20  -  10:18
Demora dos resultados de exames cria falso cenário na Baixada Santista
Demora dos resultados de exames cria falso cenário na Baixada Santista

“Enquanto não tivermos resultados de exames, será um enorme problema. É uma vergonha isso. A testagem precisa ocorrer rápido. Como trabalhar assim?”. O desabafo é do médico infectologista Marcos Caseiro, de Santos. Para ele, é impossível traçar cenários quando apenas 13 casos foram confirmados na região.


Ele lembra que só pacientes mais graves, internados, colhem exames. Ainda assim, os resultados demoram muito para ficarem  prontos. A Reportagem apurou que há cidades aguardando há 20 dias por laudos do Instituto Adolfo Lutz (IAL), referência do Governo Estadual.


Caseiro diz que pacientes liberados recebem as devidas orientações para os cuidados em casa
Caseiro diz que pacientes liberados recebem as devidas orientações para os cuidados em casa

“Estamos fazendo isolamento social, parando o país, mas não fazemos exames. Não dá para ficar nesse comportamento. O paciente suspeito gasta um monte de insumos de proteção e não temos resultado. As pessoas morrem e não sabemos se é ou não”. Na região, oito mortes suspeitas não tem laudos prontos.


Em 19 de março, Caseiro projetou, em entrevista para A Tribuna, um pico de infecção pelo coronavírus entre o fim de março e início de abril. No pior cenário, falou em 2.137 casos na Baixada Santista, 496 só em Santos. Como base para o cálculo, usou os dados da doença na China. No estado, seriam 52 mil casos e 13 mil só na Capital.


Instituto Adolfo Lutz entregou poucos resultados para a região
Instituto Adolfo Lutz entregou poucos resultados para a região

“Temos um enorme problema. Se amanhã saem todos [os resultados] de uma vez, vão dizer que é um pico, mas não condiz com a realidade, estão atrasados. É difícil fazer projeção sem exames. Pelas características da região, quente e com menos pessoas por metro quadrado, acredito que se mantenha [a projeção do dia 19]. Se passar disso, é um desastre”.


Números irreais 


O também infectologista santista Evaldo Stanislau afirma que projeções de infectados são difíceis, porque há variações dependendo do lugar. Mas, também pontua que os números atuais da região não condizem com a realidade.


"Temos mais de 600 casos suspeitos na Baixada Santista, e apenas 13 confirmados. Ou seja, há nitidamente uma subestimação do tamanho da epidemia que interfere na base de dados. O que percebemos é que os casos estão aumentando de forma acelerada”, diz.


Segundo Stanislau, algumas características regionais podem fazer o número de contaminados aumentar. “Temos moradias subnormais: palafitas, favelas, morros, cortiços no Centro de Santos. Regiões de pobreza extrema que, pela proximidade maior entre as pessoas, torna a disseminação mais fácil”.


O infectologista diz, porém, que não é possível garantir que haverá um pico da doença na Baixada. “Estamos fazendo isolamento para evitar isso. Se ele for bem sucedido, pode ser que a gente consiga diluir. Mas, enquanto não tivermos vacina, vamos ter que lidar com isso, pode ser um período longo. É um cenário imprevisível”.


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